terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CF 2012

Ser fraterno com os doentes

Publicado no CEBI

por CNBB Sul 3

AMBIENTE: Bíblia, fotografias de pessoas enfermas, vela, óleo de oliva e vinho.

DEUS NOS CHAMA E NOS REÚNE

Animador: Sejam todos bem vindos e bem vindas ao nosso encontro de reflexão sobre o tema da Campanha da Fraternidade da ICAR 2012. Hoje, queremos refletir sobre a fraternidade com os nossos irmãos e irmãs enfermos. Iniciemos cantando:

Canto: "Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação! Ao pai voltemos, juntos cantemos, eis o tempo de conversão"

DEUS NOS FALA

Leitor 1: Este serviço foi suscitado pelo Espírito de Deus, como se deduz do fato de terem escolhido para a diaconia sete homens "cheios do Espírito Santo" (cf. At 6,1-6). Este serviço espiritual conduz à autêntica fé cristã, a uma sensibilidade especial em relação aos sofrimentos humanos, como também a ações concretas para aliviar os sofrimentos e suprir as necessidades dos desprovidos. Socorrer o ser humano é um dever.

Leitor2: Desde os primórdios da Igreja, a caridade inspirou suas comunidades ao serviço dos adoecidos, pois a caridade como tarefa da Igreja encontra uma prática especialmente significativa no cuidado dos doentes. É bom frisar, no entanto, que a inspiração para este serviço é o próprio Cristo.

OS ENFERMOS NO SEIO DA IGREJA

Leitor 1: "Quem permanece por muito tempo próximo das pessoas que sofrem, conhece a angústia e as lágrimas, mas também o milagre da alegria, fruto do amor". Com estas palavras, o Papa Bento XVI descreve uma experiência edificante no sofrimento. Na Igreja, os doentes evangelizam e recordam que a esperança repousa em Deus.

Leitor 2: Deste modo, no contexto eclesial, os doentes e os sofredores não se resumem a destinatários de atenções e de cuidados. Exercem o protagonismo na evangelização com um testemunho profundo, e do sofrimento aceito e oferecido, o milagre do amor.

Animador: Para escutar essa missão, vamos acender a vela e receber a Bíblia para a leitura do evangelho de Lucas 10,25-37.

(Momento de Reflexão após a leitura)

PARA CONVERSAR

  1. O que diz o texto? Recontar o texto lido
  2. O que o texto diz para mim? O que o texto diz para nós?
  3. O que o texto me faz dizer a Deus? Minha oração, preces
  4. Contemplação (silêncio), assumir um compromisso

REFLEXÃO

Leitor 1: A parábola do Bom Samaritano nos lembra a condição de fragilidade humana, mas também indica que os seguidores de Jesus devem descobrir a importância do cuidado. Esse é, de fato, o apelo do texto evangélico: reconhecer a condição de fragilidade e de vulnerabilidade de todo ser humano e libertar do temor pela proximidade sanadora do outro.

Leitor 2: A fragilidade somente se cura mediante a proximidade daquele que se dispõe a cuidar do debilitado. Cuida-se da própria fraqueza quando se consente a proximidade do outro.

Animador: Essa atitude do Bom Samaritano é revelada em sete atitudes que podemos ter em relação aos doentes:

Leitor 1: VER - a primeira atitude do samaritano que descia pelo caminho foi enxergar a realidade. "Bom samaritano é todo homem que se detém junto ao sofrimento de outro homem, seja qual for o sofrimento".

Leitor 2: COMPADECER-SE - a percepção da presença do caído conduziu o samaritano à atitude de compaixão. "Bom samaritano é todo homem sensível ao sofrimento de outrem, o homem que se 'comove' diante da desgraça do próximo".

Leitor 1: APROXIMAR-SE - ao contrário dos que o antecederam, o viajante estrangeiro aproximou-se do caído, foi ao seu encontro, não passou adiante.

Leitor 2: CURAR - a presença do outro exige cuidado. A aproxdimação, a compaixão não são simplesmente sentimentos benevolentes voltados ao outro.

Leitor 1: COLOCAR NO PRÓPRIO ANIMAL - Ele colocou a serviço do outro os próprios bens

Leitor 2: LEVAR À HOSPEDARIA - O samaritano não só viu, aproximou-se, curou, colocou no próprio animal, como também mudou o seu itinerário, adaptando-se para poder atender aquele necessitado. Recorreu ao "sistema de saúde" daquele tempo.

Leitor 1: CUIDAR - Esse é o sétimo verbo e expressa o conjunto da intervenção do samaritano. Trata-se de um cuidado coletivo, que envolveu outros personagens, recursos financeiros, estruturas que o viajante não dispunha e o compromisso de retornar.

