sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Artigo interessante que saiu no CEBI

Por que devemos voltar para Jesus - Hans Küng

"Só seguindo o Messias, pode-se agir, sofrer e morrer de modo humano".



A opinião é do teólogo suíço-alemão Hans Küng, em artigo para o jornal Corriere della Sera, 20-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.



Eis o texto.

Mediante o livro Ser cristão (Ed. Imago, 1976), inúmeras pessoas encontraram a coragem para serem cristãs. O autor sabe isso por causa das inúmeras resenhas, cartas e colóquios. Muitas pessoas, de fato, afastadas da prática e da pregação de alguma grande Igreja cristã, buscam caminhos para continuarem sendo cristãos confiáveis, buscam uma teologia que não seja abstrata para eles e alheia ao mundo, mas explique de modo concreto e próximo da vida em que consiste ser cristão.

Ser cristão não pretendia "seduzir" as pessoas com a retórica ou agredi-las com um tom de pregação. Nem queria simplesmente fazer proclamações, declamações ou declarações em sentido teológico. Pretendia motivar, explicando que, por que e como uma pessoa crítica também pode ser responsavelmente cristã perante a sua razão e o seu ambiente social.

Não se tratava de uma simples adaptação ao espírito do tempo. Certamente, sobre questão discutíveis como os milagres, o nascimento virginal e o túmulo vazio, a ascensão ao céu e a descida aos infernos, sobre a práxis eclesial e o papado também era preciso assumir posições críticas. Isso, porém, não para seguir uma fácil tendência inclinada à hostilidade contra a Igreja ou ao pancriticismo, mas sim para purificar, a partir do próprio Novo Testamento como critério, a causa do ser cristão de todas as ideologias religiosas e para apresentá-la de maneira credível.

A originalidade do livro não está, portanto, nas passagens críticas; está em outro lugar, no fato de ter fixado critérios que, para muitos, representam desafios em teologia. Em Ser cristão, de fato, eu tentei: apresentar toda a mensagem cristã no horizonte das ideologias e religiões contemporâneas; dizer a verdade sem resguardos de natureza político-eclesiástica e sem me preocupar com inclinações teológicas e tendências da moda; não partir, por isso, de problemáticas teológicas do passado, mas sim das questões do ser humano de hoje e, a partir daí, apontar para o centro da fé cristã; falar na língua do ser humano de hoje, sem arcaísmos bíblicos, mas também sem recorrer ao jargão teológico da moda; destacar o que é comum às confissões cristãs, como o renovado apelo ao entendimento no plano prático-organizativo; dar expressão à unidade da teologia de modo que não possa mais ser negligenciado o nexo inabalável entre teoria confiável e práxis vivível, entre religiosidade pessoal e reforma das instituições.

A esse livro não faltaram reconhecimentos públicos. Além disso, também foi uma oportunidade para as Igrejas e, nesse nível, ele encontrou um amplo consenso igualmente. No entanto, não pode ser silenciado o fato de que os membros da hierarquia alemã e romana fizeram de tudo para esvaziar essa oportunidade. Não se envergonharam - diante do sucesso do livro até mesmo entre o clero - de pôr publicamente em dúvida ou, melhor, de difamar a ortodoxia do autor. De nada serviu ao autor o fato de ter declarado amplamente, mais uma vez, a sua fé em Cristo no livro Deus existe? (1978), que apareceu quatro anos depois de Ser cristão. A hierarquia romana e alemã tomaram a cristologia aqui exposta como pretexto para retirar do autor a "missio canonica" para o ensino da teologia, pouco antes do Natal de 1979, embora jamais tenha sido realizado um processo magisterial contra Ser cristão e Deus existe?. Dessa forma, buscou-se desviar a discussão da embaraçosa questão da infalibilidade à questão cristológica, não por último para envolver os cristãos evangélicos. Além disso, para os expoentes da hierarquia contrários às reformas eram indigestas as exigências de reforma na Igreja que eram propostas nesse livro.

Assim, a hierarquia alemã apoiou o percurso de restauração do papa polonês que estava então se impondo e teve que pagar um alto preço por isso: a perda de credibilidade e uma difundida hostilidade contra a Igreja na opinião pública.

Com toda a modéstia: algumas coisas na pregação e na pastoral cristã seguramente teriam sido diferentes e não tivesse sido recusada a oferta de Ser cristão. Mas, como sempre acontece: para mim, Ser cristão tornou-se ponto de partida para um novo desenvolvimento teológico e para uma espiritualidade à qual, apesar de todas as dificuldades do presente, o futuro devia pertencer.

Como inúmeros outros católicos antes do Concílio Vaticano II, eu também cresci com a imagem tradicional de Cristo da profissão da fé, dos concílios helênicos e dos mosaicos bizantinos: Jesus Cristo, "Filho de Deus", sentado em um trono, um "Salvador" amigo dos seres humanos e, ainda antes, para a juventude, o "Cristo Rei". Sobre isso, eu depois acompanhei, em Roma, um curso de um semestre inteiro sobre "cristologia". Certamente, eu passei sem problemas por todos os exames em latim, não exatamente simples - mas a minha espiritualidade? Isso era outra coisa totalmente diferente, permanecia insatisfeita. A figura de Cristo só se tornou decisivamente interessante para mim quando eu pude conhecê-la, com base na moderna ciência bíblica, como real figura da história.

A essência do cristianismo, de fato, não é nada de abstratamente dogmático, não é uma doutrina geral, mas sim, desde sempre, é uma figura histórica viva: Jesus de Nazaré. Ao longo dos anos, elaborei o perfil singular do Nazareno com base na riquíssima pesquisa bíblica dos últimos dois séculos, refleti sobre tudo com apaixonada participação.

De Ser cristão em diante, sei do que estou falando quando, de modo totalmente elementar, eu digo: o "modelo de vida cristã" é simplesmente esse Jesus de Nazaré enquanto messias, christós, ungido e enviado. Jesus Cristo é o fundamento da autêntica espiritualidade cristã. Um exigente modelo de vida para a nossa relação com o próximo, assim como com o próprio Deus, que, para milhões de seres humanos em todo o mundo, tornou-se critério de orientação e de vida.

Quem é, portanto, um cristão? Não é aquele que diz apenas "Senhor, Senhor" e apoia um "fundamentalismo" - seja ele de tipo bíblico-protestante, ou autoritário-romano-católico ou tradicionalistaoriental-ortodoxo. Ao contrário, cristão é aquele que, em todo o caminho pessoal de vida, se esforça para se orientar praticamente para esse Cristo Jesus. Não se exige nada mais.

