quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Linda reflexão de Terezinha Motta Lima da Cruz


Para refletir:
            Quem lidava com Jesus na Palestina tinha dificuldade em vê-lo como presença de Deus. Seus vizinhos diziam: Não é ele o filho do carpinteiro? Não cresceu entre nós? Outros, que ouviam sua fama e sabiam de suas origens, até comentavam: E de Nazaré pode vir alguma coisa boa?
            Conosco ocorre o inverso. Não conhecemos Jesus nas estradas da Palestina. Desde pequenos vemos sua imagem nos altares, cantamos-lhe hinos de louvor, nos ajoelhamos diante dele, adoramos sua presença na eucaristia. Nossa dificuldade não é admiti-lo como Filho de Deus. É vê-lo como muitos o viram na sua terra natal: um homem, alguém igual a nós. Ouvindo isso, é provável que, muito zelosamente, alguns mais versados na doutrina se apressem a corrigir: "Igual a nós em tudo, menos no pecado". Uma grande parte, possivelmente a maioria, não gostará muito nem dessa correção, por achá-la insuficiente. Dirão: Como ele pode ser diferente só por não ter pecado? Ele tem um poder que nós não temos! Sabe tudo! Está acima dessas
coisas humanas! Há um visível mal-estar quando se menciona que Jesus teve de aprender os hábitos e a cultura de seu povo, como todo o mundo, que ele podia se decepcionar, ter medo, ter preferências, dúvidas, dores e necessidades comuns humanas. Nada disso é pecado - caberia direitinho na doutrina - mas parece humano demais para ser digno do Filho de Deus.
            Por conta desse tipo de sentimento é que os evangelhos apócrifos contam histórias fantásticas, lendas de Jesus menino fazendo milagres de todo o tipo, como, por exemplo, soprar passarinhos de barro que saíam voando. Para a imaginação popular, era (é) difícil combinar a idéia de Jesus, segunda pessoa da Trindade, Filho de Deus, com os 30 anos de vida absolutamente comum de um aprendiz de carpinteiro, que em nada se destacou no meio de seus vizinhos. Em vez de se admirar e agradecer pelo magnífico amor aí manifestado por Deus nesse total despojamento, a maioria prefere imaginar um Jesus mágico, capaz de seduzir a todos com um olhar, mostrando desde pequeno que pertence a outra realidade. Mas é bom lembrar que, entre outras coisas, foi
principalmente por esse caráter mágico e sensacionalista que os evangelhos apócrifos não foram assumidos como norma de fé e Palavra de Deus pela Igreja.
            Lembro que certa vez organizamos uma tarde de oração que começava com as pessoas sendo convidadas a rezar reunidas em grupos ao redor de uma figura de Jesus crucificado. Uma senhora se afastou do grupo e foi rezar sozinha. A coordenadora foi ver o que havia e ela lhe explicou que era impossível rezar diante de uma figura tão "herética" que mostrava Jesus de rosto contraído como se estivesse revoltado por estar sendo crucificado. Ela imaginava Jesus sereno na cruz oferecendo seu sacrifício sem nenhum sentimento humano diante da violência, da tortura e da solidão da cruz. Afinal, o Filho de Deus tem de estar acima dessas coisas. Fica, é claro, sem explicação o escandaloso e "inoportuno" grito de Jesus: "Senhor, por que me abandonaste?".
            Em outra ocasião, uma catequista foi chamada à atenção porque estava imaginando o trabalho que Maria deveria ter tido para criar Jesus, com todos aqueles probleminhas comuns de criança, incluindo eventuais febres e dores de barriga. (Que criança não tem isso?) Foi um "Deus nos acuda!", com a catequista acusada de "desconhecer a doutrina" e faltar com respeito à pessoa divina de Jesus.
            De certa forma, é natural que isso aconteça. A Encarnação é tão escandalosa que fugimos dela criando uma imagem etérea de Jesus. É que aí a "loucura" de Deus passou mesmo dos limites. Admitir a total humanidade de Jesus parece um desrespeito porque há coisas em nossa vida que consideramos "menos dignas", mesmo que não sejam pecado e sejam absolutamente normais, humanas e até inevitáveis na vida diária. Esquecemos que a nossa própria natureza humana é obra de Deus e não pode ser pouco digna.
            No entanto, é justamente na Encarnação total, sem faz-de-conta, no pequeno e no grande da vida humana, que o amor de Deus manifestado em Jesus ganha toda a sua surpreendente, desconcertante magnitude! Aí reside o tesouro maior da nossa fé, uma demonstração tão grande do desejo de salvação, que nem conseguimos contemplá-la por inteiro, sem desvios. O poeta evangélico Rubem Alves, numa meditação sobre o Pai Nosso, descreve com muita ternura a beleza que é o menino Jesus precisar do leite de Maria para não passar fome. Ele diz que o Natal é uma espécie de "eucaristia ao contrário": na eucaristia nós nos alimentamos do corpo de Deus, no Natal Deus precisa de um corpo humano, o corpo de Maria, para se alimentar. Depois de crescer, Jesus vai continuar precisando de ajudas humanas tanto para se sentir feliz como para realizar sua missão: precisa do acolhimento de Marta e Maria, da amizade de Lázaro, dos amigos que lhe preparam o local da ceia, da mulher que o cobre com perfume, das casas que o acolhem na qualidade de pregador itinerante, da lealdade daqueles que escolheu para
continuar o trabalho, do barco dos pescadores do mar da Galiléia, do camponês de Cirene que o ajudou a carregar a cruz, de José de Arimatéia, que lhe ofereceu uma sepultura...
Therezinha Motta Lima da Cruz
Vamos perguntar:
1. Quem é Jesus pra mim? Olhando para sua pessoa, o que mais me chama a atenção?
2. Qual a imagem de Jesus que a nossa catequese transmite?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Desenhos para colorir sobre o Natal





O Conteúdo da Iniciação do Cristão


Queremos neste pequeno texto lembrar ao Catequista o conteúdo da Fé cristã.


JESUS CRISTO está no centro da mensagem cristã. A partir de Jesus, vamos entender o sentido da nossa vida, o plano da salvação, nossa missão. Os Evangelhos nos falam de Jesus, do seu agir, do seu falar. Nossa catequese deve pôr o catequizando em contato vivo e pessoal com o Senhor, despertar um grande amor por ele e impulsioná-lo a seguir Jesus e tornar-se um verdadeiro discípulo.

A vida, a morte e a ressurreição de Jesus formam a grande mensagem a anunciar. É o mistério pascal que celebramos na Liturgia e vivemos no dia a dia. A catequese seja extremamente bíblica. O catequizando seja introduzido na leitura da Bíblia para poder viver da própria fonte da revelação de Deus.