DEUS NOS ESCUTA E NOS ALIMENTA

Animador: Rezemos, após cada invocação "Senhor, escutai a nossa oração"

Leitor 1: Que possamos ver a realidade dos sofredores, especialmente enfermos e anciãos, digamos:

Leitor 2: Que usemos de compaixão, a exemplo do bom samaritano no dia a dia da nossa existência e no contato com aqueles que sofrem, digamos:

Leitor 1: Para que a Campanha da Fraternidade aproxime a comunidade cristã daqueles que mais necessitam e realize o sonho de um mundo mais fraterno e justo, digamos:

Leitor 2: Que a presença de cada um de nós, com nossos dons e serviços, cure aqueles que pedem a nossa solidariedade, digamos:

Leitor 1: Que a nossa comunidade, e cada um de nós, coloquemos a serviço dos enfermos e dos familiares os próprios bens, digamos:

Leitor 2: Para que os profissionais da saúde, médicos, enfermos, e cada um de nós, sejamos sensíveis e fraternos com os enfermos, digamos:

Leitor 1: Para que a sociedade inteira cuide da saúde pública do nosso país, promovendo vida para todos, digamos:

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Jesus não conheceu uma vida fácil e tranquila - José Pagola

por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1,12-15 que corresponde ao Primeiro Domingo da Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.


Eis o texto

ENTRE CONFLITOS E TENTAÇÕES

Antes de começar a narrar a atividade profética de Jesus, Marcos escreve estes breves versículos: "O Espírito levou Jesus para o deserto. Ficou no deserto quarenta dias deixando-se tentar por Satanás; vivia entre bichos, e os anjos serviam-no". Essas breves linhas são um resumo das experiências básicas vividas por Jesus até a sua execução na cruz.

Jesus não conheceu uma vida fácil e tranquila. Viveu impelido pelo Espírito, mas sentiu na Sua própria carne as forças do mal. A Sua entrega apaixonada ao projeto de Deus levou a viver uma existência desgarrada por conflitos e tensões. Dele temos de aprender a viver em tempos de prova.

"O Espírito levou Jesus para o deserto". Não o conduz a uma vida cômoda. Leva-o por caminhos de prova, riscos e tentações. Procurar o reino de Deus e a Sua justiça, anunciar Deus sem o falsear, trabalhar por um mundo mais humano é sempre arriscado. Foi para Jesus e será para os Seus seguidores.

"Ficou no deserto quarenta dias". O deserto será o cenário pelo que transcorrerá a vida de Jesus. Esse lugar inóspito e nada acolhedor é símbolo de prova e purificação. O melhor lugar para aprender a viver do essencial, mas também o mais perigoso para quem fica abandonado às suas próprias forças.

"Tentado por Satanás". Satanás significa "o adversário", a força hostil a Deus e a quem trabalha pelo Seu reinado. Na tentação descobre-se o que há em nós de verdade ou de mentira, de luz ou de trevas, de fidelidade a Deus ou de cumplicidade com a injustiça.

Ao longo da Sua vida, Jesus manter-se-á vigilante para descobrir "Satanás" nas circunstâncias mais inesperadas. Um dia rejeitará Pedro com estas palavras: "Afasta-te de mim, Satanás, porque os Teus pensamento não são os de Deus". Nos tempos de prova temos de os viver, como Ele, atentos aos que nos podem desviar de Deus.

"Vivia entre bichos, e os anjos serviam-no". As feras, os seres mais violentos da terra, evocam os perigos que ameaçaram Jesus. Os anjos, os seres melhores da criação, sugerem a proximidade de Deus que o abençoa, cuida e sustem. Assim viverá Jesus: defendendo-se de Antipas a quem chama "raposa" e procurando na oração da noite a força do Pai.

Temos de viver estes tempos difíceis com os olhos fixos em Jesus. É o Espírito de Deus o que nos está empurrando para o deserto. Desta crise sairá um dia uma Igreja mais humilde e mais fiel ao Seu Senhor.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Por um mundo melhor – Silvio Brito

Vem beber a água dessa fonte

Divisar um novo horizonte

Vem vamos seguir a mesma estrada

E subir a escada que nos leva ao céu

Vem essa corrente precisa ser maior

Somos a semente de um mundo bem melhor

Somos todos um, num mesmo ideal,

Uma vida sem final

Somos todos um, num mesmo ideal,

Uma vida sem final

Se você sentir a força da razão

E se viu disposto a repartir o pão

Vem lavrar a terra, colher o milho

Vem ser meu amigo, me chamar de irmão

Vem essa corrente precisa ser maior

Somos a semente de um mundo bem melhor

Somos todos um, num mesmo ideal,

Uma vida sem final

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Linda celebração da quaresma publicada no CEBI

Tempo de Quaresma - Tempo de Amor: por isso Tempo de Mudanças e Ousadias (Paulo Ueti)

Oh, tu que, em silêncio, vives no fundo do coração.

Revela-nos a tua imensa realidade,

Faze que vivamos a tua viva presença.

Tu que, em silêncio, vives no fundo do coração.

1. Introdução

Iniciar a celebração cantando uma música conhecida da comunidade que trás boas lembranças e alegria.

2. Tocando em frente

3. Ambientação e partilha

Acende-se uma vela. Providencia-se um pote com sal. Deixa-se passar pelas mãos das pessoas: a vela e o pote de sal.

a) O que gostaríamos de celebrar neste momento?

b) Que desejos temos para o presente?

c) Que desejos temos para mudanças: na vida pessoal, na comunidade, na política, na igreja...?