A minha vida pessoal e, assim, qualquer outra vida, com seus altos e baixos, e também a minha lealdade à Igreja e a minha crítica à Igreja só podem ser compreendidas a partir dessa referência. A minha crítica à Igreja, assim como a de muitos cristãos, brota justamente do sofrimento pela discrepância entre o que esse Jesus histórico foi, pregou, viveu, lutou, sofreu, e o que hoje a Igreja institucional, com a sua hierarquia, representa. Essa discrepância tornou-se muitas vezes insuportavelmente grande. Jesus, nas cerimônias pontifícias da basílica papal de São Pedro? Ou na oração com o presidente George W. Bush e o papa na Casa Branca? Inconcebível!

O mais urgente e mais libertador para a nossa espiritualidade cristã, consequentemente, é nos orientar pelo nosso ser cristão, tanto em nível teológico quanto prático, não tanto segundo as formulações dogmáticas tradicionais e os regulamentos eclesiásticos, mas sim de novo e cada vez mais segundo a singular figura que deu nome ao cristianismo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

CF 2012

Do Texto-base

A parábola do bom samaritano é entendida como paradigma do cuidado.

Mesmo que seja possível outras interpretações, parece-nos oportuno evidenciar, neste contexto da Campanha da Fraternidade, o bom samaritano como uma figura emblemática para o cuidado que se espera da parte dos profissionais e servidores da saúde. “Esta parábola, em si mesma, exprime uma verdade profundamente cristã e, ao mesmo tempo, muitíssimo humana universalmente. Não é sem motivo que até na linguagem corrente se designa obra de bom samaritano qualquer atividade em favor dos homens que sofrem ou precisam de ajuda”.

A parábola ajuda a pensar sobre a solidariedade, como também acerca da vulnerabilidade a que todos estamos condicionados, desde a criação. De fato, os dois relatos da criação do homem e da mulher, de alguma maneira nos remetem a esta ambiguidade que nos constitui. O primeiro relato sublinha a dignidade humana. Nós somos imagem e semelhança de Deus. Manifestamos uns para os outros a presença de Deus. O segundo relato lembra a matéria de que somos feitos: do húmus, do barro da terra. Assim, temos a dignidade de Deus, mas somos modelados pela fragilidade, pela precariedade. Carregamos a marca da criaturalidade, ou seja, da dependência e não a autossuficiência. Ninguém vive sozinho!

sábado, 21 de janeiro de 2012

Jesus anuncia a Boa Nova de Deus e chama pessoas para segui-lo

Cada um de nós tem uma missão

Marcos 1,14-20

Texto extraído do livro "Caminhando com Jesus",

Série A Palavra na Vida 182/183

Páginas 22-25

Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes

Publicação: CEBI

1. SITUANDO

A Boa Nova de Deus foi preparada ao longo da história (Mc 1,1-8), foi proclamada solenemente pelo pai na hora do batismo de Jesus (Mc 1,9-11), foi testada e aprovada no deserto (Mc 1,12-13). Agora aparece o resultado da longa preparação: Jesus anuncia a Boa Nova publicamente ao povo (Mc 1,14-15) e convoca outras pessoas a participar do anúncio (Mc 1,16-20).

Nos anos 70, época em que Marcos escreveu, os cristãos, lendo essa descrição do início da Boa Nova, olhavam no espelho e viam retratado nele o início da sua própria comunidade. Aquela fonte que brotou na vida daqueles quatro primeiros discípulos podia, a qualquer momento, brotar também na vida deles.

2. COMENTANDO

1. Marcos 1,14: Jesus inicia o anúncio da Boa Nova de Deus

Marcos dá a entender que, enquanto Jesus se preparava no deserto, João Batista tinha sido preso pelo rei Herodes. Diz o texto: Depois que João foi presto, Jesus voltou para a Galiléia proclamando a Boa Nova de Deus. A prisão de João Batista não assustou a Jesus! Pelo contrário! Ele viu nela um sinal da chegada do Reino. Hoje, os fatos da política e da polícia também influem no anúncio que nós fazemos da Boa Nova ao povo. Marcos diz que Jesus proclamava a Boa Nova de Deus. Pois Deus é a maior Boa Notícia para a vida humana. Ele responde à aspiração mais profunda do nosso coração.

2. Marcos 1,15: O resumo da Boa Notícia de Deus

O anúncio da Boa Nova de Deus tem quatro pontos: (1) Esgotou-se o prazo! (2) O Reino de Deus chegou! (3) Mudem de vida! (4) Acreditem nesta Boa Notícia! (Mc 1,14-15). Estes quatro pontos são um resumo de toda a pregação de Jesus. Cada um deles tem um significado importante:

1) Esgotou-se o prazo! Para os outros judeus, o prazo ainda não tinha se esgotado. Faltava muito para o Reino chegar. Para os fariseus, por exemplo, o Reino só chegaria quando a observância da Lei fosse perfeita. Para os essênios, quando o país fosse purificado ou quando eles tivessem o domínio sobre o país. Jesus pensa de modo diferente. Ele tem outra maneira de ler os fatos. Diz que o prazo já se esgotou.

2) O Reino de Deus chegou! Para os fariseus e os essênios, a chegada do Reino dependia do esforço deles. Só chegaria depois que eles tivessem realizado a sua parte, a saber, observar toda a lei, purificar todo o país. Jesus diz o contrário: "O Reino chegou!" Já estava aí! Independentemente do esforço feito! Quando Jesus diz "O Reino chegou!", ele não quer dizer que o Reino estava chegando só naquele momento, mas sim que já estava aí. Aquilo que todos esperavam já estava presente no meio do povo, e eles não o sabiam nem o percebiam (cf. Lc 17,21). Jesus o percebeu! Pois ele lia a realidade com um olhar diferente. E é esta presença escondida do Reino no meio do povo que Jesus vai revelar e anunciar aos pobres da sua terra. É esta a semente do Reino que vai receber a chuva da sua palavra e o calor do seu amor.

3) Mudem de Vida! Alguns traduzem "Fazei Penitência". Outros, "Convertei-vos ou Arrependei-vos". O sentido exato é mudar o modo de pensar e de viver. Para poder perceber essa presença do Reino, a pessoa terá que começar a pensar, a viver e a agir de maneira diferente. Terá que mudar de vida e encontrar outra forma de convivência! Terá que deixar de lado o legalismo do ensino dos fariseus e permitir que a nova experiência de Deus invada sua vida e lhe dê olhos novos para ler e entender os fatos.

