terça-feira, 24 de maio de 2011

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14, 1-13)

Sexta-feira, 20 de maio de 2011 - 17h34min

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"Eu sou o caminho, a verdade e a vida"

A missão de Jesus e a nossa Missão

João 14, 1-13

1. SITUANDO

Nos cinco capítulos que descrevem a despedida de Jesus (Jo 13 a 17), percebe-se a presença daqueles três fios de que falamos na Introdução: a fala de Jesus, a fala das comunidades do Discípulo Amado e na fala daquele que fez a última redação do Quarto Evangelho. Nestes capítulos, os três fios estão de tal maneira entrelaçados que o todo se apresenta como uma peça única de rara beleza e inspiração, onde é difícil distinguir o que é de um e o que é do outro.

Estes cinco capítulos são um exemplo de como as comunidades do Discípulo Amado faziam catequese. Por exemplo, o capítulo 14 é uma catequese que ensina as comunidades como viver sem a presença física de Jesus. Eles faziam isto através de perguntas e respostas. As perguntas dos três discípulos, Tomé (Jo 14, 5), Filipe (Jo 14, 8) e Judas Tadeu (Jo 14, 22), eram também as perguntas das comunidades. Assim, as respostas de Jesus para os três eram um espelho em que as comunidades encontravam uma resposta para as suas próprias dúvidas e dificuldades.

2. COMENTANDO

1. João 14, 1-2: Nada te perturbe!

O texto começa com uma exortação: "Não se perturbe o coração de vocês!" Em seguida, diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" A insistência em conservar palavras de ânimo que ajudam a superar a perturbação e as divergências, é um sinal de que devia haver muita polêmica entre as comunidades. Uma dizia para a outra: "Nós estamos salvos! Vocês estão erradas! Se quiserem ir para o céu, têm que se converter e viver como nós vivemos!" Jesus diz: "Na casa do meu Pai há muitas moradas!" Não é necessário que todos pensem do mesmo jeito. O importante é que todos aceitem Jesus como revelação do pai e que, por amor a ele, tenham atitudes de serviço e de amor. Amor e serviço são o cimento que liga entre si os tijolos e faz as várias comunidades serem uma igreja de irmãos e irmãs.

2. João 14, 3-4: Jesus se despede

Jesus diz que vai preparar um lugar e depois retornará para levar-nos com ele para a casa do Pai. Quer que estejamos todos com ele para sempre. O retorno de que Jesus fala é a vinda do Espírito que ele manda e que trabalha em nós, para que possamos viver com o ele viveu (Jo 14, 16-17.26; 16, 13-14). Jesus termina dizendo: "Para onde eu vou, vocês conhecem o caminho!" Quem conhece Jesus conhece o caminho, pois o caminho é a vida que ele viveu e que o levou através da morte para junto do Pai.

3. João 14, 5-7: Tomé pergunta pelo caminho

Tomé diz: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida!" Três palavras importantes. Sem caminho, não se anda. Sem verdade, não se acerta. Sem vida, só há morte! Jesus explica o sentido. ele é o caminho, porque "ninguém vem ao Pai senão por mim!" Pois ele é a porteira por onde as ovelhas entram e saem (Jo 10,9). Jesus é a verdade, porque, olhando para ele, estamos vendo a imagem do Pai. "Se vocês me conhecem, conhecerão também o Pai!" Jesus é a vida, porque, caminhando como Jesus caminhou, estaremos unidos ao Pai e teremos a vida em nós!

4. João 14, 8-11: Filipe pergunta pelo Pai

"Mostra-nos o Pai, e basta!" Era o desejo de muita gente nas comunidades de João: como é que a gente faz para ver o Pai de que Jesus fala tanto? A resposta de Jesus é muito bonita e vale até hoje: "Filipe, tanto tempo estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece! Quem me vê, vê o Pai!" A gente não deve pensar que Deus esteja longe de nós, como alguém distante e desconhecido. Quem quiser saber como é e quem é Deus Pai, basta olhar para Jesus. Ele o revelou nas palavras e gestos da sua vida! "O Pai está em mim e eu estou no Pai!" Através da sua obediência, Jesus está totalmente identificado como Pai. Ele a cada momento fazia o que o Pai mostrava que era para fazer (Jo 5, 30; 8, 28-29.38). Por isso, em Jesus tudo é revelação do Pai! E os sinais ou as obras de Jesus são as obras do Pai! Como diz o povo: "O filho é a cara do pai!" Por isso, em Jesus e por Jesus, Deus está no meio de nós.