4. Canto

Todas as coisas são mistério.

Todas as coisas são mistério.

O que me faz viver, o que me faz te amar.

Nem sequer quando penso em você,

Não consigo explicar.

O vento que sopra na rosa,

A luz que brilha em teu olhar,

O que ferve no aqui dentro

Do peito, ao te beijar.

5. Memória Bíblica

Vamos ler Mateus, 6 dos versículos de 1 a 18.

Partilha

a) o que nos chama a atenção neste texto?

b) o que gostaríamos de dizer uns aos outros neste tempo de partilha e conversão?

6. Oração

7. Canto e partilha.

As pessoas vão compartilhando, dando umas as outras e desejando paz e esperanças para o cotidiano da vida. Isso pode ser dito sem palavras, com um grande e forte abraço, olhar, beijo.

Benção

Que a terra abra caminhos sempre à frente dos teus passos. E que o vento sopre suave aos teus ombros. Que o sol brilhe sempre cálido e fraterno no teu rosto. Que a chuva caia suave entre teus campos. E até que nos tornemos a encontrar. Deus te guarde no calor do teu abraço; e até que nos tornemos a encontrar. Deus te guarde, Deus nos guarde no carinho do beijo e do nosso abraço. Amém.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os sete verbos da Parábola do Bom Samaritano

O samaritano é aquele que em face da necessidade do outro a assimila e se deixa transformar por ela. Não só porque cuida do ferido e lhe dá abrigo, mas porque o faz em prejuízo dos seus próprios planos iniciais. Tornar-se próximo compreende uma vulnerabilidade ativa, um aceitar tornar-se frágil nas mãos de outrem. O que essa dimensão revela é outra dimensão da fragi­lidade humana, uma dimensão ativa que se manifesta em ato de entrega ao projeto do outro, o que implica deixar-se nas mãos de quem se cuida. Essa atitude é revelada nos sete verbos desta parábola e indica um modo de ser diante do outro, que pode iluminar o engaja­mento da Igreja e dos cristãos no campo da saúde pública.
Ver - a primeira atitude do samaritano que descia pelo cami­nho foi enxergar a realidade. Ele não ignorou a presença de alguém caído, de alguém que teve seus direitos violentados e que se encontra à margem da estrada. Esta atitude, porém, não é suficiente. O ‘sacerdote’ e o ‘levita’ que haviam passa­do antes dele também ‘viram’, mas passaram adiante. “Bom samaritano é todo homem que se detém junto ao sofrimento de outro homem, seja qual for o sofrimento”.

Compadecer-se - a percepção da presença do caído condu­ziu o Samaritano à atitude de compaixão. Ele deixou-se afe­tar pela presença do violentado que jazia quase morto. A compaixão diante da fragilidade do outro desencadeou as demais atitudes tomadas pelo samaritano. “Bom samaritano é todo homem sensível ao sofrimento de outrem, o homem que se ‘comove’ diante da desgraça do próximo. Se Cristo, conhece­dor do íntimo do homem põe em realce esta comoção, quer dizer que ela é importante para todo o nosso modo de comportar-nos diante do sofrimento de outrem. É necessário, portanto cultivar em si próprio esta sensibilidade do coração, que se demonstra na compaixão por quem sofre. Por vezes esta compaixão acaba por ser a única ou a principal expressão do nosso amor e da nossa solidariedade com o homem que sofre”.

Aproximar-se - ao contrário dos que o antecederam, o via­jante estrangeiro aproximou-se do caído, foi ao seu encon­tro, não passou adiante. No homem assaltado, ferido, ne­cessitado de cuidado, reconheceu seu próximo, apesar das muitas diferenças entre ambos.

Curar - a presença do outro exige cuidado. A aproximação, a compaixão não são simplesmente sentimentos benevolen­tes voltados ao outro. Elas se tornam obra, se transformam em ação que lança mão dos elementos que tem disponíveis para salvar o outro.

Colocar no próprio animal - este passo também é significa­tivo. Ele colocou a serviço do outro os próprios bens. Não temeu disponibilizar ao desconhecido ferido tudo o que dis­punha: primeiro seu meio de transporte, depois o que trazia para seu autocuidado, dinheiro.

Levar à hospedaria - o samaritano não só viu, aproximou-se, curou, colocou no próprio animal, por fim, também mudou o seu itinerário, adaptando-se para poder atender aquele necessitado. E ainda mais: ele acabou mobilizando e envol­vendo outras pessoas e estruturas para não deixar morrer aquele que fora assaltado. Isso é muito importante, pois nem sempre conseguimos responder a todas as demandas, mas podemos mobilizar outras forças para atender e cui­dar de quem sofre. Trata-se de criar parcerias, ser referência e contrarreferência. “A Igreja em sua missão profética, é cha­mada a anunciar o Reino aos doentes e a todos os que sofrem, cuidando para que seus direitos sejam reconhecidos e respeita­dos, assim como a denunciar o pecado e suas raízes históricas, sociais, políticas e econômicas, que produzem males como doença e a morte”.