A dimensão trinitária da Catequese

Jesus é a revelação de Deus, Pai. “Quem me vê, vê o Pai”, disse Jesus. Toda a pessoa de Jesus está voltada para o Pai. É a vontade do Pai que ele procura. Essa vontade do Pai é a salvação da humanidade, a verdadeira vida dos seus filhos. É um projeto de amor, uma boa notícia. Jesus se entrega à missão de anunciar esse Projeto e dá a própria vida por ela.

 Jesus não é o ponto final, mas é o caminho para seu Pai e nosso Pai.Jesus é a imagem do Pai, a Palavra do Pai, o rosto humano do Pai. A catequese deve não somente tornar Jesus conhecido e amado, mas deve levar o catequizando a amar a Deus que é amoroso e misericordioso.

Toda a vida de Jesus, desde a sua concepção, está, conforme a Bíblia, sob a força do Espírito Santo. Quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo o ungiu para sua missão. Impulsionado pelo Espírito Santo, Jesus foi para o deserto a fim de se preparar para sua missão. E Jesus disse, quando estava na sinagoga em Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres...” e nos prometeu mandar o Espírito, depois da sua ressurreição. 

Não podemos anunciar Jesus, sem também anunciar a força do Espírito sobre ele, sobre a Igreja e sobre cada um de nós. Assim, numa boa catequese, a dimensão trinitária deve estar presente, sem nos perder em definições complicadas difíceis para o povo entender.

Jesus revela também o homem ao homem

Jesus Cristo, imagem do Deus invisível, é também a imagem do ser humano. Devemos crescer rumo à maturidade em Cristo, diz S.Paulo (Ef 4,13). Em Cristo torna-se claro o mistério humano, sua vocação, sua abertura para Deus, suas lutas e até suas tentações.

Jesus nos mostra que nós também somos imagem de Deus e como somos chamados a viver nossa vocação. Ele é nosso guia, a luz que nos mostra o caminho, aquele que nos mostra a nossa dignidade, o nosso valor aos olhos de Deus.

A catequese deve se preocupar com a formação humana, o valor e a autoestima da pessoa, com sua situação, seu sofrimento, sua vida familiar etc. A partir da realidade da sua vida, a pessoa vai encontrar em Cristo uma resposta para suas buscas e angústias.

Jesus anuncia o Reino de Deus

A mensagem de Jesus sobre Deus é uma boa notícia para a humanidade. Jesus anuncia o Reino. Mas, que é, exatamente, o Reino (ou reinado) de Deus que Jesus prega? 

A expressão “Reino de Deus” aparece 120 vezes nos evangelhos (em contraste com a palavra “Igreja” que aparece somente três vezes). Jesus começa a anunciar proclamando: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo” (Mt 4,17).  

Jesus não define o Reino, mas mostra, por sua vida, suas palavras, sua ação, o que é esse Reino. É para os pequenos, os humildes, os pobres, os marginalizados... Seus milagres mostram o que é. Suas parábolas o fazem entender.

O Reino de Deus não tem fronteiras. Será uma árvore grande onde as aves do céu (as nações do mundo) vão fazer seu ninho. O Reino já chegou, mas deve crescer, como dizem diversas parábolas sobre a semente e o joio. Nós estamos agora neste tempo de crescimento e devemos cooperar para que o Reino possa crescer.

Os apóstolos receberam a missão de proclamar essa Boa Nova (Mt 10,7). Depois de Pentecostes, o Reino, sob a força do Espírito, torna-se a perspectiva final da pregação evangélica. O tempo da Igreja é o tempo do crescimento do Reino de Deus até o dia da consumação dos tempos. O Reino de Deus é o grande SONHO DE DEUS. É um Reino de paz, de justiça, de amor e partilha. Então, a vontade de Deus será feita: a salvação, a libertação de todos. 

O anúncio do Reino de Deus dá uma perspectiva à evangelização, à catequese. Exige um dinamismo que olha o aspecto universal da salvação. Ultrapassa as fronteiras da Igreja, abre horizontes ecumênicos e de diálogo inter-religioso, procura construir os valores evangélicas no mundo secular: política, profissão, arte, cultura, educação, no campo social... A Igreja deve estar a serviço do Reino que é universal. Há um grande campo em que o cristão pode atuar, tornando-se realmente discípulo missionário, de que tanto falamos hoje em dia.

O Concílio Vaticano II chamou a atenção para o fato que a Igreja é sinal e instrumento do Reino. Ela mesma e cada um dos seus membros devem viver as exigências do Reino como Jesus ensinou. Mas, ela é também instrumento do Reino e deve trabalhar para que o sonho de Deus possa se realizar.

A Igreja está a serviço do Reino e deve trabalhar junto com todos, também os que estão fora da Igreja, que procuram uma sociedade de justiça, paz e amor.


Inês Broshuis
Comissão Bíblico-Catequética de BH e do Leste 2.
01.12.2012

O cultivo da Espiritualidade do Catequista

O cuidado com a Espiritualidade do Catequista se faz prioridade no Ano da Fé. É a Espiritualidade que mantém acesa a chama do Amor-Encontro com Deus e da Missão do Catequista. Sem espiritualidade o cansaço, o desânimo, o ativismo, tomam conta.


O que é Espiritualidade?

Será importante explicitar aqui, brevemente, o que é a Espiritualidade. A Espiritualidade é o oxigênio do coração. É viver segundo o Espírito. É uma maneira determinada de viver a globalidade da vida, com seus afazeres, dificuldades, objetivos e desafios, orientando-a pela luz da nossa fé cristã. Espiritualidade é nossa dimensão divina em tudo o que é humano.

Numa bela definição, Pe. Adroaldo Palaoro sj, nos diz: “É a espiritualidade que reacende desejos e sonhos, que desperta energias em direção ao algo “mais”; é a espiritualidade que faz descobrir, escondida no cotidiano, a presença amorosa do Deus Pai-Mãe que nos envolve; é a espiritualidade que projeta a vida a cada instante, abre espaço à ação do Espírito, nos faz ser criativos e ousados em tudo o que fazemos e dá sentido e inspiração a cada ação humana, por mais simples que seja; é a espiritualidade que nos desperta e nos faz descobrir que nossa vida cotidiana guarda segredos, novidades, surpresas... que podem dar novo sentido e brilho à vida.
É um modo de “ler” e interpretar a mensagem que cada experiência de vida pode nos comunicar. Essa dimensão espiritual se revela pela capacidade de diálogo consigo mesmo e com o próprio coração, se traduz pelo amor, pela sensibilidade, pela compaixão, pela escuta do outro, pela responsabilidade e pelo cuidado como atitude fundamental”.