5. João 14, 12-13: Promessas de Jesus

Jesus faz uma promessa para dizer que a intimidade dele com o Pai não é privilégio só dele, mas é possível para todos os que crêem nele. Nós também, através de Jesus, podemos chegar a fazer coisas bonitas para os outros do jeito que Jesus fazia para o povo do seu tempo. Ele vai interceder por nós. Tudo que a gente pedir a ele, ele vai pedir ao Pai e vai conseguir, contanto que seja para servir.

6. João 14, 14-17: Ação do Espírito Santo

Jesus é o nosso defensor. Ele vai embora, mas não nos deixa sem defesa. Promete que vai pedir ao Pai para Ele mandar um outro defensor ou consolador, o Espírito Santo. Jesus chegou a dizer que ele precisa ir embora, pois, do contrário, o Espírito Santo não poderá vir (Jo 16,7). É o Espírito Santo que realizará a proposta de Jesus em nós, desde que peçamos em nome de Jesus e observemos o grande mandamento da prática do amor.

3. ALARGANDO

A Linguagem apocalíptica no Evangelho de João

Durante muito tempo, houve uma identificação entre o João do Livro do Apocalipse (Ap 1, 1.4.9) e o autor do Quarto Evangelho. Pensavam que era a mesma pessoa. Por isso, buscavam acentuar as semelhanças entre o Evangelho de João e o Apocalipse. Por exemplo, a identificação de Jesus como Cordeiro de Deus (Jo 1,29; Ap 5,6.12), e outras. Mas as diferenças são maiores que as semelhanças. Elas mostram que os dois livros não são do mesmo autor. As semelhanças,porém mostram que os dois surgiram dentro de um mesmo ambiente, onde as pessoas tinham uma maneira muito própria de ver o mundo e de se situar frente ao império. Esta mentalidade ou maneira de ver as coisas chamamos de apocalíptica. Ela transparece também nos outros escritos do Novo Testamento. Por exemplo, nos evangelhos sinóticos encontramos discursos de Jesus a respeito daquilo que acontecerá no fim dos tempos (Mc 13; Mt 24; Lc 21). Nestes discursos Jesus usa imagens apocalípticas para falar do juízo final de Deus e da sua vitória definitiva sobre o mal que atormenta as pessoas. É provável que o próprio Jesus falasse dentro desta mesma mentalidade, muito comum na Palestina na sua época.

No Evangelho de João não é só neste discurso, mas Jesus fala o tempo todo em imagens apocalípticas para definir a sua missão. Expressão desta mentalidade são, por exemplo, as seguintes frases de Jesus: "Um pouco de tempo e já não me vereis, mais um pouco de tempo ainda e me vereis" (Jo 16,16); "Saí do Pai e vim ao mundo, deixo o mundo e volto para o Pai" (Jo 16,28). Jesus quer dizer que ele veio do Pai, para, no mundo, ser o nosso defensor, nosso advogado ou Paráclito. Voltará para o Pai, para o mundo do alto, para o enfrentamento definitivo com Satã, chamado de "príncipe do mundo" (Jo 12,31). Depois, Jesus voltará triunfante (Jo 16, 20-22). Para as comunidades do Discípulo Amado, quando Jesus é "elevado" na cruz, ele está voltando para o alto, para junto do Pai (Jo 3, 14-15). A cruz é a glorificação de Jesus, por isso mesmo, quando Jesus for elevado, atrairá todos para si (Jo 12,32). As palavras do Evangelho de João querem dar às comunidades força e coragem para enfrentar as tribulações e as dificuldades, suportadas por aqueles que buscam construir uma vida alternativa numa sociedade violenta (Jo 16,2). A vitória definitiva de Jesus sobre o "príncipe do mundo" está descrita no Apocalipse, onde ele vence o Dragão, "a antiga serpente, chamada Diabo ou Satanás" (Ap 12,9), e faz com que ele seja expulso do céu (Ap 12,1-9). A vitória final já começou no mundo lá de cima! Escutando bem, as comunidades podem até ouvir o canto de vitória que ressoou pelo céu após a vitória de Jesus sobre Satã (Ap 12,10-12). Em breve esta vitória será revelada e manifestada também neste mundo cá de baixo. Todos podem ficar tranquilos e cheios de esperança, porque Jesus venceu e foi glorificado pelo Pai (Jo 17, 5).