Cuidar - esse é o sétimo verbo e expressa o conjunto da intervenção do samaritano. Trata-se de um cuidado coleti­vo, que envolveu outros personagens, recursos financeiros, estruturas que o viajante não dispunha e o compromisso de retornar. Mesmo que ele tenha dado sequência à sua via­gem, ela não teve o mesmo fim, nem se limitou a cumprir os objetivos iniciais. A razão é que agora ela incluiu outra pessoa, um compromisso que não estava planejado no início da viagem, mas não pode mais ser ignorado. Cuidar passa a ser uma missão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

CF 2012

Fraternidade e Saúde Pública - Pe. Alfredo J. Gonçalves

por Adital - Notícias da América Latina e do Caribe

A Campanha da Fraternidade da CNBB sempre nos propõe um tema para estudo, reflexão e ação durante o tempo litúrgico da Quaresma. Trata-se, na verdade, de complementar a conversão pessoal, própria deste período, com uma conversão de caráter pastoral e sociopolítico. Nessa perspectiva, a campanha elege determinada situação de abandono ou precariedade como centro de nossa atenção. Neste ano de 2012, está em pauta a Fraternidade e a Saúde Pública, cujo lema sublinha uma frase bíblica: "que a saúde se difunda sobre a terra..." (Eclo, 38,8).

A CF/2012 põe o dedo numa das feridas sociais mais profundas deste país. É como se os pastores percorressem as longas filas do INSS, ouvissem os clamores de inúmeros doentes em busca de tratamento e sentissem suas "angústias e tristezas", para usar a expressão do Concílio Ecumênico Vaticano II (Gaudium et Spes, nº 1). O Brasil é falho em termos de atendimento público, mas não em termos de leis relacionadas à saúde, como veremos adiante. Originalmente, "o sistema único de saúde brasileiro [SUS] tem uma concepção filosófica humanista-comunitária maravilhosa; é perfeita na teoria, mas na prática deixa muito a desejar, revelando-se um caos em termos de funcionamento" (Pe. Leo Pessini, in. Revista Vida Pastoral, nº 283, março-abril de 2012).

A declaração poderia estender-se a outras áreas sociais. Nas metáforas de Gilberto Freire, o Brasil sempre contou com uma dupla política, uma para a Casa Grande, outra para a Senzala: um sistema de educação para ricos, outro voltado aos pobres; um sistema de transporte para ricos, outro voltado aos pobres; um sistema de segurança para ricos, outro voltado aos pobres; um sistema de habitação para ricos, outro voltado aos pobres. Na pirâmide social, o andar de cima, histórica e estruturalmente, conta com um tratamento diferenciado. Para o andar de baixo, sobram os favores, as migalhas, tais como bolsa família, bolsa escola, minha casa minha gente, e assim por diante.

No caso da saúde, o contraste é mais estridente. Os gemidos que sobem das filas do INSS, dos corredores de postos de saúde e hospitais, além da falta de profissionais de saúde e das condições precárias oferecidas setores de baixa renda, tornam-se ensurdecedores diante dos privilégios reservados aos que podem arcar com os custos de um Plano de Saúde. Aliás, estes pagam três vezes: através dos impostos exorbitantes e da previdência social, como todos, acrescentando as prestações do dito plano. Mesmo assim, na hora da enfermidade, não está garantida uma coberta total.

E por falar em Planos de Saúde, vale salientar que todos eles em conjunto cobrem uma população de aproximadamente 40 milhões de pessoas, enquanto o SUS acaba sendo o "Plano de Saúde" de 150 milhões. Ou seja, numa população de 196 milhões, oito de cada dez brasileiros dependem do Sistema único de Saúde. Ainda em termos de comparação, uma consulta médica custa para o SUS cerca de R$ 7,00, ao passo que os diversos Planos de Saúde pagam ao redor de R4 80,00 por consulta. Evidente que os médicos migram em debandada para as unidades de saúde cobertas pelos planos. Concentram-se onde os ganhos são melhores!

Entretanto, não faltam normas para garantir o direito universal à saúde. Este consta, em primeiro lugar, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948); depois, de acordo com a Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, artigo 196, "a saúde é direito de todos e dever do Estado"; por fim, a Lei Orgânica da Saúde, nº 8.080/1990, que regulamenta o SUS, segundo citação do Pe. Leo, "garante os princípios do direito à saúde, do acesso universal e gratuito, da integração das ações preventivas com as curativas e da participação da comunidade (controle social) que se dá, de modo especial, por meio dos Conselhos de Saúde (criados pela Lei Federal nº 8.142/1990" (idem). A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, define a saúde não como ausência de doenças, e sim como o completo bem estar físico, mental e social. De um ponto de vista ainda mais amplo, poderíamos acrescentar a busca do equilíbrio psíquico e espiritual.