Espiritualidade consiste primariamente não na recitação piedosa e humilde de determinados exercícios devocionais religiosos..., mas num modo de se posicionar na vida e ver todas as coisas. Olhar o mundo com os olhos do coração, ver o sagrado mistério da realidade... Então, espiritualidade não é momentos de oração, é a definição mais capenga. Nem se reduz a sacramento, retiro, silêncio...
 
Espíritualidade é o cultivo das coisas do Espírito. A palavra espiritualidade vem de espírito. Na Bíblia, “Espírito” quer dizer vida, movimento, força, presença, sopro, ardor. Espírito é a força que leva a agir. Espiritualidade é uma força que nos anima, inspira. Ela vem de dentro de nós e nos impulsiona para a ação. Na vida do Cristão, esta força é o Espírito Santo. Ele acende em nós o fogo do amor: amor a Deus, amor aos irmãos, amor a Catequese. E o amor nos faz atuar, agir.
           
Quem experimenta o encontro com Deus-Amor deseja estar com Ele. A oração é a conversa mais particular e íntima com Deus, que realimenta e fornece combustível para a dinâmica do encontro permanente com Ele e da leitura da sua presença na vida. Pondo diante de Deus o que somos e vivemos, ele nos ajuda a ver mais claramente, a identificar seu apelo nos chamados sinais dos tempos, que estão aí na nossa história pessoal e na sociedade. A oração mais do que palavras é estar com Deus. Como diz Santa Tereza é “querer estar a sós com aquele que sabemos que nos ama”.

Sem espiritualidade a catequese perde o rumo

Sem o cultivo da Espiritualidade é muito difícil a catequese caminhar bem. As coisas se transformam em rotina, o desânimo vai minando o trabalho, os conflitos tumultuam o grupo. Sem Espiritualidade as pessoas vão ficando endurecidas, descrentes, desgastadas. A Espiritualidade mantém viva o “porquê” e o “para que” somos catequistas. A causa (a paixão por Jesus e pelo Reino de Deus) nos mantém no caminho do seguimento e da paixão pela educação da fé da comunidade cristã.

Quem cultiva a espiritualidade, sente-se habitado por uma Presença, que irradia ternura e amor, mesmo em meio à maior dor. Tem entusiasmo porque sabe que carrega Deus dentro de si. Mesmo com desafios, dores, sofrimentos, um catequista assim sabe-se a caminho e um eterno aprendiz do Amor.

Algumas ações possíveis para o cultivo da Espiritualidade:
- Pode ser preciso realizar algum tipo de formação sobre Espiritualidade (o que é e o que não é; o que é experiência de Deus; a oração cristã...). Mas, é importante ter presente que um curso sobre Espiritualidade não irá resolver o cultivo da Espiritualidade do grupo de catequistas.

- Iniciar todas as reuniões com o grupo de catequistas (da paróquia, da comunidade) com um belo tempo de oração-celebração. Para isso, é importante preparar com antecedência o ambiente e a celebração. O “Catequese Hoje” tem postado belas sugestões em “Tempo da Delicadeza”.

Organizar Manhãs ou Tardes de Espiritualidade, de maneira bem catequética, cuidando da centralidade da Palavra de Deus. Cuidar para ter espaço de silêncio e oração pessoal. É possível convidar alguém para ajudar na reflexão, mas cuidado para não transformar tudo em palestra e lição de moral. Seria bom se fosse planejado uma vez por semestre, pelo menos.

Organizar retiros (um dia, um final de semana) com o grupo de catequista. O catequista precisa sair da rotina diária, ter espaço para saborear o encontro com Deus e consigo mesmo. Retiro não é curso ou palestra. Podemos pedir ajuda de algum pregador. Pode ser agendado uma vez ao ano. Quem experimenta o gosto bom de um retiro não irá fugir dele.

Cuidar especialmente da Acolhida dos catequistas, catequizandos, famílias. Isto é parte integrante do cultivo de uma Espiritualidade da Comunhão.

Desenvolver o cuidado com cada catequista e também catequizando, percebendo cada um como uma delicada obra de arte de Deus. Escutar as pessoas, ser sensível ao que estão passando.

- É necessário aprender a “gastar tempo” diante do Senhor e de sua Palavra. Podemos cultivar a espiritualidade através de pequenas coisas:
a) A oração ao amanhecer e ao dormir;
b) A leitura cotidiana de trechos da Bíblia,
c) Leitura Orante da Bíblia;
d) Ofício divino das comunidades;
e) A contemplação e a adoração silenciosa ao Santíssimo;
f) Os momentos de silêncio interior para escutar os apelos de Deus;
g) A escuta de músicas, orações ou reflexões de um CD de meditação;
h) A participação na Celebração Eucarística;
i)  E outros;

Temos que ter o cuidado para não cair na rotina de usar somente as orações “decoradas” ou simplesmente lidas. É importante rezar a vida e rezar com a vida, trazendo para o nosso interior, portanto, a realidade em que vivemos. Perceber a presença e atuação de Deus na vida, no mundo.

- A oração em comum alimenta em todos a comunhão na vivência em comunidade. A Celebração Eucarística é a que mais expressa e realiza a comunhão com Deus e com os irmãos. Mas a Espiritualidade da Comunidade não se reduz à participação na missa. Toda a vida do cristão deve ser um culto agradável a Deus.

Lucimara Trevizan
Comissão Regional Bíblico-Catequética do Leste 2
15.11.2012

sábado, 15 de dezembro de 2012

belo texto do CEBI



O Natal só tem sentido se aponta para a Ressurreição! (Direção do CEBI)


