quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Texto da catequista Angela Rocha de Londrina-PR


ITINERÁRIO CATEQUÉTICO

“A Catequese é em processo dinâmico e abrangente de educação da fé, um itinerário, e não apenas uma instrução.” (CR 282).

O que seria afinal esse “Itinerário”?

Numa definição genérica, itinerário é a descrição de um trajeto a ser percorrido. Por exemplo: uma empresa de ônibus urbanos ao definir o itinerário de determinada linha, indica todos os pontos de parada do ônibus desde o início até o fim da linha. A esta indicação dá-se o nome de itinerário. Já um itinerário de turismo é um pouco mais elaborado: é um artigo que descreve uma rota por vários destinos ou atrações, dando sugestões de onde parar, o quê ver, como preparar-se, etc. Se a gente considerar os destinos como pontos em um mapa, o itinerário descreve uma linha que conecta os pontos.

Agora vamos considerar esta palavra na CATEQUESE.

“Um Itinerário Catequético é um circulo mais ou menos prolongado de encontros que integra uma ou várias temáticas (etapas, módulos, blocos) do mistério dentro do processo. Neste itinerário se inclui os conteúdos, as celebrações litúrgicas, a catequese mistagógica, a integração entre a comunidade e o compromisso apostólico.” Eu acrescentaria aqui ainda a dimensão família.

Isso significa que um itinerário é um PLANEJAMENTO, um mapa, um guia do caminho a ser percorrido. No caso da catequese, ele prevê objetivos a serem atingidos, conteúdos que serão explanados, ações transformadoras que se pretende e as dimensões celebrativas que darão suporte à catequese mistagógica.

Assim temos que, uma simples instrução, é chegar e expor o conteúdo, sem ligação ou compromisso com as ações transformadoras e com a dimensão litúrgica da catequese, não se envolve a comunidade ou a família. Em contraponto, o Itinerário prevê as conseqüências do que se ensina, na vida e na missão do catequizando, como isso será percebido e colocado em prática.

Falando mais na prática, um itinerário catequético PRECISA observar os seguintes pontos: primeiro observar a quem ele se destina (crianças, adolescentes, jovens, adultos, deficientes...); em seguida ver os objetivos da catequese (Sacramentos, formação cristã... ); verificar por fim, o tempo que demanda esta ação e a preparação dos “guias” (catequistas, introdutores) que irão trabalhar na condução do processo. Só aí então, construir o “roteiro/itinerário”, observando o seguinte:

- Conteúdos (temas e formação bíblica);
- Celebrações litúrgicas e mistagógicas (missas, entrega de símbolos, retiros, orações, Via sacra...);
- Vivencia comunitária (família, comunidade, festas, sociedade);
- Dimensão missionária (compromisso apostólico).

Enfim, o Iitnerário descreve o que se fará, EFETIVAMENTE, para se trabalhar o processo catequético, o "como" chegar a cada um dos objetivos (pontos), que se pretende, ou seja, o ensino da fé e a vivência cristã eclesial.

Angela Rocha


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Batismo do Senhor e o novo Brasil (Maria Clara Bingemer)