4) Acreditem nesta Boa Notícia! Não era fácil aceitar a mensagem. Não é fácil você começar a pensar de forma diferente de tudo que aprendeu, desde pequeno. Isto só é possível através de um ato de fé. Quando alguém vem trazer uma notícia diferente, difícil de ser aceita, você só aceita se a pessoa que traz a notícia for de confiança. Aí, você dirá aos outros: "Pode aceitar! Eu conheço a pessoa! Ela não engana, não. É de confiança. Fala a verdade!" Jesus é de confiança!

3. Marcos 1,16-20: O primeiro objetivo do anúncio da Boa Nova é formar comunidade

Jesus passa, olha e chama. Os quatro escutam, largam tudo e seguem a Jesus. Parece amor à primeira vista! Conforme a narração de Marcos, tudo isto aconteceu logo no primeiro encontro com Jesus. Comparando com os outros evangelhos, a gente percebe que os quatro já conheciam a Jesus (Jo 1,39; Lc 5,1-11). Já tiveram a oportunidade de conviver com ele, de vê-lo ajudar o povo ou de escutá-lo na sinagoga. Sabiam como ele vivia e o que pensava. O chamado não foi coisa de um só momento, mas sim de repetidos chamados e convites, de avanços e recuos. O chamado começa e recomeça sempre de novo! Na prática, coincide com a convivência dos três anos com Jesus, desde o batismo até o momento em que Jesus foi levado ao céu (At 1,21-22). Então, por que Marcos o apresenta como amor à primeira vista? Marcos pensa no ideal: o encontro com Jesus deve provocar um mudança radical na vida da gente!

3. ALARGANDO

O chamado para seguir Jesus

O chamado é de graça. Não custa. Mas acolher o chamado exige compromisso. É o momento de entrar na nova família de Jesus, na comunidade (Mc 3,31-35). Jesus não esconde as exigências. Quem quer segui-lo deve saber o que está fazendo: deve mudar de vida e crer na boa Nova (Mc 1,15), deve estar disposto ou disposta a abandonar tudo. Do contrário, "não pode ser meu discípulo" (Lc 14,33). O peso não cai na renúncia, mas sim no amor que dá sentido à renúncia. É por amor a Jesus (Lc 9,24) e ao Evangelho (Mc 8,35) que o discípulo ou a discípula deve renunciar a si mesmo, carregar sua cruz, todos os dias, e segui-lo (Mc 8,34-35; Mt 10,37-39; 16,24-26; 19,27-29).

Os discípulos são o xodó de Jesus. No Evangelho de Marcos, a primeira coisa que Jesus faz é chamar discípulos (Mc 1,16-20), e a última que faz é chamar discípulos (Mc 16,7.15). Jesus passa e chama. Eles largam tudo e seguem a Jesus. Parece que não lhes custa nada. Largam a família. Largam os barcos e as redes (Mc 1,16-20). Levi largou a coletoria, fonte da sua riqueza (Mc 2,13-14). Seguir Jesus supõe ruptura! Eles começam a formar um grupo, uma comunidade itinerante. É a comunidade de Jesus (Mc 3,13-14.34).

Os discípulos acompanham Jesus por todo canto. Entram com ele na sinagoga (Mc 1,21) e nas casas até dos pecadores (Mc 2,15). Passeiam com ele pelos campos, arrancando espigas (Mc 2,23). Andam com ele ao longo do mar, onde o povo os procura (Mc 3,7). Ficam a sós com ele e podem interrogá-lo (Mc 4,10.34). Vão à casa dele, convivem com ele e vão com ele até Nazaré, a terra dele (Mc 6,1). Com ele atravessam o mar e vão para o outro lado (Mc 5,1).

Participam da dureza da nova caminhada. Tanta gente os procura, que já não têm tempo para comer (Mc 3,20). Eles começam a sentir-se responsáveis pelo bem-estar de Jesus: ficam perto dele, cuidam dele e mantêm um barco pronto para ele não se esmagado pelo povo que avança (Mc 3,9; cf. 5,31). E no fim de um dia de trabalho levam a ele, exausto, para o outro lado do lago (Mc 4,36). A convivência se torna íntima e familiar. Jesus chega a dar apelidos a alguns deles. A João e Tiago chamou de Filhos do Trovão, e a Simão deu o apelido de Pedra ou Pedro (Mc 3,16-17). Ele vai a casa deles e se preocupa com os problemas da família deles. Curou a sogra de Pedro (Mc 1,29-31).

Andando com Jesus, eles seguem a nova linha e começam a perceber o que serve para a vida e o que não serve. A atitude livre e libertadora de Jesus faz com que criem coragem para transgredir normas religiosas que pouco ou nada têm a ver com a vida: arrancam espigas em dia de sábado (Mc 2,23-24), entram em casa de pecadores (Mc 2,15), comem sem lavar as mãos (Mc 7,2) e já não insistem em fazer jejum (Mc 2,18). Por isso, são envolvidos nas tensões e brigas de Jesus com as autoridades e são criticados e condenados pelos fariseus (Mc 2,16.18.24). Mas Jesus os defende (Mc 2,19.25-27; 7,6-13).

Distanciam-se das posições anteriores. O próprio Jesus os distingue dos outros e diz claramente: "A vocês é dado o ministério do Reino, mas aos de fora tudo acontece em parábolas" (Mc 4,11), pois "os de fora" têm olhos mas não enxergam, têm ouvidos e não escutam (Mc 4,12). Jesus considera os discípulos e as discípulas como seus irmãos e suas irmãs. É a sua nova família (Mc 3,33-34). Eles recebem formação. As parábolas narradas ao povo, Jesus as explica a eles quando estão sozinhos em casa (Mc 4,10s.34).

Na raiz desse grande entusiasmo está a pessoa de Jesus que chama. Está a Boa Nova do Reino que atrai! Eles seguem Jesus. Ainda não percebem todo o alcance que o contato com Jesus implica para a vida deles. Isto, por enquanto, nem importa! O que importa é poder seguir Jesus que anuncia a tão esperada Boa Nova do Reino. Até que enfim, o Reino chegou (Mc 1,15)!

Resumindo: Seguir Jesus era uma expressão que os primeiros cristãos usavam para indicar o relacionamento deles com Jesus e entre eles mesmos na comunidade. Significava três coisas:

1) Imitar o exemplo do Mestre: Jesus era modelo a ser imitado. A convivência diária com Jesus na comunidade permitia um confronto constante. Nesta "Escola de Jesus" só se ensinava uma única matéria: o Reino! E o Reino se reconhecia na vida e na prática de Jesus.