Entretanto, por melhor que sejam, as leis não bastam. O descompasso entre seu conteúdo e seu cumprimento chega a ser quilométrico, para não dizer infinito. Ocorre que, a exemplo de outros benefícios adquiridos, especialmente na área trabalhista e assistencial, o direito à saúde acaba reconvertendo-se em mercadoria. Mercadoria rara e cara, tanto em termos de acesso aos especialistas quanto na aquisição dos remédios necessários. Quem tem saúde deve pagá-la e que não tem deve comprá-la! A mercantilização da medicina constitui uma dos entraves mais sérios a uma saúde pública justa, abrangente e equitativa. A dor, a enfermidade e os medicamentos geram uma "indústria da doença", altamente lucrativa e cobiçada.

Indústria que pode ser mãe de outra ainda mais indecente: a judicialização da saúde. De fato, para ter acesso aos direitos garantidos pelas leis supracitadas, não basta correr ao primeiro posto de saúde ou ao hospital mais próximo. Muitas vezes será necessário apelar para a justiça. E aqui os custos com a burocracia e os honorários de advogados, acrescidos às perdas dos dias não trabalhados, alimentam outro tipo de "indústria da doença". Isso para não falar das fraudes, da corrupção, do tráfico de influência, da compra e venda de atestados medidos, e coisas desse gênero.

Nem precisaria concluir que o acesso aos meios de saúde e aos respectivos remédios torna-se bem mais difícil entre alguns segmentos da população. Entre eles, podemos citar os imigrantes sem documentos, os moradores de rua, os prisioneiros, os desempregados, as mulheres prostituídas, a população do campo... Mas a lista não é exaustiva. Nestes casos, vigoram muitas vezes a falta de conhecimento, as distâncias dos centros de saúde ou o simplesmente o medo de expor-se, como no caso dos estrangeiros "sem papéis".

Uma verdadeira política pública de saúde, além de combater tais "indústrias", deve concentrar seus esforços na melhoria do SUS - o "Plano de Saúde" dos pobres. Equipamentos de última geração; profissionais bem remunerados; atendimento humanitário; rede ampla e integrada, nas mais diversas especialidade; remédios ao alcance das famílias de baixa renda; descentralização da cidade para o campo, cobrindo todo território nacional... Eis alguns dos desafios!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O homem leproso representa a solidão e o desespero de tantos estigmatizados - José Pagola

por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1, 40-45, que corresponde ao 6º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto

AMIGO DOS EXCLUÍDOS

Jesus era muito sensível ao sofrimento de quem encontrava no Seu caminho, marginalizados pela sociedade, desprezados pela religião ou rejeitados pelos setores que se consideravam superiores moral ou religiosamente.
É algo que Lhe sai de dentro. Sabe que Deus não discrimina ninguém. Não rejeita nem excomunga. Não é só dos bons. A todos acolhe e bendiz. Jesus tinha o hábito de levantar-se de madrugada para orar. Em certa ocasião revela como contempla o amanhecer: "Deus faz sair o Seu sol sobre bons e maus". Assim é Ele.

Por isso, por vezes, reclama com força que cessem todas as condenações: "Não julgueis e não sereis julgados". Outras, narra pequenas parábolas para pedir que ninguém se dedique a "separar o trigo e o joio" como se fosse o juiz supremo de todos.

Mas o mais admirável é a Sua atuação. O rasgo mais original e provocativo de Jesus foi o Seu hábito de comer com pecadores, prostitutas e gente indesejável. O fato é insólito. Nunca se tinha visto, em Israel, alguém com fama de "homem de Deus" comendo e bebendo animadamente com pecadores.

Os dirigentes religiosos mais respeitáveis não o puderam suportar. A sua reação foi agressiva: "Aí tendes a um comilão e bêbado, amigo de pecadores". Jesus não se defendeu. Era certo. No mais íntimo do Seu ser sentia um respeito grande e uma amizade comovedora para com os rejeitados da sociedade ou da religião.

Marcos recolhe no seu relato a cura de um leproso para destacar essa predileção de Jesus pelos excluídos. Jesus atravessa uma região solitária. De repente aproxima-se um leproso. Não vem acompanhado por ninguém. Vive na solidão. Leva na sua pele a marca da sua exclusão. As leis condenam-no a viver afastado de todos. É um ser impuro.

De joelhos, o leproso faz a Jesus uma súplica humilde. Sente-se sujo. Não lhe fala de doenças. Só quer ver-se limpo de todo estigma: «Se queres, podes limpar-me». Jesus comove-se ao ver a Seus pés aquele ser humano desfigurado pela doença e o abandono de todos. Aquele homem representa a solidão e o desespero de tantos estigmatizados. Jesus «estende a Sua mão» procurando o contato com a sua pele, «toca-lhe» e diz-lhe: «Quero. Ficar limpo».