Reviver a experiência natalina é um convite a ver de novo os sinais da presença divina nas antigas imagens e cenários
Chega o mês de dezembro e com ele se aproxima a celebração de mais um natal e de mais um fim de ano. Nos dias do advento, tempo que antecede o natal, atravessamos espaços litúrgicos sempre em busca de um encontro renovado com Jesus de Nazaré.
Este período sempre traz consigo um convite para revisitarmos caminho e caminhada, perguntar como estamos e como chegamos a este instante da jornada. Talvez, alguns de nós estamos chegando como o casal de Emaús: Desgastados e desalentados da dura caminhada até aqui. Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para o povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam a respeito de tudo, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles, mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo. (Lucas 24, 13-16)
Olhos cansados e desalentados são impedidos de ver, de reconhecer a presença de Jesus. Esta cena serve como um retrato das comunidades cristãs na época em que Lucas escreve seu Evangelho. Em nossos dias também cresce o número de pessoas que não acreditam mais em nada. Sem utopias e sem fé, muitas pessoas se encontram desiludidas com os problemas dentro das igrejas e na sociedade. Tudo isso faz crescer o medo, a violência e a falta de esperança no meio do povo.
O texto do caminho de Emaús tem inspirado não só a metodologia da leitura popular da Bíblia, mas toda a nossa espiritualidade. Nosso objetivo é conduzir o olhar não para o texto, mas para o caminho, para a vida e para os novos horizontes que se abrem a partir dela. Inspirados e inspiradas nesse texto, mais uma vez queremos convidar a todos nós que estamos na caminhada a levantar os olhos e reconhecer a presença do Menino que renasce. Reconhecê-lo no caminho a despeito de todos os sinais de violência, medo, dor e sofrimento. O natal só tem sentido se aponta para a páscoa da Ressurreição!
Reviver a experiência natalina é um convite a ver de novo os sinais da presença divina nas antigas imagens e cenários. Podemos, sob a inspiração do caminho de Emaús, olhar de novo a cena natalina e lá reconhecermos Jesus presente... na estrela que guia sempre no meio da noite escura... nos anjos que aparecem aos pastores e os fazem levantar e seguir em busca... no estábulo em sua tão rica humildade... no abraço de Maria e José diante do menino que mudou todo o curso e planos de suas vidas... e finalmente olhar e ver de novo o milagre de uma criança recém-nascida, pequena, vulnerável e frágil, mas, que traz consigo sinal de vida e esperança.
Com os olhos abertos e corações reaquecidos pela presença de Jesus contemplado na antiga cena natalina, tornemos a olhar ao nosso redor e olhemos outra vez a nosso cenário de vida e de luta! E quem sabe, como o casal de Emaús que voltou ao mesmo cenário onde seus olhos tinham contemplado apenas a morte, agora veremos algo novo, gente reunida declarando: “É verdade! O Senhor ressuscitou!” (v.33,34).  É verdade, uma criança nasceu e nos faz renascer!
Gente reunida declarando que a vida venceu a morte, pequeno grupo que resiste, pois reconhece que Jesus vive e renasce sempre. Isso é natal! Jesus nascendo sempre de novo nesse mistério que envolve a vida.  Que sejam assim nossos grupos, gente da leitura popular da Bíblia, gente reunida com a vida e a fé renovadas pela certeza de Jesus presente nascendo sempre de novo!
Adeodata, Odja e Luiz, Direção Nacional do CEBI


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Re-inventar a catequese
com o entusiasmo de quem descobriu o tesouro
e quer ser um discípulo apaixonado pelo Reino.
Proclamação do Evangelho segundo Mateus (Mt 13,44-46):
O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai vende todos os bens e compra aquela pérola.
Para refletir:
“Há uma história de um homem que corre ao encontro de um monge que está passando pela aldeia: ‘Dê-me a pedra, a pedra preciosa!’ O monge diz: ‘De que pedra você está falando?’ O homem: ‘Ontem à noite, Deus me apareceu em sonho e disse: ‘Um monge estará passando pela aldeia ao meio-dia de amanhã, e se ele lhe der uma pedra que leva consigo, você será o homem mais rico do país. Então, dê-me a pedra!’ O monge remexeu no saco e tirou um diamante. O maior diamante do mundo, do tamanho da cabeça de um homem! E disse: ‘É essa pedra que você quer? Eu a encontrei na floresta. Tome-a’ O homem agarrou a pedra e saiu correndo para casa. Mas não pôde dormir aquela noite. Na manhã seguinte, muito cedo, foi onde o monge estava dormindo,
debaixo de uma árvore, acordou-o e disse: ‘Aqui está o seu diamante de volta. Quero a riqueza que o torna capaz de jogar a riqueza fora’. Isso é o que temos de descobrir se quisermos achar a alegria”
(Anthony de Mello).
Partilhar em grupo:
1. Qual é o seu verdadeiro tesouro, sua alegria?
2. A partir das parábolas, o que é catequizar? Nossos encontros, nosso ministério e nossa vida revelam que somos pessoas que encontraram a verdadeira alegria?
3. Qual a maior riqueza da catequese? O que fazer para ajudar catequista e catequizando a encontrar a verdadeira alegria?
4. Uma frase que sintetize a idéia do grupo sobre esse texto.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Os Católicos e suas velas

Padre Zezinho, SCJ


Os que criticam o uso que nós, católicos, fazemos das velas, deveriam ler melhor suas bíblias. A mística da luz é muito forte no Antigo e no Novo Testamento. Até hoje, por exemplo, lembrança do judaísmo, o candelabro de sete velas carrega enorme significado. Todas as religiões valorizam a luz em forma de tochas, fachos, velas ou fogo. A questão não é, pois, usar ou não usar e, sim, como usar!
Recordemos que o uso das velas em muitas religiões é mística que atravessou séculos. A teologia da luz permeia todas as religiões do planeta. Sugere ortodoxia, doutrina certa, pureza, partilha e misericórdia. Por isso, sabendo que o fogo está ligado à morte e à destruição, mas também é purificação e vida; sabendo que a luz que vem das velas e das tochas mostra caminhos, todas as religiões valorizam o sinal que vem do fogo e da luz. Porque somos iluminados pelo sol, pela lua e pelas estrelas, as religiões passaram a ver sentido místico em tudo isso. Somos como estrelas, ou luas ao redor do grande Sol que é Deus.
Não é diferente no cristianismo, nem na Igreja Católica, onde Jesus nos diz que nós somos a luz do mundo e que nossa luz deve brilhar (Mt 5,14). Ele mesmo se apresenta como alguém que ilumina a vida dos homens e quer que façamos o mesmo (Mt 5,6; Jo 1,4; 3,19). E é por isso que acendemos velas e vemos sentido no gesto de uma vela que se apagou, curvar-se sobre outra para buscar mais luz. No gesto de iluminar nossas liturgias com muitas velas, estamos dizendo alguma coisa: queremos ser luzes e iluminar.
Somos uma religião que pretende ser igreja de iluminados e iluminadores; pessoas que iluminam e que se deixam iluminar; pessoas que se apagadas, buscam a luz do outro para acender-se outra vez, ou encontrando alguém apagado, levam luz a ele.
A idéia de luz na nossa Igreja e no cristianismo está ligada à idéia do missionário que vai iluminar caminhos; do educador; do professor; dos pais, cuja missão é esclarecer, tornar possível o caminhar. O que é mais: mostra as coisas à luz da nossa fé.
Quem acender uma vela no cemitério, no altar ou em casa para um momento de oração, lembre-se disso: foi Jesus quem disse “Vós sois a luz do mundo.”(Mt 5,14). Lanternas não levam, mas apontam o caminho para quem aceita ir!
Apenas, evite o exagero de pensar que, pelo tamanho da vela, ou pelo número delas vai conseguir mais graças ou milagres. Não é o tamanho do gesto e, sim, a intensidade e a pureza dele, que contam. Jesus elogiou a viúva que dava esmola no templo. Era pouco, mas era muito. (Mc 12,41-44). Leia o texto e entenderá o que realmente vale para Jesus!
Certamente não é a quantidade, nem o número de vezes que repetimos uma oração. Podemos até fazê-lo, mas não pensemos que o número de velas ou de preces determina a diferença. Jesus também fala disso, ao notar que os fariseus e os pagãos falavam muito e repetiam palavras à exaustão ( Mt 6,5-7), ensaiavam longas orações e praticavam injustiças em nome da fé ( Mc 12,40). Disse que a punição deles também seria grande… Não estavam lá para iluminar…
FONTE: Padre Zezinho, SCJ

domingo, 25 de novembro de 2012

 Estamos reunidos aqui em casa para mais uma reunião da equipe de coordenação de catequese do Setor Alfenas