A festa do Batismo do Senhor é uma festa que põe em relevo a vida cristã antes de mais nada como missionária. A circunstancia mesma em que o Evangelho situa o Batismo de Jesus ressalta este aspecto. Antes de iniciar sua vida pública, Jesus deixa-se batizar por João, no rio Jordão. É sobre esse gesto, carregado de significados, que nos detemos, neste início de um novo Tempo Litúrgico em nossa Igreja.
Não é por acaso que Jesus se deixa batizar no início de sua vida pública. Com esse gesto, Ele marca uma nova etapa na Sua própria vida, deixando para trás Nazaré e sua família, e, partindo para viver em plenitude a missão que lhe foi confiada pelo Pai. Viver esta missão, que também é dada a cada um de nós, deve ser o centro da vida de todos os cristãos. Por isso, nosso batismo deve representar a aceitação dessa missão e a nossa intenção em vivê-la em plenitude, como o próprio Cristo viveu.
Também por isso, o batismo deve ser vivido com a graça própria dos sacramentos: sinal de Deus para um mundo conturbado e desejoso de paz.
Na cena do batismo de Jesus, vemos, em seu final, o Espírito de Deus aparecer sobre forma de uma pomba e pousar sobre o Cristo. Dos céus, uma voz disse: "Este é o meu Filho bem amado, no qual pus todo o meu contentamento." (Lc 3,
22) Com esse gesto, Deus nos mostra, não só o Seu amor especial por Jesus Cristo, mas a presença de Seu Espírito sobre Ele, acompanhando-O em Sua missão.
Em nosso batismo, também recebemos o Espírito Santo, espírito de ânimo, de fortaleza e de sabedoria que deve ser o nosso companheiro de Missão. É Ele que nos moverá, que colocará palavras em nossas bocas e que nos fará ser sinais de Deus em nosso tempo. Por isso, viver o batismo é viver a graça de possuir o sopro desse Espírito dentro de nós, e saber que, somente com Ele, por Ele e n´Ele poderemos ser verdadeiros filhos de Deus.
Neste momento que vivemos em nosso país, a celebração da Festa do Batismo do Senhor cobra uma especial importância. Estamos entrando em uma nova etapa, em um novo estilo de cidadania brasileira. Iniciamos um período em que as prioridades passam a ser as necessidades mais fundamentais da vida de um povo pobre e oprimido. Não são mais as grandes diretrizes do mercado financeiro que irão reger a vida da nação. Mas sim as necessidades mais básicas e simples do mais humilde dos cidadãos brasileiros.
A prova é que o novo governo traçou como prioridade um o combate à fome. E conclamou toda a sociedade a entrar nesse combate que impede o acesso de tantos a uma vida humana digna desse nome. Para que o combate à fome seja bem sucedido, será necessário não apenas o concurso de todos em ações concretas e eficazes, mas também uma conversão de estilo de vida, mais austero, mais sóbrio, com menos desperdício e mais simplicidade.
Um Brasil onde todos possam fazer três refeições ao dia e, portanto, ser bem nutridos, não pode ser um Brasil onde uns poucos se empanturram com o supérfluo que falta a muitos. Deve, pelo contrário, ser um país no qual aquilo de que poucos têm o direito de desfrutar se transforme em bem comum e partilhado por todos.
A festa do Batismo do Senhor, portanto, nos recorda que ser batizado não é apenas crer em verdades de fé e ter práticas piedosas e religiosas de vida. Mas é sobretudo assumir como sua a missão de Jesus, confirmada pelo Pai e pelo Espírito Santo: libertar os pobres, devolver a vista aos cegos, fazer os coxos andarem, libertar os cativos, fazer com que a justiça e o direito jorrem generosos para todos.
No Brasil passado a limpo pela vitória da democracia e pela ascensão à Presidência da República de um operário que conheceu a fome e a pobreza significará assumir como prioridade sua, em sua vida, o combate à fome e à miséria e a luta diuturna para fazer de cada cidadão brasileiro alguém vivo e plenamente capaz de ocupar seu espaço no mundo.
Se assim vivermos nosso Batismo, estaremos realmente sendo servidores da missão de Cristo. E ouviremos do Pai a consoladora confirmação de que somos seus filhos muito amados. E sentiremos o Espírito movendo-nos e dando-nos força para realizar proezas que pareciam impossíveis, mas que serão colocadas ao nosso alcance porque as realizaremos juntamente com Jesus.
Maria Clara Lucchetti Bingemer 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013


Quero

Quero o sorriso da chegada
Nunca o sofrer da despedida
Quero o frescor da madrugada
Nunca a face da amizade fingida.

Quero sentir teu coração
Batendo em ritmo de amor
Quero a vida em canção
Exalando o perfume da flor.

Quero estar sempre a teu lado
Caminhando na esperança
Vivendo a cada dia ensolarado
E sonhando a manhã criança.

Quero com graça envelhecer
Enxugar no rosto a lágrima
Esperar a hora bendita e colher
Levarei amigos deixarei estima.
Luiz Sergio Palhão

domingo, 13 de janeiro de 2013


Dos cadernos de formação


Vale a pena conferir o quanto o encontro pode mudar a
nossa vida. Vamos prestar atenção no significado do encontro do principezinho com a raposa, na
obra de Saint-Exupéry:
“E foi então que apareceu a raposa: (...)
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer “cativar”? (...)
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa “criar laços…”
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil
outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não
passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos
necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo… (...)
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se
parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me
cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente
dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
- O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os
campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram
coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me
tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no
trigo. (..)
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de
conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos,
os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
(Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe)
A liturgia faz nossa vida ser diferente. Ela expressa nossa espiritualidade através do culto,
do ritual, do gesto e do memorial, que transformam o cotidiano, tornando nosso mundo especial.
Nós precisamos de ritos e dos símbolos. Sem eles a vida não vira festa. Vejamos o que diz o diálogo
do Pequeno Príncipe com a raposa:
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da
tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei
feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu
vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração… É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente
dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito.
Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou
passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não
teria férias! Assim o principezinho cativou a raposa.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Paz aos excluídos


