terça-feira, 21 de abril de 2015

Missiologia

Estamos vivendo o Tempo das Santas Missões Populares, em comemoração aos 100 anos da nossa Diocese de Guaxupé, em Minas Gerais. Abaixo um texto do Padre Luis Mosconi:

MISSÕES POPULARES - Luis Mosconi e Firmino Spiegel

1. RESUMO E OBJETIVO

Resumo

No Brasil há várias experiências de Missões Populares. Essa aula conta uma delas e, ao mesmo tempo, é um guia que conduz à realização de novas experiências semelhantes. Através de um breve histórico e da caracterização como “tempo especial”, que faz descobrir o “tempo normal” da missão de cada dia, a aula procura aprofundar os objetivos das Missões Populares e mostrar a sua metodologia. As Missões Populares despertam para o sonho e a utopia da Missão de Deus no meio de nós. Algumas perguntas pertinentes procuram aprofundar os conteúdos e envolver os alunos e as alunas.

Objetivo

O objetivo desta aula é situar a proposta das Missões Populares no contexto amplo da sociedade e das pastorais como um instrumento de inspiração espiritual, de revigoramento pastoral através do eixo permanente e prioritário que é a “missão”, e de transformação social. O participante desta aula deve perceber a beleza da proposta e ter a possibilidade de encaminhar a própria base pastoral para, quem
sabe um dia, realizar essa proposta.

2. BREVE HISTÓRICO

Tudo começou em 1990, no Estado do Pará, entre alguns agentes pastorais e lideranças das CEBs. Constatávamos, com satisfação, muitos aspectos positivos; ao mesmo tempo percebíamos que as pastorais, em geral, apesar de iniciativas generosas, não conseguiam sintonizar com as aspirações das massas. Muitos católicos viviam afastados de suas comunidades (um problema que continua até
hoje). Víamos que as causas disso não estavam somente no povo, mas também na maneira de fazer pastoral; sentia-se a necessidade de buscar caminhos novos. De repente, alguém lançou uma pergunta: E por que não fazer Santas Missões? Sentia-se a necessidade de que os missionários viessem do meio do povo; que as Santas Missões fossem mais existenciais, mais inculturadas, mais abertas aos problemas humanos e sociais; e também que entre os objetivos não faltassem o cultivo do seguimento a Jesus Cristo, a valorização e a defesa da vida. Com as Missões Populares pensávamos em intensificar a caminhada das comunidades, fazendo das paróquias, onde elas iriam acontecer, uma rede de pequenas comunidades eclesiais.
Nesse sentido, a primeira experiência realizou-se em 1991, numa paróquia do sul do Pará, Xinguara – na época, uma região marcada pela violência do latifúndio. Foi uma experiência inesquecível. As pessoas mais envolvidas, cerca de duzentos missionários, entre os locais e os que tinham vindo de outras paróquias para ajudar nos dias de maior pique, queriam continuar. Continuamos e nunca mais paramos. Ao longo desses anos foram preparados mais de 100 mil missionários - jovens, adultos, idosos - das Santas Missões Populares. Assistimos o nascimento de um movimento missionário.

3. UM TEMPO ESPECIAL

As Missões Populares não são um movimento pastoral à parte e, sim, um serviço à Pastoral. Elas levam em conta as pessoas, a realidade pastoral do lugar e as grandes opções da Igreja na América Latina (Medellín, Puebla, Santo Domingo).
Por que as Missões Populares são um tempo especial? Pela intensidade da proposta e por uma finalidade pedagógica. O normal da nossa vida é o cotidiano, o dia-a-dia. As Missões Populares querem ser um serviço à cotidianidade da vida, relembrando e atualizando rumos, valores, atitudes, posturas, opções inegociáveis. Nossa vida precisa, de vez em quando, de um tempo especial, para acordar, para sacudir; é uma necessidade antropológica. De fato, quase sem perceber, caímos na rotina, corremos o perigo de viver uma vida repetitiva, rasteira, acomodada, arrastada, sem sonhos.
O mesmo perigo acontece também nos trabalhos pastorais. É importante perceber avanços, impasses, recuos, para agir eficazmente nelas através das Santas Missões Populares [fazer um trabalho de grupo ou cochicho para levantar as atitudes e os elementos que bloqueiam uma pastoral missionária profética no dia-a-dia].
As Missões Populares querem marcar presença significativa nessas situações pastorais. Situações das quais elas podem também se tornar vítimas. Isso depende muito do nível de consciência das equipes pastorais que conduzem o processo.