Sempre que discriminamos a partir da nossa suposta superioridade moral a diferentes grupos humanos (vagabundos, prostitutas, toxicómanos, sidoticos, imigrantes, homossexuais...), ou os excluímos da convivência negando-lhes o nosso acolhimento, estamos a afastar-nos gravemente de Jesus.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Do Cebi

Leproso - Amanda Ferrari

A Bíblia não revela o seu nome
Nem sequer seu endereço
Mas a historia aconteceu,
De um homem que era muito desprezado
Sim, por todos humilhado, era triste o destino seu.
Quero crer que este homem tinha família
Trabalhava todo dia, e também temia a Deus
De repente algumas manchas no seu corpo
Era pra ele um desgosto, começou lhe incomodar
Era triste a sua sorte procurou um sacerdote e pediu para o examinar

E o sacerdote então passando a mão de uma agulha começou a furar suas feridas,
Me fale, me responda por favor, se esta sentido dor, porém ele disse não
O sacerdote ficou muito espantado, chamou aquele homem ao lado
E então lhe falou: O seu caso é complicado é tenebroso,
Ouça o que vou lhe dizer: Você esta leproso!

Aquele homem viu seus sonhos espalhado pelo chão
Acabou a esperança era triste a sua situação
Ficou tão desesperado era triste o cenário
Quando o sacerdote disse: seu lugar é o leprosário!

E aquele homem soube que Jesus estava na cidade,
Saiu ao seu encontro, batendo no peito tocando sua campinha e dizendo:
Eu sou leproso, saiam da frente porque eu quero ver Jesus!
E de repente alguém no meio da multidão grita em alta voz:
Fujam porque lá vem o leproso!


E a multidão se afastou por um curto espaço de tempo,
E ali ficou ele e Jesus, e ele começou a olhar dentro de seus olhos
E o rosto de Jesus começou a brilhar,
E o leproso disse a ali está minha cura, ali está minha esperança
E de repente Jesus se aproximou dele,
O leproso disse: não chegue mais perto o senhor pode pegar lepra
E o leproso esquecendo de sua lepra começou adorar a Jesus
Como ele é lindo, como ele é maravilhoso
E Jesus tocou nele e a lepra foi embora

Quem toca nele e libertado restaurado seja onde for.
Recebe a cura a unção o carinho e amor
Deus jamais esquece um filho seu sozinho
Quem toca nele pode crer que na hora é abençoado
Seja câncer, seja AIDS logo é curado, toque pela fé Deus está aqui, Ele esta aqui

(Deus Está aqui)
Pra mudar o rumo da sua historia,
Apagar seu passado escrever nova história
Receba o milagre Deus aqui
Deus Está Aqui
Pra mudar o rumo da sua história,
Apagar teu passado escrever nova história
Receba o milagre Deus aqui

Ele está aqui (Está aqui) , sinta ele ai (sinta Ele aí)
Deus esta aqui (Deus Está Aqui), toque nele ai,
Deus esta aqui, sinta ele ai

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Publicado no Cebi

Nascem profetas - Marcelo Barros

por Adital

(Marcelo Barros é autor do livro O espírito vem pelas águas)

No Brasil, no dia 07 de fevereiro, nasceu um grande profeta e no mesmo dia, outro profeta deu a vida pelo povo. De fato, no dia 07 de fevereiro de 1756, no sul do Brasil, perdeu a vida o cacique guarani Sepé Tiaraju, defendendo a terra e a liberdade do seu povo contra os exércitos reunidos de Portugal e Espanha. Sepé Tiaraju era o nome que os índios lhe deram. Significa "facho de luz". Até hoje, o povo da região o venera com o título de São Sepé, inclusive, nome de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. No mesmo dia 07 de fevereiro, já no começo do século XX, nasceu no nordeste brasileiro, uma criança que se tornou Dom Hélder Câmara, bispo dos pobres e profeta da justiça e da libertação.

Todo ser humano pode ser um profeta ou profetiza. Há as pessoas que, desde que nascem, desenvolvem este dom. Outros o descobrem no decorrer da vida. Outros/as passam a vida inteira sem acessar essa capacidade que tem nomes diversos conforme a cultura e tradição na qual se desenvolve e que a Bíblia chama de profecia.

Para muitas culturas indígenas, profeta é alguém que interpreta sonhos, se comunica com os espíritos e interpreta o futuro. Na tradição bíblica mais antiga, os profetas eram videntes que, em comunidade, aconselhavam as pessoas sobre o que fazer na vida e previam o destino do povo. Pouco a pouco, descobriram que sua vocação não era tanto a de apenas pressentir o mundo invisível, mas principalmente ser porta-vozes do Espírito para revelar o projeto divino para o mundo. Deus não intervém diretamente na nossa história e respeita ao máximo a autonomia humana. Por isso, para descobrir sua palavra, homens e mulheres que desenvolvem a vocação profética têm de viver uma profunda busca e discernimento da palavra divina que devem reproduzir. E devem ter muito cuidado para não projetar seus desejos e confundir a palavra de Deus com seus próprios discursos e pensamentos. Durante toda a sua vida quem é profeta ou profetiza busca sinais para poder confiar que a sua intuição vem mesmo da inspiração divina.