Texto extraído do livro "Raio-X da Vida - Círculos Bíblicos do Evangelho de João" (147/148) - dos autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. Publicado pelo CEBI - Centro de Estudos Bíblicos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O Pai, por Rubem Alves

Quando começo a escrever deixo de ser dono de mim mesmo. Fico à mercê de idéias que nunca pensei. Elas aparecem sem que eu as tenha chamado e me dizem: “Escreva!“ Não tenho outra alternativa. Obedeço. Cummings, referindo-se a um livro seu, ao invés de dizer “quando eu escrevi esse livro“, disse “quando esse livro se escreveu.“ Não foi ele... O livro já estava escrito antes, em algum lugar. Ele só fez obedecer as ordens que o livro lhe deu. Nikos Kazantzakis, autor de Zorba, o Grego, confessou que as letras do alfabeto o aterrorizavam. E isso porque, uma vez soltas, elas se recusavam a obedecer as suas ordens. “As letras são demônios astutos e desavergonhados — e perigosos! Você abre o tinteiro e as solta: elas correm — e você não mais conseguirá traze-las de novo para seu controle! Elas ficam vivas, juntam-se, separam-se, ignoram suas ordens, arranjam-se a seu bel-prazer no papel — pretas, com rabos e chifres. Você grita e implora: tudo em vão. Elas fazem o que querem...“

Era meu costume tentar colocar ordem na casa: planejar, determinar de forma lógica e metódica os temas sobre que eu iria escrever. Foi assim que resolvi escrever um livro em que colocaria em ordem e diria tudo o que eu havia pensado sobre a educação. O título seria: A erótica da educação e a educação da erótica. Por cinco anos lutei. As idéias não me faltavam. Mas as palavras se recusaram a me obedecer. A dito livro não queria ser escrito. Wittgenstein passou por experiência semelhante. Por muitos anos ajuntou idéias. Aí, tentou ordená-las sob a forma de um texto filosófico. Eis o que aconteceu, em suas próprias palavras: “Depois de várias tentativas mal sucedidas de fundir meus resultados numa peça única, percebi que eu nunca haveria de ser bem sucedido. O melhor que eu poderia escrever seria nada mais que anotações filosóficas; os meus pensamentos ficavam logo paralisados se eu tentava força-los numa única direção contra a sua inclinação natural.“

Pois eu não tinha intenção alguma de escrever sobre o dia dos pais. Mas, de repente, passando os olhos num livro que uma amiga me enviou, encontrei a seguinte afirmação: “Tomar uma decisão de ter um filho é algo que irá mudar sua vida inteira de forma inexorável. Dali para frente, para sempre, o seu coração caminhará por caminhos fora do seu corpo.“

Aí as idéias puseram a se movimentar por conta própria. Pensei na minha condição de pai. É verdade: pai é alguém que, por causa de um filho, tem sua vida inteira mudada de forma inexorável. Isso não é verdadeiro do pai biológico. É fácil demais ser pai biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu filho (muito embora o filho não saiba disto).

Lembrei-me dos meus sentimentos antigos de pai, diante dos meus filhos adormecidos. Veio-me à mente a imagem de um “ninho“. Bachelard, o pensador mais sensível que conheço, amava os ninhos e escreveu sobre eles. Imaginou que, “para o pássaro, o ninho é indiscutivelmente uma cálida e doce morada. É uma casa de vida: continua a envolver o pássaro que sai do ovo. Para este, o ninho é uma penugem externa antes que a pele nua encontre sua penugem corporal.“ Era isso que eu queria ser. Eu queria ser ninho para os meus filhos pequenos. Queria que meu corpo fosse um ninho-penugem que os protegesse, um ninho que balança mansamente no galho de uma árvore ao ritmo de uma canção de ninar...

Que felicidade enche o coração de um pai quando o filho que ele tem no colo se abandona e adormece! Adormecida, a criança está dizendo: “tudo está bem; não é preciso ter medo“. Deitada adormecida nos braços-ninho do seu pai ela aprende que o universo é um ninho! Não importa que não seja! Não importa que os ninhos estejam todos destinados ao abandono e ao esquecimento! A alma não se alimenta de verdades. Ela se alimenta de fantasias. O ninho é uma fantasia eterna. Jung deveria tê-lo incluído entre os seus arquétipos! “O ninho leva-nos de volta à infância, a uma infância!“ (Bachelard). Aquela cena, a criança adormecida nos braços do pai, nos reconduz à cena de uma criancinha adormecida na estrebaria de Belém! Tudo é paz! Desejaríamos que ela, a cena, não terminasse nunca! Que fosse eterna!