Reunião Setorial de Catequese

Dia 25 de novembro de 2012
Casa do Luiz Sergio
Pauta:
-Sugestão do Vanderlei
-Avaliação do curso Bíblico e do curso de coordenadores
-Avaliação da Reunião Setorial
-Planejamento 2013

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ah, se soubéssemos viver essa lição:


“E foi então que apareceu a raposa: (...)
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer “cativar”? (...)
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços…”
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo… (...)
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
- O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo. (..)
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
(Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe)

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


Dos cadernos de formação

A relação Catequese-Liturgia
A palavra liturgia vem da língua grega e é composta de dois elementos: leitos, que quer
dizer público, e érgein, que significa fazer. Juntando-se estes dois elementos pelo radical e acrescentando-lhes o sufixo formador de substantivos, tem leit-o-erg-ia ou leitourgia. O primeiro elemento leitos é derivado da palavra láos, que significa povo e o segundo se refere ao substantivo érgon, que quer dizer obra, trabalho. Do substantivo liturgia nasceu o termo liturgos (litourgos) - funcionário público, - e o verbo litourgein, - exercer função pública. De láos (povo) origina-se laico, laical, leigo. Portanto, liturgia significa “obra do povo”, serviço comunitário (Cf. 2Cor. 9, 12; Hb 7,7.14).
Ao longo da história, muitas concepções revelam problemas na interação entre catequese e liturgia. Vejamos algumas delas:
• A Catequese entendida como aula, doutrinação, ensino teórico que deve primar pelo rigor e pela memorização de temas e citações.
• Uma catequese sacramentalista: voltada tão somente para a recepção dos sacramentos.
• Imposição da fé e dos Sacramentos: a catequese foi imposta muitas vezes em nome de um tradicionalismo que impunha a obrigação de cumprir um preceito (desvinculado da vida).
• Durante muito tempo a catequese ficou restrita às crianças, criando aquela concepção:
“catequese é coisa de criança”.
• Em diversas épocas, a catequese (Eucaristia e Crisma) não levava à iniciação à fé e à vida eclesial, mas se tornava conclusão da vida cristã, uma espécie de “formatura”.
• Uma catequese muito abstrata e teórica sem símbolos e sem uma dimensão orante e
celebrativa.
Tudo isso dificultou o diálogo entre liturgia e catequese, que começaram a ser vistas como duas realidades independentes. Dadas as dificuldades, alguns desafios na interação catequese e liturgia emergem a cada dia. Eles merecem atenção e disposição para poder mudar a realidade de forma progressiva e sistemática:
1. Consolidar a ligação entre Fé e Vida, tanto na catequese quanto nas celebrações litúrgicas;
2. Romper com a concepção reducionista de catequese para os sacramentos;
3. Rever a metodologia usada na catequese, para que os encontros sejam sempre celebrativos, orantes, simbólicos;
4. Re-pensar as estruturas físicas onde acontece a catequese, para que se tornem espaços
propícios para celebrações;
5. Questionar os modismos litúrgicos e celebrações que comunicam muito pouco do essencial da fé e que transformam a liturgia em teatro, show ou espetáculo.
6. Buscar um novo itinerário para a Iniciação Cristã, introduzindo o catequizando na vida da comunidade recuperando a riqueza do catecumenato, que fica como horizonte para a catequese;
7. Celebrar em comunidade os momentos fortes e as datas especiais do calendário litúrgico, envolvendo a comunidade, os catequizandos e os pais;
8. Superar definitivamente o modelo tradicional de catequese como doutrinação;
O papel da liturgia na história da salvação e na vida da Igreja foi determinante para dar o sentido e o significado para a catequese. O próprio Vaticano II, na Constituição sobre a Sagrada Liturgia trouxe uma iluminação para a relação catequese-liturgia. Hoje, pode-se dizer que a liturgia atua como fonte e ponto alto ao qual tende a catequese. E desta afirmação derivam outras considerações. Vejamos:
* O centro da catequese é o Mistério de Cristo;
* O lugar de encontro com a pessoa e o Mistério de Cristo é na Palavra de Deus, que tem lugar privilegiado na Liturgia;
* A liturgia é fonte da catequese (SC 5), porque também é nela “que se tomam as leituras que são explicadas na homilia, e os salmos que se cantam, as preces, as orações e hinos litúrgicos são penetrados do seu espírito, e dela recebem seus significado as ações e os sinais” (SC 24);
* A importância do Ano Litúrgico, com seus tempos e festas, como fonte de catequese.
* A catequese sistemática, conforme as suas exigências e conforme o costume, se dá fora da liturgia.
A liturgia revela a presença de Jesus que vem a nós através do alimento da Palavra: “O
Cristo está presente na palavra porque é ele que fala quando na Igreja se lêem as Escrituras” (SC 7). Seria bastante viável uma formação litúrgica para a escuta. Numa sociedade cada vez mais barulhenta e inundada de vozes, o silêncio litúrgico se faz necessário.