2) Participar do destino do Mestre: Quem seguia Jesus devia comprometer-se com ele e "estar com ele nas tentações" (Lc 22,28), inclusive na perseguição (Jo 15,20; Mt 10,24-25). Devia estar disposto até a morrer com ele (Jo 11,16).

3) Ter a vida de Jesus dentro de si: Depois da Páscoa, acrescentou-se uma terceira dimensão: identificar-se com Jesus ressuscitado, vivo na comunidade. "Vivo, mas já não sou eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Participar da sua morte e ressurreição (Filipenses 3,8-11).

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CF 2012


Do texto-base CF 2012



Saúde e doença no Novo Testamento.

A cura do cego de nascença.

O capítulo nono do Evangelho de São João relata o encontro de Jesus com um cego de nascença enquanto caminhava nos arredores do Templo (cf. Jo 9,1-41). Há notícias de que a cegueira era extre­mamente comum no Oriente Médio. Nos textos bíblicos, fala-se sobretudo de dois tipos de cegueira. A oftalmia, doença altamente contagiosa, agravada pelo brilho do sol, pela poeira e pela areia so­pradas do deserto e pela falta de higiene. Outra forma mencionada é a cegueira senil, que resulta do avançar dos anos. De acordo com o relato evangélico, são os discípulos que, em primeiro lugar, per­cebem a presença do cego e propõem uma questão a Jesus.

A dúvida dos discípulos, ao encontrarem o cego, é de ordem teológica. “Quem pecou para que ele nascesse cego?” (cf. Jo 9,2) Seguindo a teologia tradicional, os discípulos propõem a Jesus uma pergunta pela causa da cegueira: teria o homem pecado ou teriam sido seus pais (cf. Jo 9,2), pois havia a compreensão de que o pecado dos pais poderia prejudicar os descendentes, por várias gerações. Esta forma de compreender foi objeto de ques­tionamento e de confronto com Jesus em várias ocasiões.

A resposta de Jesus aos discípulos é clara: “nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus” (cf. Jo 9,3). Cristo interrompe a tradição de vincular doen­ça e pecado e oferece aos discípulos, aos fariseus, aos judeus, aos familiares do cego e ao próprio cego uma catequese sobre sua missão. Jesus apresenta-se como ‘luz do mundo’ e luz que se manifesta pelas obras que realiza. Essa experiência permite que o próprio cego se transforme em discípulo.

Ao romper com a teologia corrente e afirmar que a doença não é fru­to de pecado, nem castigo de Deus, Jesus acaba também com a lógica excludente de atribuir a culpa da enfermidade a Deus e por decorrên­cia ao pecado, o que gerava e, ao mesmo tempo, legitimava a exclu­são social e religiosa de quem se achasse doente. Por isso, ao invés de se afastar do cego, como seria normal, Jesus se aproxima, cospe no chão, se abaixa e faz lama com a própria saliva e o pó do chão. Em seguida, a aplica sobre os olhos do cego e pede que ele vá se lavar na piscina de Siloé, cujo significado é “enviado” (cf. Jo 9,7). A narrativa do sinal é encerrada com a constatação: “o cego foi, lavou-se e voltou enxergando” (cf. Jo 9,7).

Depois do sinal realizado, Jesus sai de cena por um tempo e co­meça a discussão ao redor do fato de um homem que era cego e pedia esmola passar a enxergar. De um lado, aparece a incredu­lidade de vizinhos e familiares de que a mudança havia aconte­cido (de cego, o homem passou a vidente). De outro, a violação do descanso sabático que os judeus vão trazer para o centro da discussão e pedir explicações ao cego e a seus pais. Apesar de verem o bem na vida do cego, que passou a ver, condenam a ação de Jesus, pois ele tinha violado a lei do sábado.

A reação dos pais do cego diante das autoridades dos judeus, ou seja, diante daqueles que sustentam a velha lógica de que doença está sempre vinculada ao pecado, é de medo. Por isso, dizem somente saber que aquele homem é seu filho, nasceu cego e agora vê. Como aconteceu isso, não sabem. A solução é que os chefes perguntem ao próprio homem que era cego e agora vê, pois ele já é maior, ou seja, já é responsável pelos próprios atos e opiniões.

A finalidade catequética do evangelista está em evidenciar a missão de Jesus como luz do mundo. Por isso joga muito com as palavras ‘ver’ e ‘crer’. Não somente neste capítulo e neste episó­dio de alguém que não vê e não crê e depois passa a ver e crer, pois a catequese finaliza com um novo encontro de Jesus com o cego: “Tu crês no filho do Homem? Ele respondeu: Quem é, Senhor, para que eu creia nele? Jesus disse: Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo. Ele exclamou: “Eu creio, Senhor!” E ajoelhou-se diante de Jesus” (cf. Jo 9,35-38).

O texto termina com Jesus voltando para a cena e dialogando novamente com o cego. O novo aqui é que da cegueira física passa à cegueira espiritual, sobretudo daqueles que não querem ver. Como diz o ditado popular: “o pior cego é aquele que não quer ver”. Jesus encontrou pessoas assim e, infelizmente, também as encontramos em nossos dias. É missão da Igreja a continuidade da ação de Jesus na história para que a saúde se difunda sobre a terra.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CF 2012




Retirado do Texto-base CF 2012




Doença e saúde no Antigo Testamento

A bíblia hebraica, já nas primeiras páginas, apresenta a origem do mal e do sofrimento, mas descartando qualquer possibilida­de de participação divina. No decorrer da caminhada do povo hebreu, outros conceitos e outras justificativas foram sendo de­senvolvidos a respeito de doença e do sofrimento, que passaram a ser vistos como consequência do pecado e da desobediência à Lei. Assim, a preservação da saúde, mais do que a cura da doen­ça, é obtida pela observância da lei de Deus. Em uma passagem do Livro do Deuteronômio (cf. Dt 28,1-14), a bênção prometida para quem observa a lei de Deus é uma situação de bem-estar, saúde e prosperidade.

Porém, quem não a observa terá a maldição, a infelicidade, as doenças, a opressão (cf. Dt 28,15ss). A doença é vista como castigo de Deus ao pecado do ser humano, por isso, somente eliminando a causa da doença, ou seja, o pecado, pode-se obter novamente de Deus a saúde. Dessa forma, a preservação da saú­de é obtida pela observância da Lei, enquanto a cura e o perdão dos pecados, como dois lados da mesma moeda, são obras de Deus que concedia aos que o pediam na prece.