É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de uma criança. É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de um pai. O efêmero e o eterno abraçados num único momento! “Conter o infinito na palma da sua mão e a eternidade em uma hora“: o pai que tem o seu filho adormecido nos seus braços é um poeta! Essas palavras do poeta William Blake bem que poderiam ser suas. Um homem que guarda memórias de ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memórias de um ninho em sua alma tem de ser calma!

Mas logo o pequeno pássaro começará a ensaiar seus vôos incertos. Agora não serão mais os braços do pai, arredondados num abraço, que irão definir o espaço do ninho. Os braços do pai terão de se abrir para que o ninho fique maior. E serão os olhos do pai, no espaço que seus braços já não podem conter, que irão marcar os limites do ninho. A criança se sente segura se, de longe, ela vê que os olhos do seu pai a protegem. Olhos também são colos. Olhos também são ninhos. “Não tenha medo. Estou aqui! Estou vendo você“: é isso o que eles dizem, os olhos do pai.

O que a criança deseja não é liberdade. O que ela deseja é excursionar, explorar o espaço desconhecido – desde que seja fácil voltar. Tela de Van Gogh. É um jardim. No lado direito do jardim, mãe e criança que acabam de chegar. Ao lado esquerdo o pai, jardineiro, agachado com os braços estendidos na direção do filho. É preciso que o pai esconda o seu tamanho, que ele esteja agachado para que seus olhos e os olhos do seu filho se contemplem no mesmo nível. A cena é como um acorde suspenso, que pede uma resolução. É certo que o filho largará a mão da mãe e virá correndo para o pai... E a fantasia pinta a cena final de felicidade que o pintor não pode pintar: o pai pegando o filho no colo, os dois rindo de felicidade...

O tempo passa. Os pássaros tímidos aprendem a voar sem medo. Já não necessitam do olhar tranquilizador do pai. É a adolescência. Ser pai de um adolescente nada tem a ver com ser pai de uma criança. Pobre do pai que continua a estender os braços para o filho adolescente, como na tela de Van Gogh! Seus braços ficarão vazios. Como se envergonharia um adolescente se seu pai fizesse isso, na presença dos seus companheiros! É o horror de que os pássaros companheiros de vôo o vejam como um pássaro que gosta de ninho! Adolescente não quer ninho. Adolescente quer asas. Os ninhos, agora, só servem como pontos de partida para vôos em todas as direções. Liberdade, voar, voar... A volta ao ninho é o momento que não se deseja. Porque a vida não está no ninho, está no vôo. Os ninhos se transformam em gaiolas. Se eles procuram os olhos dos pais não é para se certificar de que estão sendo vistos mas para se certificar de que não estão sendo vistos! Aos pais só resta contemplar, impotentes, o vôo dos filhos, sabendo que eles mesmos não podem ir. Nos espaços por onde seus filhos voam os ninhos são proibidos. Mas eles terão de voltar ao ninho, mesmo contra a vontade. E o pai se tranquiliza e pode finalmente dormir ao ouvir, de madrugada, o barulho da chave na porta: “Ele voltou...“

Mas chega o momento quando os filhos partem para não mais voltar.

Através da minha janela vejo um ninho que rolinhas construíram nas folhas de uma palmeira. A pombinha está chocando seus ovos. Vejo sua cabecinha aparecendo fora do ninho. Mas numa outra folha da mesma palmeira há um outro ninho, abandonado. Esse é o destino dos ninhos, de todos os ninhos: o abandono.

Gibran Khalil Gibran escreveu, no seu livro O Profeta, um texto dedicado aos filhos. Não sei de cor suas precisas palavras. Mas vou tentar reconstrui-las. É aos pais que ele se dirige. “Vossos filhos não são vossos filhos. Vossos filhos são flechas. Vós sois o arco que dispara a flecha. Disparadas as flechas elas voam para longe do arco. E o arco fica só.“

Esse é o destino dos pais: a solidão. Não é solidão de abandono. E nem a solidão de ficar sozinho. É a solidão de ninho que não é mais ninho. E está certo. Os ninhos deixam de ser ninhos porque outros ninhos vão ser construídos. Os filhos partem para construir seus próprios ninhos e é a esses ninhos que eles deverão retornar.

