sexta-feira, 28 de junho de 2013

Do Cebi

Pedra de apoio ou pedra de tropeço? (Mt 16,13-19) - Mesters, Lopes e Orofino

por CEBI Publicações
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A COMUNIDADE DE FÉ
PEDRA DE APOIO OU PEDRA DE TROPEÇO?
Mateus 16,13-19

Texto extraído do livro "Travessia: Quero misericórdia e não sacrifício" - Círculos Bíblicos sobre o Evangelho de Mateus. Coleção a Palavra na Vida 135/136 do CEBI. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. Mais informações em vendas@cebi.org.br.

Neste texto aparecem muitas opiniões sobre Jesus e várias maneiras de se expressar a fé. Pedro, por exemplo, tem opiniões e atitudes tão opostas entre si que parecem não poder caber na vida de uma mesma pessoa. Hoje também existem muitas opiniões diferentes sobre Jesus e também várias maneiras de viver a fé, tanto dentro da gente como dentro da comunidade. Vamos conversar sobre isso.

SITUANDO
Estamos na parte da narrativa entre o Sermão das Parábolas (Mt 13) e o Sermão da Comunidade (Mt 18). Geralmente, nestas partes narrativas que ligam entre si os cinco sermões, Mateus costuma seguir a sequência do Evangelho de Marcos. De vez em quando, cita outras informações, também conhecidas por Lucas. E aqui e acolá, traz textos que só aparecem no Evangelho de Mateus, como é o caso da conversa entre Jesus e Pedro no texto de hoje. Este texto recebe interpretações diversas e até opostas nas várias igrejas cristãs.
Naquele tempo, as comunidades cultivavam uma ligação afetiva muito forte com as lideranças que tinham dado origem à comunidade. Por exemplo, as comunidades de Antioquia na Síria cultivavam a sua ligação com a pessoa de Pedro. As da Grécia com a pessoa de Paulo. Algumas comunidades da Ásia com a pessoa do Discípulo Amado e outras com a pessoa de João do Apocalipse. Uma identificação com estes líderes da sua origem ajudava as comunidades a cultivar melhor a sua identidade e espiritualidade. Mas também podia ser motivo de briga, como no caso da comunidade de Corinto (1Cor 1,11-12).

COMENTANDO
1. Mateus 16,13-16: As opiniões do povo e dos discípulos a respeito de Jesus
Jesus faz um levantamento da opinião do povo a respeito da sua pessoa. As respostas são variadas: João Batista, Elias, Jeremias, algum dos profetas. Quando pergunta pela opinião dos discípulos, Pedro se torna porta-voz e diz: "Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo!" A resposta não é nova. Anteriormente, os discípulos já tinham dito a mesma coisa (Mt 14,33). No Evangelho de João, a mesma profissão de fé é feita por Marta (Jo 11,27). Ela significa que em Jesus se realizam as profecias do Antigo Testamento.
2. Mateus 16,17: A resposta de Jesus a Pedro: "Feliz você Pedro!"
Jesus proclama Pedro "Feliz!", porque recebeu uma revelação do Pai. Aqui também a resposta de Jesus não é nova. Anteriormente, Jesus tinha louvado o Pai por ele ter revelado o Filho aos pequenos e não aos sábios (Mt 11,25-27) e tinha feito a mesma proclamação de felicidade aos discípulos por estarem vendo e ouvindo coisas que antes ninguém conhecia (Mt 13,16).
3. Mateus 16,18-19: As atribuições de Pedro: ser pedra e tomar conta das chaves do  Reino
3.1 Ser pedra: Pedro deve ser pedra, isto é, deve ser fundamento firme para a igreja a ponto de ela poder resistir contra as portas do inferno. Com estas palavras de Jesus a Pedro, Mateus anima as comunidades perseguidas da Síria e da Palestina que viam em Pedro a liderança marcante da sua origem. Apesar de fraca e perseguida, a comunidade tem fundamento firme, garantido pela palavra de Jesus. Ser pedra como fundamento da fé evoca a palavra de Deus ao povo no exílio:  "Vocês que buscam a Deus e procuram a justiça, olhem para a rocha (pedra) de onde foram talhados, olhem para a pedreira de onde foram extraídos. Olhem para Abraão seu pai e para Sara sua mãe. Quando os chamei, eles eram um só, mas se multiplicaram por causa da minha bênção" (Is 51,1-2). Indica um novo começo do povo de Deus.
3.2 As chaves do Reino: Pedro recebe as chaves do Reino. O mesmo poder de ligar e desligar diz: "É necessário que o Messias sofra e seja morto em Jerusalém". Dizendo que "é necessário", ele indica que o sofrimento estava previsto nas profecias. Não só o triunfo da glória, também o caminho da cruz. Se os discípulos aceitam Jesus como Messias e Filho de Deus, devem aceitá-lo também como Messias Servo que vai ser morto. Mas Pedro não aceita a correção de Jesus e procura dissuadi-lo.