1. SITUANDO
O motivo que levou José e Maria a viajar para Belém foi o recenseamento decretado pelo imperador de Roma (Lc 2,1-7). Periodicamente, as autoridades romanas decretavam tais recenseamentos nas várias regiões do seu imenso império. Era para recadastrar a população e saber quanto cada pessoa tinha que pagar de imposto. Os ricos pagavam imposto sobre a terra e sobre os bens que possuíam. Os pobres pagavam pelo número de filhos. Às vezes, o imposto total chegava a mais de 50% dos rendimentos da pessoa.
Há uma diferença significativa entre o nascimento de Jesus e o nascimento de João. João nasce em casa, na sua terra, no meio dos parentes e vizinhos e é acolhido por todos (Lc 1,57-58). Jesus nasce desconhecido, fora de sua terra, no meio dos pobres, fora do ambiente da família e da vizinhança. "Não havia lugar para ele na hospedaria". Teve que ser deitado numa manjedoura.

2. COMENTANDO
2.1 Lucas 2,8-9: Os primeiros convidados
Os pastores eram pessoas marginalizadas, pouco apreciadas. Viviam junto com os animais, separados do convívio humano. Por causa do contato permanente com os animais eram considerados impuros. Ninguém jamais os convidava para vir visitar um recém-nascido. É a estes pastores que aparece o anjo do Senhor para transmitir a grande notícia do nascimento de Jesus. Diante da aparição dos anjos, eles ficam com medo.
2.2 Lucas 2,10-12: O primeiro anúncio da boa-nova
A primeira palavra do anjo é: "Não tenham medo!" A segunda é: "Alegria para todo o povo!" A terceira é: "Hoje!" Em seguida, vêm três nomes para identificar quem é Jesus: Salvador, Cristo e Senhor! SALVADOR é aquele que liberta todos de tudo que os amarra! Os governantes daquele tempo gostavam de usar o título de Salvador (Soter). CRISTO significa ungido ou messias. Era um título dado aos reis e aos profetas. Era também o título do futuro libertador. Significa que esse menino recém-nascido veio realizar as esperanças do povo. SENHOR era o nome que se dava ao próprio Deus! São os três maiores títulos que se possa imaginar. A partir deste anúncio do nascimento de Jesus como Salvador, Cristo e Senhor, você imagina alguém da mais alta categoria. E o anjo lhe diz: "Atenção! Tem um sinal! Você vai encontrar um menino deitado num barraco no meio dos pobres!" Você acreditaria? O jeito de Deus é diferente mesmo!
2.3 Lucas 2,13-14: Glória no mundo de cima, Paz no mundo de baixo
Uma multidão de anjos aparece e desce do céu. É o céu desabando sobre a terra. As duas frases do refrão que eles cantam dão o resumo do que Deus quer com o seu projeto. A primeira diz o que acontece no mundo lá de cima: "Glória a Deus nas alturas". A segunda diz o que vai acontecer no mundo cá de baixo: "Paz na terra aos seres humanos por ele amados". Se a gente pudesse experimentar o que significa realmente ser amado por Deus, então tudo mudaria e a paz viria morar na terra. E isto seria a maior glória para Deus que mora nas alturas.
2.4 Lucas 2,15-20: A palavra vai sendo acolhida e encarnada
A Palavra de Deus não é apenas um som que a boca produz. Ela é, sobretudo, um acontecimento! Os pastores dizem, literalmente: "Vamos ver esta palavra que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer!" Em seguida, Lucas diz que "Maria conservava estas palavras (acontecimentos) em seu coração" e as ruminava. São duas maneiras de se perceber  e acolher a Palavra de Deus: 1) Os pastores se levantam para ir ver os fatos e verificar neles o sinal que foi dado pelo anjo; 2) Maria conserva os fatos na memória e as confere no coração. Ou seja, ela conhece a Bíblia e tenta entender os fatos novos iluminando-os com a luz da Palavra de Deus.