Assim é na natureza. Assim é com os bichos. Deveria ser conosco também. Mas não é. Quem é pai tem o coração fora de lugar, coração que caminha, para sempre, por caminhos fora do seu próprio corpo. Caminha, clandestino, no corpo do filho. Dito pela Adélia: “Pior inferno é ver um filho sofrer sem poder ficar no lugar dele.“ Dito pelo Vinícius, escrevendo ao filho: “Eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua...“

Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora.

Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.

Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira...

Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo...

domingo, 22 de maio de 2011

Professor ou catequista?

Dia 15 de outubro, dia do professor.

Um catequizando encontrou seu catequista e tentou ser gentil.

- Parabéns professor pelo seu dia.

- Não sou professor, sou catequista!

- E qual a diferença?

- Muitas.

- Quais?

- Ah, são muitas. O professor dá aula. O catequista não.

- Então porque o senhor faz chamada no início de cada encontro?

-Para controlar a presença de vocês.

- Mas isso se faz em aula também. Lá na escola também controlam a nossa presença.

- Mas é diferente.

- Diferente por quê?

- Diferente...

- Mas se é diferente, porque a gente se matricula na catequese?

- Não é matrícula, é inscrição.

- Mas a coordenadora e o padre falam em matrícula na catequese.

- Mas na catequese é diferente. Aqui não é uma escola.

- Mas se não é escola, porque é que a gente paga taxa de inscrição para fazer catequese?

- É para manter a igreja, com seus serviços e pastorais. E não é taxa, mas sim, uma contribuição.

- Sim, mas o padre e a coordenadora falam taxa. Ouvi eles dizerem isso. Todo mundo pergunta se a gente já pagou a taxa.

- Não é taxa. Ta errado. Não é assim que devemos tratar aquele valor que muitos pais pagam no início do ano. É uma contribuição. Quem não puder não paga.

- Ah....

- Tem muita diferença entre escola e catequese, muita mesmo.

- Mas se é tão diferente assim, porque usamos caderno e o senhor ainda usa o quadro para se comunicar com a gente? Porque temos que copiar conteúdos?

- Como vocês irão aprender se não for assim? Sim, faço isso, mas é catequese.

- Mas tudo isso a gente também faz na aula.

- Mas é diferente.

- O senhor faz prova também. Lá na escola, é prova toda a hora. Aqui na catequese o senhor também avalia a gente através de prova.

- Mas eu preciso avaliar vocês de alguma forma.

- Mas se não é aula, porque prova?

- Ah menino, já te disse, catequese não é aula. Aula é em escola. Não sou professor, sou catequista.

- Não entendi ainda a diferença...

- Mas tem muitas diferenças...

- Lá na escola a gente também fica numa sala e as cadeiras são colocadas de forma igual ao que acontece aqui na catequese, também tem chamada, quadro, prova. Tudo o que tem aqui tem lá. Não consigo entender a diferença.

- Mas tem diferença, e muita.

- O senhor poderia me explicar quais?

- Já te falei menino, preciso falar de novo?

- Não, obrigado. Mais uma vez, parabéns pelo dia do professor.

- Eu já disse, não sou professor, sou catequista.

- Lá na escola, quando não entendo algo, os professores tentam me explicar até que eu consiga entender. Talvez seja esta a diferença entre o senhor, catequista, e um professor da escola

- Menino, não seja mal criado. Sou seu catequista

- É que lá na escola também me obrigam a fazer algumas atividades. Aqui me obrigam a ir à missa.

- É diferente. Escola é uma coisa, catequese é outra.

- Ah, ta! Não vejo tanta diferença assim, pelo menos no seu modo de agir.

- Menino, aqui na catequese, estamos tentando te mostrar um outro caminho, que a escola na mostra. São objetivos diferentes.

- E qual é o caminho que o senhor está tentando me ensinar?

- O caminho de Deus.

- O que tem de diferente no caminho de Deus, que o senhor ensina, do caminho que a escola ensina?

- Ah menino, já te expliquei, catequese não é escola. Eu não sou professor. Os nossos encontros não são aulas. E se você continuar me questionando assim, vou chamar seus pais aqui e você não vai poder fazer a crisma.

- Vai me expulsar porque eu te questiono?

- Vou.

- Lá na escola eles também chamam os pais para expulsar os alunos. Pensei que na catequese fosse diferente.

Perguntas para debate

1- O que é ser Catequista para o grupo?