Há profetas em todas as religiões e mesmo fora das tradições espirituais. Cada profeta recebe de Deus uma profecia própria. Dom Helder viveu a profecia de sempre ajudar a abrir a Igreja Católica para o diálogo com o mundo, o diálogo com as outras igrejas e as mais diversas religiões. Em uma época na qual os padres e bispos eram formados para verem o comunismo ateu como o inimigo número um, Dom Hélder sempre procurou dialogar com os marxistas e aprofundou uma sincera amizade com Roger Garaudy que na época saia do Partido Comunista Francês. Ele via como sua vocação de cristão ser como Jesus, nunca se negar a dialogar com ninguém e, ao contrário, pelos frutos, valorizar a árvore. Isso o levava a se unir a todos os que buscam transformar esse mundo injusto e garantir o direito dos mais pobres. Diferentemente do índio Sepé Tiaraju, porque viveu em outras condições históricas, Dom Hélder sempre optou pela luta não violenta que ele chamou de insurreição evangélica. Aos 89 anos, no Recife, recebeu o famoso Abbé Pierre. Juntos, declararam à imprensa: "Durante toda a nossa vida, lutamos pela justiça e para transformar esse mundo. Agora, no final de nossa vida, percebemos que não conseguimos muita coisa. Mas, nos comprometemos de novo a ir até o último suspiro lutando por essa mesma causa que cremos: Deus confiou a todos nós que cremos nele".

Os Atos dos Apóstolos afirmam que o Espírito Santo vem sobre os discípulos de Jesus e se espalha por toda a terra, fazendo de todas as pessoas que o acolhem, profetas e profetizas do projeto divino no mundo. Por isso, todos os dias, nascem profetas.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Reunião da coordenação Setorial.


Estamos na casa do Vanderlei para mais uma reunião de trabalho

Pauta
1- Formação de Coordenadores Paroquiais Módulo VIII
2- Reunião Setorial
3- Formação coordenadores Paroquiais IX
4- Outros

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Retirado do CEBI


A Cura da sogra de Pedro – Ildo Bohn Gass

Aproximando-se, ele a tomou pela mão e a fez levantar-se...

(Marcos 1,29-39)

A passagem do evangelho segundo Marcos proposta para este final de semana está claramente dividida em três partes.

A cura de uma mulher para a diaconia, o serviço (1,29-31)

No Evangelho segundo Marcos, a primeira cura realizada por Jesus é a expulsão de um espírito impuro de um homem que está sob o domínio de escribas e da sinagoga de Cafarnaum, cidade onde Jesus foi morar, ao iniciar sua missão (Marcos 1,21-28). A lei imposta pelos escribas na sinagoga e no templo, além de ser um peso na vida das pessoas (cf. Mateus 23,1-4; Lucas 13,10-17), impedia que se pensasse e agisse orientado pelo Espírito de Deus. Pois, no dizer de Paulo, “a letra mata, o Espírito é que dá a vida” (2Coríntios 3,6). Por isso, Jesus salva as pessoas dessa força demoníaca que cria dependência e não liberta.

“Logo que saíram da sinagoga, foram com Tiago e João para a casa de Simão e André”(Marcos 1,29). Convém lembrar que, mais do que frequentar o templo, Jesus prefere as casas, prefere o encontro com povo nos caminhos. Ali, todas as pessoas têm acesso ao encontro com Deus. No templo, só podiam entrar os sacerdotes.

Esta narrativa relata a 2ª cura de Jesus, conforme Marcos. Agora, é a sogra de Simão que está doente (Marcos 1,30). Logo que soube, dirigiu-se à cama em que ela estava. Três coisas chamam a atenção. 1) “Ele aproximou-se” (Marcos 1,31). Mais que procurar quem é o próximo, Jesus se torna próximo. 2) “Tomando-a pela mão”, Jesus faz algo fundamental para quem trabalha com pessoas doentes e com quem está na exclusão. Valorizando o toque, o abraço, Jesus valoriza sobremodo as pessoas debilitadas. 3) Jesus “levantou-a”. Enquanto estava deitada, essa mulher não podia ser sujeito com agir próprio. Dependia de outras pessoas. Colocá-la em pé faz dela uma diácona, uma pessoa livre para servir. “E ela se pôs a servi-los”.

Convém lembrar que, se em Marcos a primeira pessoa curada foi um homem (Marcos 1,21-28), a segunda foi uma mulher. Jesus tratava as mulheres com a mesma dignidade com que se relacionava com os homens. Assim como tinha discípulos, tinha também discípulas. Quando Marcos menciona as mulheres que foram com ele até a cruz, cita Maria Madalena, Maria e Salomé, além de muitas outras mulheres que o seguiam, serviam e subiram com ele para Jerusalém como verdadeiras discípulas (cf. Marcos 15,40-41).

E o que nos resta senão também colocar-nos em pé e, com a força do Espírito de Jesus ressuscitado, tornar-nos pessoas livres para servir?

A prática de Jesus liberta de doenças e de possessões (1,32-34)

Naquele dia, depois do pôr do sol e junto à porta da casa de Simão e de André, Jesus ainda curou muitas pessoas enfermas e expulsou demônios, isto é, forças contrárias a Deus e que diminuem a vida de quem está sob seu domínio. As duas curas realizadas anteriormente, a do homem possesso e a da mulher enferma, são símbolos de toda prática libertadora de Jesus. E é prática que não para. Mesmo o sol já posto, Jesus continua libertando pessoas enfermas e endemoninhas.