Houve um tempo em que, entre os judeus piedosos, o fato de recorrer aos médicos era visto como falta de fé no Deus vivo e verdadeiro, pois a doença era compreendida como uma forma de punição por parte de Deus. É o que se percebe no segundo livro das Crônicas que denuncia o rei Asa por não ter recorri­do ao Senhor, mas ter buscado médicos e morrido rapidamente (cf. 2Cr 16,12). Para certos problemas físicos, eram os sacerdotes que deviam ser consultados, visto que eles diagnosticavam os sintomas, orientando o tratamento para a pessoa, bem como os rituais de purificação a serem seguidos.

O livro do Eclesiástico considera a doença como o pior de todos os males (cf. 30,17), um mal que faz perder o sono (cf. 31,2). O povo judeu entendia que a falta de saúde estava intimamente ligada com a culpa, o pecado. A cura para as doenças deveria ser obtida, em primeiro lugar, pela oração (cf. 2Sm 12,15-23). Vários salmos são de doentes que suplicam a Deus a cura. Segundo Carlos Mesters, “cura e perdão dos pecados parecem duas faces de uma mesma moeda: ambos vêm de Deus mediante a prece. Porém, o Eclesiástico também propõe um novo modo de compreender a doença e, sobretudo, estimula um comportamento diferente na busca do res­tabelecimento da saúde. Se antes, recorrer à medicina e a seus profis­sionais era visto como falta de fé no Deus Altíssimo, o Eclesiástico con­sidera os remédios, os médicos e a ciência como possibilidades de cura que vêm do próprio Deus e, consequentemente, devem ser buscados quando necessário”.

sábado, 14 de janeiro de 2012

texto do padre Zezinho enviado a mim pela catequista Sirlene da Paróquia N. Sra. do Carmo de Paraguaçu-MG

Pequenos grandes amores
Pe. Zezinho, scj


Os raios do sol costumam ser grandes, mas nossa capacidade de captá-los é pequena. Então vivemos do que conseguimos captar pelas frestas que deixamos. Dá-se o mesmo com relação ao amor. De um jeito ou de outro ele invade as frestas do nosso eu ...

Existe o grande amor de uma vida e há os pequenos grandes amores. O homem e a mulher encontram o grande amor e, se for de fato o grande amor, gerará pequenos grandes amores. E são os pequenos grandes amores que dão sentido á espera de quem ainda não encontrou o seu grande amor.

Eu dizia isso tempos atrás a uma jovem de 30 anos que sofria de solidão.

"Há,-dizia eu- um núcleo de pequenos grandes amores que fecham o cerco ao nosso redor e impedem que a solidão, as somatizações, a ansiedade e a depressão nos dominem. Você os vai amando e eles e elas vão amando você enquanto o seu grande amor não vem. Vale dizer: enquanto você não encontra a sua alma gêmea, amor de pai e mãe, de avós, de irmãos e sobrinhos e amigos e amigas vão preenchendo os espaços do seu coração de mulher que deseja um lar, um homem que divida a vida com você e filhos que dividam com vocês o mesmo lar. Quem não tem estes outros relacionamentos serenos sofre muito mais a solidão do grande amor que não veio. Pequenos grandes amores estão na sua casa dando todo o colo e o carinho de que você precisa até que o amor sonhado aconteça. Se não acontecer, são esses pequenos grandes amores que motivarão a sua vida de mulher."

Ela ouviu atentamente e começou a contar nos dedos. Chegou a 35 pessoas que poderia considerar pequenos grandes amores. Com o pai e a mãe, avós, sobrinhos e amigos e amigas e gente que se importa, mas não invade nem força, sua vida de jovem mulher era um caminhar sereno, ainda que sofrido. Os três rapazes que poderiam ter lhe dado um lar, desistiram no meio do caminho.

Raramente pensamos nesses pequenos grandes amores, mas sem eles nenhum grande amor daria certo. Preparam e continuam a nutrir um coração, mesmo depois do grande encontro da pessoa certa.

Gosto de pensar que a vida nos prepara muitos antídotos dos quais nem sempre nos damos conta. Mas quando algo nos envenena, os pequenos grandes amores são esses grandes antídotos. Ulcerações gástricas, úlceras, depressão, lágrimas furtivas, coração pesado, desânimos e vazios diminuem ou até acabam quando nos damos conta do quando somos amados. E daí, se o tão sonhado grande amor não veio? Continuamos amados; muito amados! Uma professora meses atrás dizia a uma filha de 29 anos que lamentava a solidão causada pelo rapaz que se casara com outra.

-" Doer ,dói e doerá. Mas não queira experimentar entre o melhor e o pior. É bem melhor não ter o grande e sonhado amor, do que tê-lo e não poder desfrutá-lo porque diminuiu. Há perdas que libertam. Tente de novo! Enquanto isso, terá uns vinte pequenos grandes amores torcendo de novo por você.Sem eles, você estaria perdida. Com eles, um dia acaba dando certo!


www.padrezezinhoscj.com

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

XIV Semana Catequética de Paraguaçu-MG





Encerramos hoje a XIV Semana de Catequese de Paraguaçu, com a palestra da minha companheira de equipe setorial a Ana Cristina, foi muito bom o estudo do texto-base da CF 2012. Gostaria de agradecer a Ana Cristina pela disponibilidade e empenho de estar conosco. Quando em 1998, eu trouxe esta ideia de Semana Catequética, não tinha no pensamento que perduraria por muitos anos, são 15 anos desde a primeira, e esta como as outras foi sensacional, pela participação, pelos temas, pelos palestrantes e sobretudo pela fé e amor ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Obrigado às coordenações e catequistas das Paróquias N. Sra do Carmo, N. Sra. Auxiliadora e de Santa Isabel do distrito de Guaipava. Valeu! Até 2013, se Deus quiser!
Luiz Sergio Palhão
Equipe Setor Alfenas de Catequese

CF 2012


Do Texto-base da CF 2012

Os significados de saúde e de salvação, ao longo da história, são convergentes e sempre apresentaram uma relação profunda. Em diversas línguas, os termos nasceram de uma raiz única e, por muito tempo, partilharam a mesma palavra. Em geral, saúde e salvação significaram plenitude, integridade física e espiritual, paz, prosperidade. Evidência disso é que, nas grandes romarias, o povo em sua fé sempre pede, mas também agradece pela cura e saúde alcançada. Não é algo que somente aconteceu no passado, pois ocorre ainda hoje.

No Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida , por exemplo, há a famosa ‘sala das promessas’, no linguajar da teologia erudita, mas ‘dos milagres’ na linguagem da fé simples do povo. Aí estão milhões de objetos ‘sacramentais’ (fotos, roupas, velas, peças anatômicas em cera de todos os tamanhos), verdadeiros presentes do povo para a ‘Mãe da Saúde’, que nos revelam histórias de salvação de perigos, acidentes, sofrimentos afetivos, doenças incuráveis, enfim da morte! Corações agradecidos deixam sua marca de ‘ação de graças’ pela cura e salvação alcançada.

As religiões sempre ofereceram respostas à busca de um sentido. para a existência e seus grandes desafios, particularmente em relação à dor, ao sofrimento, ao mal e à morte, que afligem a humanidade indistintamente. Nesse sentido, procuremos ouvir não só os ensinamentos bíblicos, como também os, da teologia e da prática pastoral da Igreja, a fim de iluminar esta questão vital para todos.

E, que pela convergência de todos os olhares para Jesus Cristo, que liberta e salva, a saúde se difunda sobre a Terra.

XIV Semana Catequética de Paraguaçu-MG


Ontem, quinta-feira, a semana de catequese teve palestrando o Padre José Augusto, da Paróquia Sâo José de Machado - MG. A palestra tinha como tema Escatologia, foi excelente! Padre José Augusto, com muito carinho e bom humor, sanou as dúvidas do catequistas sobre o assunto. Ao padre José Augusto nossos sinceros agradecimentos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

XIV Semana Catequética de Paraguaçu-MG




Ontem á noite, refletimos sobre catequese e família. "Família - berço da fé". Costumo comparar a catequese ao banquinho tripé, para a catequese se manter firme, ela precisa ter as três pernas bem firmes. Uma perna seria o catequista, a outra o catequizando e a terceira a família. Saímos com o compromisso de montar no planejamento uma atenção especial à familia.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

CF 2012

Do texto base da CF 2012 esta reflexão:

Elementos da Doutrina Social da Igreja pertinentes à saúde pública

A solidariedade, de acordo com a Doutrina Social da Igreja, é um princípio com dois aspectos complementares: um social e outro ligado à virtude moral. Esses aspectos da solidariedade devem nortear as pessoas em suas relações, além de levá-las a Compromissos em prol do bem comum e da transformação das estruturas injustas que ferem a dignidade da pessoa. A solidariedade precisa se efetivar em ações concretas, convergindo para a caridade operativa. “Jesus de Nazaré faz resplandecer, aos olhos de todos os homens, o nexo entre solidariedade e caridade, iluminando todo o seu significado”. PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005

A reflexão sobre estes princípios orientadores são importantes para que a ação evangelizadora, da Igreja e dos cristãos, possa se revestir de contundência e profetismo na área da saúde. Além da caridade na atenção aos enfermos, é necessário empenho por mudanças nas estruturas que geram enfermidades e mortes. Tais estruturas tornam-se visíveis nas situações de exclusão, na falta de condições adequadas e dignas de vida e no descaso, em certas circunstâncias, no atendimento oferecido aos usuários do sistema de saúde. Tudo isto é exposto não só pelos MCS, mas também pelos rostos sofridos e pelas mortes causadas pelo indigno atendimento.

XIV Semana Catequética de Paraguaçu-MG

Foi excelente a palestra de hoje do Padre Zé Luiz, "Igreja - rede de comunidades" DGAE. Ao Padre Zé Luiz o nosso agradecimento!

XIV Semana Catequética de Paraguaçu-MG

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

XIV Semana Catequética de Paraguaçu-MG

Iniciamos hoje, mais uma semana de catequese. O tema foi "Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja". O assessor foi o padre José Luiz do Prado, que trabalhou muito bem este tema, e amanhã ele dará continuidade. Na quarta-feira, eu falarei sobre catequese e família. Na quinta-feira, o padre José Augusto falará sobre Escatologia e sexta-feira a Ana Cristina fechará com a CF 2012. Postarei algumas fotos a partir de amanhã.

CF 2012

Do texto base

Saúde e Doença: dois lados da

Mesma realidade

A vida, a saúde e a doença são realidades profundas, envoltas em mistérios. Diante delas, as ciências não se encontram em condições de oferecer uma palavra definitiva, mesmo com todo o aparato tecnológico hoje disponível. Assim, as enfermidades, o sofrimento e a morte apresentam-se como realidades duras de serem enfrentadas e contrariam os anseios de vida e bem-estar do ser humano. Nas línguas antigas é comum a utilização de um mesmo termo para expressar os significados de saúde e de salvação. Na língua grega, soter é aquele que cura e ao mesmo tempo é salvador. Em latim, ocorre o mesmo com salus. Verifica-se o mesmo em outras línguas. Certamente, a convergência destes significados para um único termo é reflexo da dura experiência existencial diante destes fenômenos e a percepção de que o doente necessita ser curado ou salvo da moléstia pela ação de outrem. Outro elemento importante, na antiguidade, para a compreensão da convergência dos significados de saúde e de salvação, é a antropologia de fundo. Sobretudo entre os orientais, o ser humano era concebido de forma unitária, com suas distintas “É o significado sânscrito de svastha (= bem estar, plenitude), que depois assumiu a forma do nórdico heill e, mais e recentemente, Heil, whole, hall nas línguas anglo-saxônicas, que indicam integridade e plenitude, dimensões profundamente integradas. Eles concebiam doenças de ordem corporal e de ordem espiritual, muitas vezes ligadas à ação de espíritos maus e a castigos. Neste contexto, consideravam que não é só o corpo que adoece, nem só a medicina que cura, o que conferia grande importância aos ritos religiosos para a salvação do adoentado.

A estreita ligação entre saúde e salvação (cura) e a convergência desses significados em um mesmo termo apontam, portanto, para uma concepção mais abrangente do que seja a doença. As tendências de excluir a dimensão espiritual na consideração do que seja saúde e doença resultam, pois, em compreensões superficiais destas realidades. Como exemplo, temos a definição de saúde que a OMS (. . . . . . . Organização Mundial da Saúde) apresentou, em 1946, que não incluía a dimensão espiritual: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças”. Somente em 2003, a OMS incorporou a espiritualidade na reflexão e na definição da saúde, não sem polêmicas e posicionamentos contrários. Esta nova concepção vem, no entanto, se firmando como uma direção a ser seguida, pois amplia os elementos para a compreensão deste fenômeno, o que é mais condizente com a natureza humana.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A Bíblia e o Celular

Voce já imaginou o que aconteria se tratássemos a nossa Bíblia do jeito que tratamos o nosso celular?