2- Nossa catequese se parece com a do catequista da história?

3- Quais as atitudes mais comuns quando estou com os catequizandos?

· Escuta

· Apoio

· Disponibilidade

· Ajuda

· Diálogo

Ou…

· Impaciência

· Cansaço

· Confronto

· Imposição.

4- Os catequizandos “pedem” muitas coisas ao amigo mais velho (=catequista) que os acolhe, que reza com eles, que canta, que prepara as festas, que os anima… Quais as coisas que me deram mais prazer fazer com eles e quais as que me foram mais custosas?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Envelhescência de Mário Prata

Padre Clóvis começou o encontro diocesano com o texto abaixo:
“Envelhescência”
Mário Prata
Se você tem entre 45 e 65 anos, preste bastante atenção no que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá.More…
E, se já passou, confira. Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice.
Quase correto. Esqueceram de nos dizer que, entre a maturidade e a velhice (entre os 45 e os 65) existe a ENVELHESCÊNCIA.
A envelhescência nada mais é que uma preparação para entrar na velhice, assim como a adolescência é uma preparação para maturidade.
Engana-se quem acha que o homem maduro fica velho de repente, assim da noite para o dia. Não!!! Antes, a envelhescência!!!
E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com adolescência? Coloque os óculos e veja como este novo estágio é maravilhoso.

Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de 20 anos.
Os adolescentes mudam a voz. Os envelhescentes também.
Mudam o ritmo de falar, o timbre. Os adolescentes querem falar mais rápido; os envelhescentes querem falar mais lentamente.
Os adolescentes não têm idéia do que vai acontecer com eles daqui a 30 anos. Os envelhescentes evitam pensar nisso.
Ninguém entende os adolescentes … Ninguém entende o envelhescentes… Ambos são irritadiços, enervam-se com pouco.
Acham que já sabem de tudo e não querem palpites nas suas vidas.
As vezes, um adolescente tem um filho: é uma coisa precoce.
Às vezes, um envelhescente tem um filho: é uma coisa “pós-coce”.
Os adolescentes não entendem os adultos e acham que ninguém os entende. Os envelhescentes também não entendem eles.
“Ninguém me entende” é uma frase típica de envelhescente.
Quase todos os adolescentes acabam sentados na poltrona do dentista e no divã do analista. Os envelhescentes, também. A contragosto, idem.
O adolescente adora usar uns tênis e uns cabelos”dá hora”.
O envelhescente também. Sem falar nos brincos. Ambos adoram deitar e acordar tarde. O adolescente ama assistir a um show de artista envelhescente
(Caetano, Chico, Mick Jagger). O envelhescente ama assistir a um show de um artista adolescente.
O adolescente faz de tudo para aprender a fumar. O envelhescente pagaria qualquer preço para deixar o vício. Ambos bebem escondido.
Os adolescentes fumam maconha escondido dos pais. Os envelhescentes fumam maconha escondido dos filhos.

A adolescência vai dos 10 aos 20 anos … a envelhescência vai dos 45 aos 65.
Depois, sim, virá a velhice, que nada mais é que a maturidade do envelhescente.
aqui a alguns anos, quando insistirmos em não sair da envelhescência para entrar na velhice, vão dizer “É um eterno envelhescente”.

Encontro diocesano - Catequese com Adolescentes













Dia 15/05/2011 aconteceu o encontro diocesano, em Guaxupé, cujo tema foi Catequese com Adolescente. O tema foi dirigido pelo Padre Clóvis, assessor diocesano, que conduziu o tema com clareza, as suas abordagens foram bem colocadas conforme o olhar da Igreja.
Em trabalho de grupo, as paróquias apresentaram as melhores práticas, e a equipe diocesana estará analisando e reformulando a caminhada da catequese com adolescentes para toda a diocese.
Participaram 17 catequistas do Setor Alfenas.