3. ALARGANDO
Igreja, Assembleia
A Palavra Igreja, em grego ekklésia, aparece 105 vezes no Novo Testamento, quase exclusivamente nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas. Nos Evangelhos aparece três vezes, só em Mateus. A palavra significa literalmente "convocada" ou "escolhida". Ela indica o povo que se reúne convocado pela Palavra de Deus e procura viver a mensagem do Reino que Jesus trouxe. A Igreja ou a comunidade não é o Reino de Deus, mas sim um instrumento e uma amostra do Reino. O Reino é maior. Na Igreja, na comunidade deve ou deveria aparecer aos olhos de todos aquilo que acontece quando um grupo humano deixa Deus reinar e tomar conta de suas vidas.

Pedro, Pedra
Jesus deu a Simão o apelido de pedra (Pedro). Pedro era fraco na fé, duvidou, tentou desviar Jesus, teve medo no horto, dormiu e fugiu, não entendia o que Jesus falava. Ele era como os pequenos que Jesus proclamou felizes. Pedro era apenas um dos doze e deles se fazia porta-voz. Mais tarde, depois da morte e ressurreição de Jesus, a sua figura cresceu e se tornou símbolo da comunidade.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Um apoio para a reflexão:
“O fruto da evangelização e da catequese é fazer discípulos, acolher a Palavra,
aceitar Deus na própria vida, como dom da fé. O seguimento de Jesus Cristo realizase
na comunidade fraterna. O discipulado, como aprofundamento do seguimento,
implica renúncia a tudo o que se opõe ao projeto de Deus” (DNC 34).
"A Catequese é um ato essencialmente eclesial. Não é uma ação particular. A Igreja
se edifica a partir da pregação do evangelho, da catequese, da liturgia, tendo como
centro a celebração da Eucaristia. A catequese é um processo formativo, sistemático,
progressivo e permanente de educação da fé. Promove a iniciação à vida comunitária,
à liturgia e ao compromisso pessoal com o Evangelho. Mas prossegue pela vida
inteira, aprofundando essa opção e fazendo crescer no conhecimento, na participação
e na ação” (DNC 233).
“Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir
este tesouro aos demais é uma tarefa eu o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos
escolher” (DA 18).
Para aprofundar: Tem algum relato de vocação na Bíblia que me chama a atenção? Vamos
procurar mais um exemplo de vocação que possa iluminar a vocação do catequista?
“Aos catequistas, delegados da Palavra e animadores de comunidades que cumprem uma magnífica
tarefa dentro da Igreja, reconhecemos e animamos a continuarem o compromisso que adquiriram
no batismo e na confirmação” (DA 211).
“Quanto à situação atual da catequese, é evidente que tem havido um progresso. Tem crescido o
tempo que se dedica à preparação para os sacramentos. Tem-se tomado maior consciência de sua
necessidade tanto nas famílias como entre os pastores. Compreende-se que ela é imprescindível em
toda formação cristã. Tem-se constituído ordinariamente comissões diocesanas e paroquiais de
catequese. É admirável o grande número de pessoas que se sentem chamadas a se fazer catequistas,
com grande entrega. A elas, esta Assembléia manifesta um sincero reconhecimento” (DA 295).
“A catequese não deve ser só ocasional, reduzida a momentos prévios aos sacramentos ou à
iniciação cristã, mas sim “um itinerário catequético permanente” (DA 298).
“O encontro com o Ressuscitado transforma o medo em coragem; a fuga em
empolgação; o retorno em nova iniciativa; o egoísmo em partilha e compromisso até a
entrega da vida” (Texto Base do Ano Catequético, n. 3).
“A catequese, começando pela iniciação cristã e chegando a constituir-se em um
processo de formação permanente, é caminho de encontro pessoal e comunitário
com Jesus Cristo, que é capaz de mudar nossa vida, levar ao engajamento na
comunidade eclesial e ao compromisso missionário. Quem se encontra com ele, põese
a caminho em direção aos irmãos, à comunidade e à missão. (Texto Base do Ano
Catequético, n. 6).