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Dos cadernos de formação


Eliminando as imagens distorcidas sobre Jesus
Durante muito tempo, a catequese deixou de questionar as imagens de Deus presentes na cabeça das pessoas. Muitos acreditam num Jesus super-homem, que não tem nada a ver conosco e que resolve as coisas num passe de mágica. Facilmente a imagem que as crianças trazem, desde suas famílias, é de um Jesus diferente delas, bem semelhante aos super-heróis, um ser espiritual, desligado de todas as coisas do mundo, meio angélico, que resolve as coisas num segundo e que não sente dor, com sentimentos totalmente diferentes, pensamentos totalmente desvinculados do seu meio social. Há até quem diga que Jesus não sofreu no caminho da cruz porque Ele era Deus e os pregos não doeram em suas mãos e pés. Ora, Jesus não veio representar um teatro. Ele não fingiu
ser humano, nem camuflou sua divindade num rostinho humano, à moda da sociedade que cria mutantes com poderes especiais, como vemos em filmes e novelas.
Para salvar a divindade de Jesus muitos assassinam a sua humanidade. E dizem facilmente:
“Jesus sabia disso e daquilo, Ele era Deus...”. Jesus foi cem por cento Deus e cem por cento homem, diferente dos que acreditam que ele tenha sido cinqüenta por cento Deus e cinqüenta por cento homem. Sua humanidade não interferiu nem prejudicou sua divindade e vice-versa. Leonardo Boff explica: "Tão humano assim, só poderia ser divino". Nesta linha, o Documento de Aparecida também explicita: “Nossa fé proclama que ‘Jesus é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem’” (DA 392).
Por detrás da concepção de que Jesus não foi verdadeiramente homem, existe uma
Cristologia falsa, descomprometida e muito perigosa para a evangelização, principalmente na nossa realidade brasileira. Se cremos num Jesus diferente dos humanos, podemos facilmente nos esquivar do seu seguimento, da sua proposta e das suas atitudes e discursos; podemos facilmente dizer que Jesus fez o que fez, disse o que disse, porque Ele era diferente, era somente Deus, um ser com outra identidade que está acima de nós humanos. Podemos pensar que nós, pobres seres humanos, não podemos nem pensar em ter atitudes como as que Ele teve porque somos diferentes dele em
identidade. Somos humanos e ele não era. Concretamente, é preciso deixar claro que Jesus pensava a vida como as pessoas pensam, brincava, quando criança, como as crianças brincam; comia, dormia, tinha necessidades biológicas e psicológicas como todas as pessoas têm, e nem por isso deixou de ser Filho de Deus. Jesus foi normal. Somos nós que, muitas vezes, por ignorância, distorcemos a sua imagem. Em Jesus tudo o que é autenticamente humano aparece: a ira e alegria, bondade e dureza, amizade e indignação. Participou de todos os nossos sentimentos e fatos comuns da vida como a
fome, sede, cansaço, frio e calor, a vida insegura e sem teto, as lágrimas (Lc 19,41), a tristeza e o temor (Mt 4,1-11). É um homem que experimenta a crise, a angústia, o desespero, a esperança... ao longo do viver. Experimenta os limites do viver. Ama a vida, o mundo, as pessoas. Tem sentimentos profundos: é fiel, tem senso de humor, é sensato e tranqüilo (Lc 20,20-26; 4,28-30), é sentimental (Lc 7,11-15) é emotivo (Jo 11,15-17). E firme e agressivo(Mt 10,34; 11,12), justo e misericordioso. Viveu o pavor e a angústia da morte violenta.

sábado, 27 de outubro de 2012


Bartimeu, o cego de Jericó, discípulo modelo para todos nós (Mc 10,46-52) - Mesters e Lopes
por CEBI Publicações

BARTIMEU, O CEGO DE JERICÓ, DISCÍPULO MODELOPARA TODOS NÓS
Marcos 10,46-52

Texto extraído do livro ''CAMINHANDO COM JESUS'' - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos - Coleção A Palavra na Vida 184/185. CEBI Publicações. Mais informações emvendas@cebi.org.br
  
COMENTANDO
Finalmente, após longa travessia, chegam a Jericó, última parada antes da subida para Jerusalém. O cego Bartimeu está sentado à beira da estrada. Não pode participar da procissão que acompanha Jesus. Mas ele grita, invocando a ajuda de Jesus: "Filho de Davi! Tem dó de mim!" O grito do pobre incomoda. Os que vão à procissão tentam abafá-lo. Mas "ele gritava mais ainda!" E Jesus, o que faz? Ele escuta o grito, para e manda chamá-lo! Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o pobre a chegar até Jesus.
Bartimeu larga tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Jesus pergunta: "O que você quer que eu faça?" Não basta gritar. Tem que saber por que grita! "Mestre, que eu possa ver novamente!" Bartimeu tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título "Filho de Davi" não era muito bom.
próprio Jesus o tinha criticado (Mc 12,35-37). Mas Bartimeu teve mais fé em Jesus do que nas suas ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como Pedro. Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições. Jesus lhe disse: "'Tua fé te curou!' No mesmo instante, o cego recuperou a vista". Largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (10,52).
Sua cura é fruto da sua fé em Jesus (Mc 10,46-52). Curado, Bartimeu segue Jesus e sobe com ele para Jerusalém. Tornou-se discípulo modelo para Pedro e para todos os que queremos "seguir Jesus no caminho" em direção a Jerusalém: acreditar mais em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do compromisso assumido com Deus de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.

ALARGANDO
A fé é uma força que transforma as pessoas
A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.
A cura de Bartimeu (Mc 10,46-52) esclarece um aspecto muito importante da longa instrução de Jesus aos discípulos. Bartimeu tinha invocado Jesus com o título messiânico "Filho de Davi" (Mc 10,47). Jesus não gostava deste título (Mc 12,35-37). Porém, mesmo invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas, Bartimeu teve fé e foi curado.
Diferentemente de Pedro (Mc 8,32-33), acreditou mais em Jesus do que nas ideias que tinha sobre Jesus. Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (Mc 10,52). A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém.
Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a "entrega de si" (Mc 8,35), aceitar "ser o último" (Mc 9,35), "beber o cálice e carregar sua cruz" (Mc 10,38), este, como Bartimeu, mesmo tendo ideias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e "seguirá Jesus no caminho" (Mc 10,52). Nesta certeza de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A catequese pergunta: E a família como vai?
“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé,
torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II)
Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a
família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo,
individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).
O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se
desenvolveram tanto que acabam passam por cima dos princípios da ética e da religião. E quem
acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num
horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica
num beco sem saída.
Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje?
Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar:
• Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão.
• Ausência dos pais na educação de seus filhos.
• Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos.
• Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação.
• O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato
conjugal.
• Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados.
• Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por
trocar os parceiros.
• Número crescente de divórcios.
• Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a
prática do aborto.
• Instauração de uma mentalidade contraceptiva.

A catequese pergunta: E a família como vai?
“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé,
torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II)
Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a
família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo,
individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).
O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se
desenvolveram tanto que acabam passam por cima dos princípios da ética e da religião. E quem
acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num
horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica
num beco sem saída.
Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje?
Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar:
• Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão.
• Ausência dos pais na educação de seus filhos.
• Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos.
• Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação.
• O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato
conjugal.
• Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados.
• Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por
trocar os parceiros.
• Número crescente de divórcios.
• Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a
prática do aborto.
• Instauração de uma mentalidade contraceptiva.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