A proibição de "falar, pois sabiam quem ele era" (Marcos 1,34) faz parte da intenção teológica de Marcos. Ele quer evitar a ideia de Jesus como um messias triunfalista, para reforçar a fé em Jesus como o ungido pelo Espírito de Deus (Marcos 1,10) que vence, aos poucos e de forma humilde como o servo sofredor, as forças contrárias ao espírito do Reino. Por isso, Marcos apresenta Jesus insistindo em que não se divulgue o seu messianismo aos quatro ventos. A proibição se estende aos demônios (Marcos 1,25.34; 3,12), às pessoas curadas (Marcos 1,44; 5,43; 7,36; 8,26) e a seus apóstolos (Marcos 8,30; 9,9), reservando essa revelação somente para o momento da cruz e pela boca de um estrangeiro: "Na verdade, este homem era Filho de Deus"(Marcos 15,39).

Senhor, Deus da vida,
ajuda-nos a acolher a tua graça que cura e liberta das enfermidades,
dos desejos egoístas e do consumismo individualista.
Ó Deus, livra-nos dessas forças que nos seduzem
e arrastam como possessão demoníaca,
forças que nos dominam e impedem de sermos pessoas livres
para, como criaturas novas, colaborar contigo
no serviço ao teu Reino de justiça, a exemplo da mulher que curaste.

De onde vem as forças para a nova prática de Jesus? (1,35-39)

Depois de um dia de atividades salvadoras e que vão noite adentro, Jesus descansa para estar com as energias renovadas para mais um dia de serviço à vida. Mas não basta novo vigor físico. Algo mais profundo é necessário.

Por isso, ainda de madrugada, Jesus se retira para um lugar deserto e ali cultiva sua íntima comunhão com o Pai, o Deus libertador do Êxodo. É que vai ao deserto, lugar por onde Deus guiou seu povo para a liberdade e "lá, ele orava" (Marcos 1,35).

A comunhão com o Pai é o segredo da força de Jesus na solidariedade com as pessoas mais desprezadas de sua época, entre elas as doentes e as possessas por todas as forças de alienação e que não permitem que sejam sujeitos de suas vidas. A intimidade com o Pai, essa espiritualidade de comunhão profunda com o sagrado, faz de Jesus uma pessoa radicalmente livre. A oração é a fonte onde Jesus bebe do mais puro Espírito que sustenta sua ação emancipadora junto às pessoas em estado de dependência, seja em relação às enfermidades, seja em relação às forças que nos alienam, impedindo-nos de sermos filhas e filhos livres e com dignidade.

Ó Deus,
concede-nos a graça que permite esvaziar-nos do espírito individualista,
das forças que geram discórdia, exclusão e sofrimento.
Senhor, que teu Espírito libertador do deserto nos transforme e impulsione,
tal como moveu Jesus de Nazaré,
ao ponto de sermos sempre mais semelhantes a ti,
pessoas livres para o serviço da vida,
da cura e de tudo que domina como possessão em nossas mentes e corações.
Amém!

Ildo Bohn Gass é bliblista, leigo católico. É autos da série Uma Introdução à Bíblia. Junto com o Pastor Carlos Dreher (IECLB) e a Revma. Lucia Sírtoli (IEAB), é autor do livro O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CF 2012

Retirado do texto-base CF2012

A palavra da Cruz

Cristo Jesus, que tem a mesma natureza do Pai, sofreu como homem. Aceita o sofrimento voluntariamente, como homem e homem inocente. O seu sofrimento é o sofrimento do inocente. Nesse caso, ainda há o agravante de o Homem sofredor ser o próprio Filho unigênito em pessoa: “Deus de Deus”. Então, seu sofrimento se reveste de profundidade e intensidade incompa­ráveis, capaz de abarcar a extensão do mal contida no pecado da humanidade. O Filho unigênito se sujeita a um sofrimento desta proporção, ao tomar sobre si os pecados, para cancelá-los e vencer todos os males.

A obra da redenção operada por Cristo, com sua paixão e morte na cruz, é a resposta mais completa à interrogação pelo sentido do sofrimento. Esta resposta não foi dada por meio de teorias, mas com o dom de si mesmo que comportou um sofrimento desmedido e intenso. São Paulo fala em palavra da cruz, como interpretá-la? (cf. 1Cor 1,18). Ele aceita desde o início este sofrimento, como vontade do Pai e por amor ao Pai, para a salvação do mundo. Neste sen­tido, a cruz é a realização mais perfeita das palavras: “Meu Pai... não se faça como eu quero... faça-se a tua vontade” (cf. Mt 26,42). A livre aceitação da cruz atesta o amor do Filho pelo Pai e sua confiança em sua obra de salvação. A verdade do amor se prova mediante a verdade do sofrimento extremo na cruz. Dessa forma, a paixão de Cristo representa a máxima expressão do sofrimento humano, que, nesta entrega do Redentor, recebe uma significação nova e profunda ao ser associado ao amor. A cruz de Cristo tornou-se uma fonte da qual brotam rios de água viva nela e por ela “Deus amou tanto o mundo que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna” (cf. Jo 3,16).