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Dos Cadernos de Formação
Jesus: Boa notícia para os pobres e dom de Deus para o mundo.
Jesus anuncia a boa-nova, prega o Reino aos pobres por palavras e obras. Os sinais que ele
realiza apontam para o Reino e suscitam a esperança de que o Reino é possível mesmo no meio da
realidade oprimida. A prática de Jesus tem uma dimensão sócio-política, porque se expressa em
forma de justiça nas relações sociais. É um amor conflitivo que rompe com as cadeias da injustiça e
do pecado e leva a um novo dinamismo, a uma transformação integral.
A prática de Jesus é também uma prática profética, porque leva a combater tudo o que é
anti-reino, na defesa do verdadeiro Deus e na denúncia dos ídolos que ameaçam a vida do povo.
Jesus não ficou alheio às controvérsias de seus adversários sobre a realidade social e religiosa. O
evangelista Marcos acentua os conflitos de Jesus em diversos episódios: a cura do paralítico (2,1-
12); comer com os pecadores (2,15-17); a questão do jejum (2,18-22); espigas colhidas em dia de
sábado (2,23-28); a cura da mão seca (3,1-6).
O que realmente está em jogo é a visão de Deus. Por isso, Jesus não teme defender os
injustiçados, apontando para o Deus da vida e desmascarando as leis e os costumes que não estão a
serviço da vida humana.
Nenhuma lei pode estar acima da vida humana, mas a seu serviço.e nenhuma tradição de fé
pode ofuscar o mistério da vontade de Deus. É esta a causa de Jesus, ao desmascarar e denunciar a
imagem opressora de Deus. Ao denunciar esta imagem Jesus atrai a ira das classes que produzem
essa falsa imagem de Deus a serviço de interesses próprios.
Jesus escandaliza as autoridades quando equipara o amor de Deus ao amor do próximo. A
missão foi para Jesus e é para seu seguidor a forma de manter a supremacia do amor. Ter uma
missão é o que dá sentido a vida de Jesus e o amor é o princípio fundamental de sua vida.
Cristo está presente, escondido e sem rosto, na dor dos pobres e está também salvificamente
presente em todos aqueles que se aproximam dos pobres para libertá-los.
Missão libertadora em favor das vítimas
O modo de Jesus viver a fé é conflitivo: Jesus se coloca a favor dos oprimidos e contra os
opressores. Seu seguimento é conflitivo, porque gera perseguições.
Os pobres além de destinatários privilegiados da missão de Jesus, são sacramento da sua
presença, porque tornam presente Jesus profeta e evangelizador. Para conhecer Jesus é necessário
conhecer os pobres (Jon Sobrino).