3. ALARGANDO
Novamente, ao longo da descrição do nascimento de Jesus, Lucas sugere que as profecias se realizaram! Eis algumas delas:
Apareceu a luz das nações, anunciada por Isaías! (Is 9,1; 42,6; 49,6).
Nasceu o menino, prometido pelo mesmo profeta (Is 9,5; 7,14).
O menino que devia nascer para dar alegria ao povo e trazer a salvação de Deus (Is 9,2).
Ele nasceu em Belém. Por isso é o Messias prometido, conforme anunciou Miquéias (Mq 5,1).
Chegou o tempo da paz anunciada por Isaías, em que animais e seres humanos vão se reconciliar e farão desaparecer da terra toda a violência assassina (Is 11,6-9).
O imperador romano pensava ser o dono do mundo. Na realidade, ele não passava de um empregado. Sem saber e sem querer, ele executava os planos de Deus, pois o decreto imperial fez com que Jesus pudesse nascer em Belém e realizar a profecia (Lc 2,1-7).
O que chama a atenção neste texto são os contrastes:
Na escuridão da noite brilho uma luz (2,8-9)
O mundo lá de cima, o céu, parece desabar e envolver  nosso mundo cá de baixo (2,13).
A grandeza de Deus se manifesta na fraqueza de uma criança (2,7)
A glória de Deus se faz presente numa manjedoura de animais (2,16)
O medo provocado pela repentina aparição do anjo dá lugar à alegria (2,9-10)
Pessoas que vivem marginalizadas de tudo são as primeiras convidadas (2,8)
Os pastores reconheceram Deus presente numa criança (2,20)
Outro dia, foi dado o aviso: "O celebrante de hoje será o senhor João!" Muitas pessoas não aceitaram e saíram. Diziam: "O João nem sabe ler direito!" Qual a mensagem de Natal para estas pessoas que recusam o senhor João?              (fonte: http://www.cebi.org.br)


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Magos em Belém: culturas diferentes à busca de Deus (Mt 2,1-12) - Marcelo Barros


Irmãs e irmãos da comunidade de Mateus,
Quero conversar com vocês como se estivéssemos uns diante dos outros e vocês fossem conterrâneos deste início de século conturbado e tão carente de esperanças. No começo, pensei em escrever uma carta pessoal a Mateus, mas nenhum livro da Bíblia é de cunho somente individual. Além disso, embora desde os tempos mais antigos todos atribuam a Mateus a honra de ser o redator deste livro, nem ele assinou nem chama o texto de Evangelho (como Marcos inicia dizendo: "Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus"). Então, escrevo a vocês da comunidade, que participaram da experiência que gerou o texto de Mateus.
(...)
Ao contar a visita dos magos a Jesus Menino, vocês não pretendiam narrar um relato histórico ou um fato jornalístico. Quiseram significar o encontro de Jesus com os outros povos e culturas. Fizeram isso comentando textos bíblicos como Isaías 60, o salmo 72 e a profecia de Balaão (Nm 22-24). Vocês os comentam como os rabinos faziam, contando histórias (midrash), e nos presen­tearam esse relato tão bonito.
O poema do discípulo de Isaías (Is 60) e, talvez, mesmo o salmo vêm de uma época na qual Jerusalém estava sendo reconstruí­da. Os recursos eram poucos e, em comparação ao que era antes de ser destruída pelos babilônios, era uma aldeia. O profeta vê o sol nascer sobre a cidade e proclama a promessa de Deus de que, um dia, Jerusalém será luminosa e cheia de glória e os reis das nações a ela acorrerão trazendo presentes. Num contexto de sofrimento e de revalorização da identidade do povo pobre, aquela visão nada tinha de etnocentrismo. Era universalista. Aplicando essa profecia aos magos que vêm homenagear a criança pobre que nasceu em Belém, vocês a tornam mais universal ainda.
Embora não tenham dito que os magos eram reis e santos, como a tradição soube acrescentar, vocês contaram que eles gostavam das estrelas e vieram de longe, do oriente, atrás de uma estrela e em busca do Rei dos judeus que acabara de nascer neste mundo.
Com esse novo comentário narrativo de textos bíblicos (mídrash), desde o início do Evangelho, vocês associam as culturas e religiões diferentes à busca de Deus, ao reconhecimento de Jesus como "Rei dos Judeus" e ao acolhimento do Reino de Deus (ou dos céus, como vocês o chamam).
Na cultura judaica na qual a comunidade estava inserida, não deve ter sido fácil para vocês reconhecerem que até a astrologia e a interpretação dos sonhos podem conduzir pessoas como os magos ao Senhor. (Chouraqui chama os magos de "astrólogos''). Na região da Síria e da Ásia Menor era praticada a religião do deus Mitra. Era um sincretismo de antigos cultos ao sol. Os fiéis de Mitra contavam que o seu deus nasceu numa caverna na noite de 25 de dezembro (solstício do inverno e festa do sol que renasce do frio e da escuri­dão das noites cada vez mais longas). Aliás, por acaso, os sacerdotes de Mitra se chamavam "magos", porque eram homens que lidavam com os astros e com os mistérios da vida.
Será que, ao contar a bela história dos magos que vieram a Belém adorar o menino Jesus, vocês quiseram assumir algo da história de Mitra e transpô-la para o contexto cristão? Hoje, falamos muito de inculturação. Mas ainda há muitos bispos e pastores que têm preconceito contra sincretismo. Será que, nessa história, vocês da comunidade de Mateus queriam nos ensinar que há um tipo de sincretismo que é válido e compreensível?
(Fonte: http://www.cebi.org.br)