sábado, 14 de maio de 2011


Eu sou a porta das ovelhas - Jo 10, 1-10

Sábado, 14 de maio de 2011 - 8h22min
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JESUS É O BOM PASTOR
"Eu vim para que todos tenham vida, e vida em abundância!"
João 10, 1-18
1. Olhar de perto as coisas da nossa vida
No encontro de hoje, vamos meditar a imagem do Bom Pastor. Jesus é o Bom Pastor que veio para que todos tenham vida em abundância! O pastor era a imagem e o símbolo do líder. Jesus diz que muitos se apresentavam como pastor, mas na realidade eram ladrões e assaltantes. Hoje acontece a mesma coisa. Muitas pessoas se apresentam como líder, mas na realidade são ladrões e assaltantes. Pois, em vez de servir, buscam os seus próprios interesses. E, às vezes, têm uma fala tão mansa e fazem uma propaganda tão inteligente, que conseguem enganar o povo. Vamos conversar sobre isto.
SITUANDO
O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si:
1ª comparação: pastor e assaltante (Jo 10, 1-5)
2ª comparação: Jesus é a porteira das ovelhas (Jo 10, 6-10)
3ª comparação: Jesus não é simplesmente um pastor, mas sim um Bom Pastor (Jo 10, 11-18).
Temos aqui um outro exemplo de como foi escrito o Evangelho de João. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10, 1-18) é como um tijolo inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita. Imediatamente antes, em Jo 9, 40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo 10, 19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.
COMENTANDO
João 10, 1-5: 1ª Imagem: entrar pela porteira e não por outro lugar
Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: "Quem não entra pela porteira, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante! Quem entra pela porteira é pastor das ovelhas!" Para entender esta comparação, temos que lembrar o seguinte. Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu rebanho. Um porteiro tomava conta durante a noite. No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saíam atrás dele para a pastagem. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas não se mexiam, pois era uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto. Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá havia o guarda que tomava conta.
João 10, 6-10: 2ª Imagem: Jesus é a porteira
Os ouvintes, os fariseus (Jo 9, 40-41), não entenderam o que significava "entrar pela porteira". Jesus então explicou: "Eu sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes". De quem Jesus está falando nesta frase tão dura? Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo tomar a iniciativa de não seguir o fulano que se apresenta como pastor, mas não busca a vida do povo. É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: "Eu vim para que todos tenham vida, que todos tenham vida plenamente!" Este é o critério!
João 10, 11-15: 3ª Imagem: Doar a vida pelas ovelhas
Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das ovelhas. Agora, diz que é o pastor. Todo mundo sabia o que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer, mas sim o Bom Pastor! A imagem do bom pastor vem do AT. Dizendo que o Bom Pastor, Jesus se apresenta como aquele que vem realizar as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Há dois pontos em que ele insiste. Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Assim, para quem quer vencer sua cegueira é importante conferir a própria opinião com a do povo. Era isto que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7, 49; 9, 34). Jesus, ao contrário, diz que no povo há uma percepção infalível para saber quem é o bom pastor. Os fariseus pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus. Na realidade eram cegos. O discurso sobre o Bom Pastor ensina duas regras de como tirar este tipo de cegueira. 1) Prestar muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2) Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida pelas ovelhas.
João 10, 16-18: A meta onde Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor
Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem, vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. Aqui transparece a atitude ecumênica das comunidades do Discípulo Amado, de que falamos na Introdução.
ALARGANDO
A imagem do Pastor na Bíblia
Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as pastagens (Jr 2, 8; 10, 21; 23, 1-2). Esta crítica dos maus pastores foi crescendo na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo acabou sendo levado para o cativeiro (Ez 34, 1-10; Zc 11, 4-17).
Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio Deus: "O Senhor é meu pastor nada me falta!" (Sl 23, 1-6; Gn 48, 15). Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o seu rebanho (Is 40, 11; Ez 34, 11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: "Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!" (Sl 95, 7). Esperam que Deus venham como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas do rebanho (Ez 34, 17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus suscite bons pastores e que os messias seja um bom pastor para o povo de Deus (Jr 3, 15; 23, 4).
Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom Pastor, diferente dos assaltantes que roubavam o povo. Ele se apresenta também como Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25, 31-46). Em Jesus se realiza a profecia de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que ele faz: "Vão bater no pastor e as ovelhas se dispersarão!" (Zc 13, 7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor, é o cordeiro!
Texto extraído do livro "Raio-X da Vida" - Círculos Bíblicos do Evangelho de João - volume 147/148. Dos autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. Do Centro de Estudos Bíblicos.
Espiritualidade

Padre Josimo, 25 anos de martírio, presente! Zé Vicente

Sábado, 14 de maio de 2011 - 8h33min

por Zé Vicente

Nesse dia 10 de maio de 2011, celebramos 25 anos do assassinato do Pe. Josimo Morais Tavares, quando subia as escadas para a sala da CPT - Comissão Pastoral da Terra, em Imperatriz / MA. Era filho único da viúva, Dona Olinda e tinha então, 33 anos.