E se entregássemos a nossa Bíblia no bolso ou na bolsa?

E se déssemos uma olhada nela várias vezes ao dia?

E se voltássemos para apanhá-la quando a esquecemos em casa, no escritório…?

E se a usássemos para enviar mensagens aos nossos amigos?

E se a tratássemos como se não pudéssemos viver sem ela?

E se a déssemos de presente ás crianças?

E se a usássemos quando viajamos?

E se não lançássemos mão dela em caso de emergencia?

Mais uma coisa:

Ao contrário do celular, a Bíblia não fica sem sinal. Ela “pega” em qualquer lugar…

Não é preciso se preocupar com a falta de crédito, porque Jesus já pagou a conta e os créditos não tem fim…

E o melhor de tudo: não cai a ligação e a carga da bateria é para toda a vida…

Digamos com este canto: a Escritura nos dois testamentos é palavra inspirada por Deus. E o Pai educando seus filhos, é o Pai revelando-se aos seus. Nós amamos a Bíblia Sagrada, paternal testamento de Deus!”


Mensagem exatraída do livro Pequenos recados com grandes significados, do Pe. Irmundo Rafael Stein, SCJ

Introdução CF 2012
A Igreja no Brasil, para enfrentar os grandes desafios à ação 1. evangelizadora, percebe a necessidade de voltar às fontes e recomeçar a partir de Jesus Cristo. Toda a ação eclesial brota de Jesus Cristo e se volta para Ele e para o Reino do Pai. No contexto eclesial, não há como empreender ações pastorais sem nos colocarmos diante de Jesus Cristo.
Esta perspectiva norteia as novas Diretrizes Gerais da Ação Pas2. toral. Ela é condição para que, na Igreja, aconteça uma conversão pastoral que a coloque em estado permanente de missão, com o advento de inúmeros discípulos missionários, enraizados em critérios sólidos para ver, julgar e agir no enfrentamento dos problemas concretos e urgentes da vida de nosso povo.
A Campanha da Fraternidade, celebrada na quaresma, intensifi3. ca o convite à conversão. Ela contribui incisivamente para que este processo ocorra e alargue o horizonte da vivência da fé, na medida em que traz, para a reflexão eclesial, temas de cunho social, portadores de sinais de morte, para suscitar ações transformadoras, segundo o Evangelho.
Nesse ano, o tema proposto é “Fraternidade e a Saúde Pública”, 4. com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). A saúde integral é o que mais se deseja. Há muito tempo, ela vem sendo considerada a principal preocupação e pauta reivindicatória da população brasileira, no campo das políticas públicas.
O SUS (Sistema Único de Saúde), inspirado em belos princípios 5. como o da universalidade, cuja proposta é atender a todos, indiscriminadamente, deveria ser modelo para o mundo. No entanto, ele ainda não conseguiu ser implantado em sua totalidade e ainda não atende a contento, sobretudo os mais necessitados destes serviços.
Entendendo ser um anseio da população, especialmente da 6. mais carente, um atendimento de saúde digno e de qualidade, a Campanha da Fraternidade 2012 aborda o tema da saúde,
conforme os objetivos a seguir propostos.
Cf texto base

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Creio em Ti, arquiteto e engenheiro...

(da obra de Carlos Mejía Godoy)

Creio, Senhor firmemente,

Que de tua pródiga mente

Todo este mundo nasceu.

Que de duas mãos de artista,

De pintor primitivista

A beleza floresceu:

As estrelas e a lua, as montanhas, as lagoas,

As canoas navegando sobre o reio rumo ao mar,

Os imensos cafezais, os brancos algodoais,

E os bosques, suas flores, os verdes canaviais.


Creio em Ti, arquiteto e engenheiro,

Artesão e carpinteiro, pedreiro e pintor.

Creio em Ti, construtor do pensamento

E da música e do vento,

E da paz e do amor.


Eu creio em Ti, Jesus Cristo,

Luz da luz e verdadeiro,

Filho único de Deus,

Que, para salvar ao mundo

No ventre humilde e puro

De Maria se encarnou.

Creio que foste traído,

Com desprezo torturado

E na cruz martirizado.

Sendo Pilatos mentor.

O romano imperialista

Deste crime foi culpado

E, lavando suas mãos,

Tentou limpar o seu pecado.


Eu creio em Ti companheiro.

Cristo humano operário

De tua morte vencedor.

Com teu sacrifício imenso

Quis a nova humanidade

Para a libertação.

Tu estás ressuscitado em cada braço que se ergue

Para libertador o povo do domínio explorador,

Porque estás vivo no campo, na fábrica e na escola,

Creio em tua luta sem trégua, na tua ressurreição.

Traduzido do original espanhol.

retirado do CEBI

Magos em Belém: culturas diferentes à busca de Deus (Mt 2,1-12) - Marcelo Barros

O texto foi extraído do Livro "Conversando com Mateus".

Pedidos: vendas@cebi.org.br

Irmãs e irmãos da comunidade de Mateus,

Quero conversar com vocês como se estivéssemos uns diante dos outros e vocês fossem conterrâneos deste final de século conturbado e tão carente de esperanças. No começo, pensei em escrever uma carta pessoal a Mateus, mas nenhum livro da Bíblia é de cunho somente individual. Além disso, embora desde os tempos mais antigos todos atribuam a Mateus a honra de ser o redator deste livro, nem ele assinou nem chama o texto de Evangelho (como Marcos inicia dizendo: "Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus"). Então, escrevo a vocês da comunidade, que participaram da experiência que gerou o texto de Mateus.

(...)

Ao contar a visita dos magos a Jesus Menino, vocês não pretendiam narrar um relato histórico ou um fato jornalístico. Quiseram significar o encontro de Jesus com os outros povos e culturas. Fizeram isso comentando textos bíblicos como Isaías 60, o salmo 72 e a profecia de Balaão (Nm 22-24). Vocês os comentam como os rabinos faziam, contando histórias (midrash), e nos presen­tearam esse relato tão bonito.