do Blog do Pe. Joãozinho

Neste dia 12 de outubro, sob as bênção de Nossa Senhora Aparecida, trabalho com Pe. Zezinho, scj em alguns projetos novos para a Igreja no Brasil, especialmente em vista da Jornada Mundial da Juventude RIO 2013. Após o AVC isquêmico que sofreu em setembro ficaram limites que ele só foi percebendo aos poucos. O pior deles são os lapsos de memória que lhe roubam palavras e tornam algumas frases incompletas ou confusas. Escrever ou digitar se tornou mais pesado e difícil. A leitura é lenta. As letras das canções foram deletadas. Mas, curiosamente, a criatividade melódica permaneceu inalterada e ele tem composto assoviando, belas melodias.
Hoje ele me mostrou sua primeira vitória ao computador. Após longos 20 minutos (para ele isso é muito tempo) conseguiu digitar uma belíssima crônica sobre o dia da Padroeira do Brasil: 15 linhas. Pedi para divulgar,l mas ele preferiu ainda guardar isto como um exercício pessoal.
Conversamos longamente sobre o projeto de uma Via Sacra para a JMJ RIO 2013, pedido especial de Dom Orani,  e conseguimos criar o tema, o título, o formato, as ideias centrais. Para minha alegria, o grande dom criativo parece ter voltado em 90%. Consagro tudo isso à Mãe que sempre “aparece” na hora em que mais precisamos. Acredito que ela acompanha este seu filho neste momento em que a cruz não é poema… e pesa para falar palavras simples como “solidariedade”. Reze pela gente. Vem muita coisa nova e boa por aí.
Pe. Joãozinho, scj

sábado, 13 de outubro de 2012


por CEBI PUBLICAÇÕES

VAI, VENDE TUDO QUE TENS E DÁ PARA OS POBRES!
CEM VEZES MAIS JÁ NESTA VIDA, MAS COM PERSEGUIÇÕES
MARCOS 10,17-30

Texto extraido do livro ''CAMINHANDO COM JESUS'' - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos - Coleção A Palavra na Vida 184/185. CEBI Publicações. Mais informações emvendas@cebi.org.br.


ABRIR OS OLHOS PARA VER
O texto de hoje traz dois assuntos: (1) Conta a história do moço que perguntou pelo caminho da vida eterna e (2) chama a atenção para o perigo das riquezas. O moço não aceitou a proposta de Jesus, pois era muito rico. Uma pessoa rica é protegida pela segurança que a riqueza lhe dá. Ela tem dificuldade em abrir mão desta segurança. Agarrada às vantagens dos seus bens, vive preocupada em defender seus próprios interesses. Uma pessoa pobre não tem esta preocupação. Mas há pobres com cabeça de rico. Muitas vezes, o desejo de riqueza cria neles uma grande dependência e faz o pobre ser escravo do consumismo, pois ele fica devendo prestações em todo canto. Já não tem mais tempo para dedicar-se ao serviço do próximo. Vamos conversar sobre isto.
Uma pessoa que vive preocupada com sua riqueza ou que vive querendo adquirir aquelas coisas da propaganda na televisão, pode ela libertar-se de tudo para seguir Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que você acha? Conhece alguém que conseguiu largar tudo por causa do Reino?

SITUANDO
No texto de hoje, Jesus aponta mais dois aspectos da conversão que deve ocorrer no relacionamento dos discípulos com os bens materiais (Mc 10,17-27) e no relacionamento dos discípulos entre si (Mc 10,28-31). Para poder entender todo o alcance das instruções de Jesus, é bom olhar, novamente, o contexto mais amplo em que Marcos coloca estes textos. Jesus está subindo para Jerusalém, onde será crucificado (cf. Mc 8,27; 9,30.33; 10,1.17.32). Ele está entregando sua vida. Sabe que vão matá-lo, mas não volta atrás. Esta atitude de fidelidade e de entrega à missão que recebeu do Pai dá a Jesus as condições de apontar aquilo que realmente importa na vida.
As recomendações de Jesus valem para todos os tempos, tanto para o povo do tempo de Jesus e de Marcos como para nós hoje, aqui no Brasil. Pois o que importa, em cada época, é recomeçar a construção do Reino, renovando o relacionamento humano em todos os níveis, para que esteja de acordo com a vontade de Deus.

COMENTANDO
1. Marcos 10,17-19: Os mandamentos e a vida eterna
Alguém chega e pergunta: "Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?" O Evangelho de Mateus informa que se tratava de um jovem (Mt 19, 20.22). Jesus responde bruscamente: "Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus!" Jesus desvia a atenção de si mesmo para Deus, pois o que importa é fazer a vontade do Pai, revelar o Projeto do Pai. Em seguida, Jesus afirma: "Você conhece os mandamentos: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não defraudar ninguém, honrar pai e mãe". O jovem tinha perguntado pela vida eterna. Queria a vida junto de Deus! E Jesus só lembrou os mandamentos que dizem respeito à vida junto do próximo! Não falou dos três primeiros que definem o relacionamento com Deus! Para Jesus, só conseguimos estar bem com Deus, se soubermos estar bem com próximo. Não adianta se enganar. A porta para chegar até Deus é o próximo.
2. Marcos 10,20: Observar os mandamentos, para que serve?
O moço responde que observa os mandamentos desde a sua juventude. O curioso é o seguinte. O rapaz tinha perguntado pelo caminho da vida. Ora, o caminha da vida era e continua sendo: fazer a vontade de Deus expressa nos mandamentos.  Quer dizer que ele observava os mandamentos sem saber para que serviam! É como muitos católicos que não sabem para que serve ser católico. "Nasci no Brasil, por isso sou católico!" Coisa de costume.
3. Marcos 10,21-22: Partilhar os bens com os pobres
Jesus olhou para ele, o amou e lhe disse: Só uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu, e em seguida vem e segue-me! A observância dos mandamentos é apenas o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e mais alto. Jesus pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para ela poder chegar à doação total de si a favor do próximo. Jesus pede muito, mas ele o pede com muito amor. O  moço não aceitou a proposta de Jesus e foi embora, "pois era muito rico".
4. Marcos 10,23-27: O camelo e o buraco da agulha
Depois que o moço foi embora, Jesus comentou a decisão dele: Como é difícil um rico entrar no Reino de Deus! Os discípulos ficaram admirados. Jesus repete a mesma frase e acrescenta: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino! Esta última expressão era um provérbio que não pode ser tomado ao é da letra. Nós também temos provérbios assim que não podem ser tomados ao pé da letra. Por exemplo: "dar nó em pingo d'água", "entrar pelo cano", "perder a cabeça". O provérbio do camelo e do buraco  da agulha se usava para dizer que uma coisa era impossível e inviável.
Os discípulos ficaram chocados com a afirmação de Jesus! Sinal de que não tinham entendido a resposta de Jesus ao moço rico. "Vai, vende tudo, dá para os pobres, vem e segue-me!" Como dissemos, o moço tinha observado os mandamentos, mas sem entender o porquê da observância. Algo semelhante estava acontecendo com os discípulos. Eles tinham abandonado todos os bens conforme Jesus tinha pedido ao moço, mas sem entender o porquê do abandono! Se tivessem entendido, não teriam ficado chocados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo da riqueza ocupa o coração e o olhar, a pessoa já não consegue perceber o sentido da vida e do evangelho. Só Deus mesmo para ajudar! Pois para Deus nada é impossível.
A frase "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino!" trata, não em primeiro lugar da entrada no céu depois da morte, mas sim da entrada na comunidade ao redor de Jesus.
5. Marcos 10,28-31: Serviço e gratuidade
Por isso Pedro pergunta: "Olha, nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos ter?" Apesar do abandono, eles mantêm a mentalidade anterior. Não entendem o sentido do serviço e da gratuidade. Abandonaram tudo para ter algo em troca. A resposta de Jesus é simbólica e deixa entrever que não devem esperar vantagem, nem segurança, nem promoção de nada. Vão ter cem vezes mais, com perseguições, já nesta vida. E,  no mundo futuro, terão a vida eterna de que o moço rico falava.