Naquele domingo das mães de 1986, eu era membro da CPT no Ceará e estava realizando um trabalho, juntamente com Luizinha Camurça, que também atuava na Secretaria do órgão do Regional, em Fortaleza. Ao recebermos a noticia, ligamos pra D. Aloísio Lorscheider, nosso arcebispo que nos orientou a elaborarmos uma pequena nota comunicando a todas dioceses do Regional NE I, o triste acontecido, lembrando a dimensão do testemunho pascal do mesmo.

Pe. Josimo sofreu várias ameaças, dois atentados e foi executado à bala, por um pistoleiro, a mando de um grupo de fazendeiros da região chamada Bico do Papagaio no Tocantins, onde ele acompanhava toda a situação de conflitos pela posse da terra e pelos direitos dos trabalhadores, como membro da coordenação da CPT.

Como cantor da caminhada, movido pelo testemunho de Josimo, compus a música "Renascerá" em sua homenagem.

"Renascerá, renascerá, o teu sonho, Josimo,

De um novo destino renascerá!

E chegará, e chegará tempo novo sagrado

Há tanto esperado, pra nós chegará!"

Por ocasião do décimo aniversário, em 1996, participei da programação. Este ano, fui convidado pela equipe formada por representantes da CPT, do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), da Organização das Quebradeiras de Côco Babaçu, Sindicatos etc. para marcar presença, novamente, cantando num dos eventos da programação de mais uma Semana da Terra Pe. Josimo, em Augustinópolis / TO e em Imperatriz / MA.

Seminário sobre aquecimento global, oficinas, feira de agricultura familiar, pedágio, vivências, apresentações artísticas, missa, encheram a agenda dos dias 30 de abril a 08 de maio. "Não foi fácil motivar e conseguir apoios, inclusive de setores de nossas Igrejas" lamentava uma das mulheres participantes da coordenação em Imperatriz.

Confesso que vivemos momentos marcantes, tanto em Augustinópolis, na sexta, dia 06, quando cantamos na praça, numa noite chuvosa, com a participação calorosa de trabalhadores, militantes, vários padres, pastores, mulheres idosas, entre elas, Dona Olinda, mãe de Padre Josimo, que ainda vive e mora ali na região. Ao contemplar sua imagem tão pequena, cabelos brancos, silenciosa, vestindo a camiseta comemorativa, com a frase do testamento do filho: "morro por uma Causa justa!", o nosso coração ardeu de emoção.

Em Imperatriz, cantamos com um público vibrante, no Ginásio da Paróquia de São Francisco, eu com a cantora Eliahne Brasileiro, o músico Heriberto Silva e mais vários artista da música e do teatro local. Foi realmente um belo mutirão de arte e memória. A presença do velho líder camponês, Manoel da Conceição, que veio com a família. Ele continua fiel e firme aos princípios da ética e da organização dos trabalhadores, desde muito jovem. Inclusive na última eleição presidencial, fez uma desafiante greve de fome, correndo riscos de vida, por conta da idade, protestando conta a imposição do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, que impôs ao Diretório do Maranhão o apoio a candidata Roseana Sarney.

Um dos momentos emocionantes foi quando convidamos Manoel no palco, para prestar nossa homenagem, dentro da memória pascal de Pe. Josimo. Ele não falou, apenas trocamos um longo abraço e recebeu nosso aplauso.

Na manhã do domingo, dia das mães, nos encontramos com o grupo de pessoas que promoveu o evento, na casa das Irmãs Teresianas, realizamos uma Vivência Mística, com dinâmicas, abraços, canções, poesias e um gostoso almoço compartilhado.

Denise, uma senhora militante, convidou a quem conheceu Josimo, para lembrar alguns traços do mesmo: "era um poeta, tocava violão, gostava de escutar as histórias das pessoas, tinha um jeito manso, gostava de usar aquelas chinelas havaianas..."

No final do dia fomos, com uma equipe menor, contemplar o pôr-do-sol na beira do grande Rio Tocantins. A lua nova também deu o ar de graça sobre nós.

A última estrofe do Samba pra Josimo voltou a minha lembrança, como utopia teimosa, assinada com seu sangue há 25 anos.

"Cada rio formoso lá do Tocantins

Levará teu sonho a todos os confins

E cada braço erguido, conquistando o chão

Terá as energias do teu coração!"

Assim seja!

Fortaleza, 10 de maio de 2011

Zé Vicente - poeta-cantor