O poema do discípulo de Isaías (Is 60) e, talvez, mesmo o salmo vêm de uma época na qual Jerusalém estava sendo reconstruí­da. Os recursos eram poucos e, em comparação ao que era antes de ser destruída pelos babilônios, era uma aldeia. O profeta vê o sol nascer sobre a cidade e proclama a promessa de Deus de que, um dia, Jerusalém será luminosa e cheia de glória e os reis das nações a ela acorrerão trazendo presentes. Num contexto de sofrimento e de revalorização da identidade do povo pobre, aquela visão nada tinha de etnocentrismo. Era universalista. Aplicando essa profecia aos magos que vêm homenagear a criança pobre que nasceu em Belém, vocês a tornam mais universal ainda.

Embora não tenham dito que os magos eram reis e santos, como a tradição soube acrescentar, vocês contaram que eles gostavam das estrelas e vieram de longe, do oriente, atrás de uma estrela e em busca do Rei dos judeus que acabara de nascer neste mundo.

Com esse novo comentário narrativo de textos bíblicos (mídrash), desde o início do Evangelho, vocês associam as culturas e religiões diferentes à busca de Deus, ao reconhecimento de Jesus como "Rei dos Judeus" e ao acolhimento do Reino de Deus (ou dos céus, como vocês o chamam).

Na cultura judaica na qual a comunidade estava inserida, não deve ter sido fácil para vocês reconhecerem que até a astrologia e a interpretação dos sonhos podem conduzir pessoas como os magos ao Senhor. (Chouraqui chama os magos de "astrólogos'' ¹¹). Na região da Síria e da Ásia Menor era praticada a religião do deus Mitra. Era um sincretismo de antigos cultos ao sol. Os fiéis de Mitra contavam que o seu deus nasceu numa caverna na noite de 25 de dezembro (solstício do inverno e festa do sol que renasce do frio e da escuri­dão das noites cada vez mais longas). Aliás, por acaso, os sacerdotes de Mitra se chamavam "magos", porque eram homens que lidavam com os astros e com os mistérios da vida.

Será que, ao contar a bela história dos magos que vieram a Belém adorar o menino Jesus, vocês quiseram assumir algo da história de Mitra e transpô-la para o contexto cristão? Hoje, falamos muito de inculturação. Mas ainda há muitos bispos e pastores que têm preconceito contra sincretismo. Será que, nessa história, vocês da comunidade de ‘Mateus queriam nos ensinar que há um tipo de sincretismo que é válido e compreensível?

Marcelo Barros é também autor de O Espirito vem pelas águas

Para quem ainda não conhece, a letra do hino da CF 2012

Hino CF 2012
Letra: Roberto Lima de Souza
Música.: Júlio Cézar Marques Ricarte

1. Ah! Quanta espera, desde as frias madrugadas,
Pelo remédio para aliviar a dor!
Este é teu povo, em longas filas nas calçadas,
A mendigar pela saúde, meu Senhor!

Tu, que vieste pra que todos tenham vida, (Jo 10,10)
Cura teu povo dessa dor em que se encerra;
Que a fé nos salve e nos dê força nessa lida, (Mc 5, 34)
E que a saúde se difunda sobre a terra! (Cf Eclo 18,8)

2. Ah! Quanta gente que, ao chegar aos hospitais,
Fica a sofrer sem leito e sem medicamento!
Olha, Senhor, a gente não suporta mais,
Filho de Deus com esse indigno tratamento!

3. Ah! Não é justo, meu Senhor, ver o teu povo
Em sofrimento e privação quando há riqueza!
Com tua força, nós veremos mundo novo, (Cf Ap 21,1-7)
Com mais justiça, mais saúde, mais beleza!

4. Ah! Na saúde já é quase escuridão,
Fica conosco nessa noite, meu Senhor, (Cf Lc 24,29)
Tu que enxergaste, do teu povo, a aflição
E que desceste pra curar a sua dor. (Cf Ex. 3,7-8)

5. Ah! Que alegria ver quem cuida dessa gente
Com a compaixão daquele bom samaritano. ( Lc. 10,25-37)
Que se converta esse trabalho na semente
De um tratamento para todos mais humano!

6. Ah! Meu Senhor, a dor do irmão é a tua cruz!
Sê nossa força, nossa luz e salvação! (Cf. Sl. 27,1)
Queremos ser aquele toque, meu Jesus, (Cf. Mc. 5,20-34)
Que traz saúde pro doente, nosso irmão!



segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

apresentação da CF 2012

Apresentação

"Converte-te e crê no Evangelho"!
Ao recebermos a imposição das cinzas, no início da quaresma, somos convidados a viver o Evangelho, viver da Boa Nova. A Boa Nova que recebemos é Jesus Cristo. Ele abriu um novo horizonte para todas as pessoas que nele creem. Crer no Evangelho é crer em Jesus Cristo que na doação amorosa da cruz deu-nos vida nova e concedeu-nos a graça de sermos filhos do Pai. Com sua morte transformou todas as realidades, criando um novo céu e uma nova terra. A quaresma é o caminho que nos leva ao encontro do Crucificado-ressuscitado. Caminho, porque processo existencial, mudança de vida, transformação da pessoa que recebeu a graça de ser discípulo-missionário. A oração, o jejum e a esmola indicam o processo de abertura necessária para sermos tocados pela grandeza da vida nova que nasce da cruz e da ressurreição.

Assim, atingidos por Ele e transformados n'Ele, percebemos que todas as realidades devem ser transformadas, para que todas as pessoas possam ter a vida plena do Reino. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade, desde o ano de 1964, como itinerário evangelizador para viver intensamente o tempo da quaresma. A Igreja propõe como tema da Campanha deste ano: A fraternidade e a Saúde Pública, e com o lema: Que a saúde se difunda sobre a terra (cf. Eclo 38,8). Deseja assim, sensibilizar a todos sobre a dura realidade de irmãos e irmãs que não têm acesso à assistência de Saúde Pública condizente com suas necessidades e dignidade. É uma realidade que clama por ações transformadoras.

A conversão pede que as estruturas de morte sejam transformadas. A Igreja, nessa quaresma, à luz da Palavra de Deus, deseja iluminar a dura realidade da Saúde Pública e levar os discípulos-missionários a serem consolo na doença, na dor, no sofrimento e na morte. E, ao mesmo tempo, exigir que os pobres tenham um atendimento digno em relação à saúde. Que ela se difunda sobre a terra, pois a salvação já nos foi alcançada pelo Crucificado. Às nossas Comunidades, grupos e famílias, uma abençoada caminhada quaresmal e celebremos a Jesus Cristo que fez novas todas as coisas.


Dom Leonardo Ulrich Steiner Bispo Prelado de São Felix
MT Secretário Geral da CNBB

Pe. Luiz Carlos Dias Secretário
Executivo da Campanha da Fraternidade