ALARGANDO
Jesus e a opção pelos pobres
Um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a comunidade está sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade. Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos.
As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra "fariseu" quer dizer "separado". Viviam separados do povo impuro. Muitos dos fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Não aprendiam nada do povo (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas, consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como "anunciar a Boa Nova aos pobres" (Lc 4,18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mc 10,21).
A pobreza que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podiam levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Deviam confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso fossem acolhidos pelo povo, deviam trabalhar como todo o mundo e viver do que receberiam em troca (Lc 10,7-8). Além disso, deviam tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podiam dizer ao povo: "O Reino chegou!" (Lc 10,9).
Por outro lado, quando se trata de administrar os bens, aquilo que chama a atenção nas parábolas de Jesus é a seriedade que ele pede no uso destes bens (Mt 25,21.26; Lc 19,22-23). Jesus quer que o dinheiro esteja a serviço da vida (Lc 16,9-13). Para Jesus, ser pobre não é sinônimo de relaxado e descuidado.
Este testemunho diferente a favor dos pobres era o passo que faltava no movimento popular da época. Cada vez que, na Bíblia, surge um movimento para renovar a Aliança, eles recomeçam restabelecendo o direito dos pobres, dos excluídos. Sem isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Ele denuncia o sistema antigo que, em Nome de Deus, excluía os pobres. Jesus anuncia um novo começo que, em nome de Deus, acolhe os excluídos. Este é o sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos pobres. Ela atinge a raiz e inaugura a Nova Aliança.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

do site da Irmã Miria Kolling

Visita ao Pe. Zezinho!



É meio-dia deste 5 de outubro de 2012, sexta-feira.

Eu, já sentada no ônibus da Pássaro Marrom, que me leva de volta a São Paulo, após a visita feita ao Pe. Zezinho, nesta manhã, procuro registrar nosso feliz encontro, para partilhar com os amigos. Não caibo em mim de alegria, por vê-lo feliz, bem disposto e cheio de esperança. Ele repousa “no seu costumeiro quarto”, junto ao Hospital Antoninho Marmo, das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, em São José dos Campos, muito bem cuidado pela sobrinha Débora e Irmã Mirian, acompanhado pela fonoaudióloga e alguns médicos. Estava mesmo fazendo exercícios com a fonoaudióloga, quando lá cheguei (hora marcada, às 10h30min). Ele me recebeu alegre, com um sorriso aberto: “Chegou ela!” Perguntaram-lhe: ela quem? Quem é essa?... Prontamente respondeu: “Essa é a Irmã Miria”. Lembrou meu nome, o que é excelente sinal de melhora. Fiquei ainda mais feliz por vê-lo se recuperando, melhor do que eu esperava, louvado seja Deus!

De Notbook nas mãos, treina e pronuncia as palavras, escreve e prepara seu novo livro “O púlpito que dói.” De que trata? – pergunto-lhe. Ao que responde: É sobre as reflexões homiléticas dos nossos padres, que devem tratar da Palavra de Deus, do Evangelho, sem se distanciar...”

Contou-me com detalhes como tudo aconteceu naquela quarta-feira de 19 de setembro, quando voltou de viagem cansado, mas ainda foi trabalhar e preparar uma entrevista. O que lhe agravou o problema é a diabetes, que exige cuidado e disciplina, coisas que aliás não lhe faltam. Grato a Deus e consolado, dizia: “ A isquemia afetou apenas o meu lado esquerdo do cérebro, o das palavras e da memória. O direito, que é o da arte, da criatividade e da música, está perfeito.”

Comparando sua situação de hoje com os dez primeiros dias, quando não lembrava mais de nada, ele se percebe ótimo, melhorando gradativamente... Um processo longo, recuperação lenta, mas acontecendo de modo muito satisfatório, graças ao seu otimismo, disciplina, hábitos saudáveis, notável paciência e incondicional colaboração. Percebe-se sensível melhora a cada dia! Por enquanto, até o final do ano, não poderá assumir shows, mas ficar longe, em repouso... Serão talvez ainda uns 2 meses de tratamento intenso, para recuperar a fala e a memória. Às vezes as palavras demoram a ser lembradas ou lhe fogem; está reaprendendo a dizer o nome das coisas, das pessoas, ora lembradas, ora esquecidas. “Aprender é comigo mesmo”, completa Pe. Zezinho, em sua humildade e simplicidade, sabedoria e confiança em Deus!

Quando lhe falei dos lugares por onde andei nessas duas últimas semanas, sobretudo Mozarlândia, no interior de Goiás, e Juazeiro do Norte, no Ceará, e de quanto o povo reza e pergunta por ele; de que o visitava em nome de todos os que lhe querem bem e cantam suas músicas, ele agradeceu sorrindo: “Sou grato a todos, pela amizade e pelas orações. Preciso, eu mesmo, reencontrar as palavras e despertar a memória que me fugiu. Mas se Deus quiser, com tantas preces, chegarei lá... Já estou melhorando bem.”

Ajudou-me a cantar “Deus é bom”, CD que lhe levei de presente. A foto que tiramos juntos foi com sua permissão: ele mesmo escolheu o melhor lugar, no jardim. Também registrei a presença de Irmã Mirian e a sobrinha Débora, que o acompanham de perto e cuidam de tudo com carinho.

Posso dizer que meu coração exultou de alegria ao vê-lo com brilho nos olhos e sorriso nos lábios, abrindo os braços para me acolher. No abraço que nos demos, eu tive presente cada amigo, todos os que lhe querem bem e rezam cantando suas canções, e que gostariam também de estar com ele naqueles privilegiados momentos. Partilho com vocês, povo de Deus, amigos nossos, do canto e da música, este encontro abençoado, para que também se alegrem, continuem rezando e confiando a Deus nosso cantor e poeta maior!
                                                                                               Irmã Miria T. Kolling                                                                                                         São Paulo, 5 de outubro de 2012.