4. OBJETIVOS

Os objetivos das Missões Populares relacionados a seguir foram se firmando aos poucos, com a contribuição de muitos missionários e missionárias:

a) Ajudar as pessoas a dar um sentido autêntico à própria vida, no aqui e no agora. Ser sujeito histórico é o maior desafio para qualquer pessoa, de qualquer raça, crença, cultura, época e lugar.

b) Vivenciar a espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo e do seu Evangelho, como caminho seguro para uma autêntica existência humana e para construir uma sociedade justa, fraterna e solidária.

c) Convidar e envolver o maior número de pessoas no grande mutirão em defesa da vida e da cidadania para todos.

d) Fortalecer, reinventar, reproduzir a caminhada das CEBs (pequenas comunidades eclesiais), dando a ela maior qualidade.

e) Aprender a viver a comunhão no pluralismo dentro da nossa Igreja, como também em relação à sociedade e às outras Igrejas.

f) Valorizar, vivenciar, purificar, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, as culturas, a religião popular e a história vivida, e muitas vezes sofrida, do povo.

g) Despertar nas pessoas o gosto pela missão, pelo conhecimento do outro, do diferente, como algo que enriquece.

5. METODOLOGIA

A metodologia está a serviço dos objetivos, é iluminada por eles e é marcada pelas situações concretas. Nas Santas Missões Populares a metodologia deve dispensar uma atenção especial aos seguintes pontos:

5.1. Lugar e destinatários

As Missões Populares devem atingir toda a área da paróquia, tanto o interior como a cidade, onde querem provocar uma mexida significativa e ajudar a fazer da paróquia uma rede de pequenas comunidades eclesiais.
As Missões Populares são uma proposta da Igreja Católica, mas estão abertas a todas as pessoas que moram no território onde elas acontecem. Sem fanatismo, sem concorrência, sem ingenuidade. As pessoas que participam como agentes das Missões Populares, gostam do povo, amam as pessoas, são ecumênicas, pois colocam em primeiro lugar a vida com seus problemas, alegrias e desafios; e a vida
é ecumênica. Nas Missões Populares se desperta uma atenção especial aos católicos
afastados e aos preferidos de Jesus Cristo: os pobres, os pequenos, os marginalizados, os sociocultural e economicamente excluídos, os sem-voz e sem vez. A opção pelos pobres é uma questão de fé que faz parte intrínseca do seguimento a Jesus Cristo.

5.2. Preparação e realização: as diferentes etapas

A duração das Missões Populares está ligada aos objetivos e à situação do lugar onde elas acontecem. Geralmente há bastante falhas a esse respeito: muita correria, planejamento superficial, atividades apressadas. Existe o perigo da massificação. Após anos de experiência, achamos que a duração de cada Missão Popular deve ser de dois anos, com as seguintes etapas:

a) Etapa do namoro. Quando o pároco ou, melhor ainda, a equipe pastoral paroquial pede ajuda à equipe especializada para realizar as Missões Populares. Sugerimos primeiro um conhecimento profundo e detalhado da proposta nos seus conteúdos e metodologia. Geralmente isso acontece através do estudo do livro das Santas Missões Populares, publicado por nós e que funciona como um manual. Ao mesmo tempo, é importante que se fale sobre o assunto nas celebrações, nas reuniões de grupos, nas pastorais e comunidades; que se reze, para chegar a uma decisão consciente, assumida, participativa, tomada possivelmente numa assembléia extraordinária da paróquia. Essa etapa leva cerca de três meses.

b) Etapa do noivado. Como o noivado é o tempo bonito da preparação intensa ao
casamento, assim também é esta etapa das Missões Populares. Forma-se uma
coordenação paroquial com a tarefa de articular e acompanhar todo o processo.
Para evitar trabalhos paralelos, sugere-se que a coordenação seja assumida pelo
mesmo conselho pastoral paroquial ampliado. A coordenação enviará uma carta
circular a todos os grupos, pastorais, comunidades, movimentos, dando a boa
notícia. A partir desse momento, a Missão Popular torna-se o eixo de toda pastoral.
A paróquia deve evitar, nesse período, trabalhos paralelos, pois são altamente
prejudiciais.
Intensifica-se a seleção dos missionários e das missionárias, em cada setor. Isso
deve ser feito de uma maneira clara, cativante, consciente, responsável, aberta, ao
estilo de Jesus, que deu chance até a pessoas “suspeitas” e inexperientes, como os
apóstolos, na maioria pescadores; Judas, os simpatizantes do movimento zelota; as
mulheres como Maria Madalena e a samaritana. Organizam-se várias equipes de serviço para preparar o primeiro retiro dos missionários. Essa etapa leva cerca de
três meses.

c) Etapa da pré-missão. É casamento pra valer! E haja paixão! Há um crescendo de
atividades destinadas a acordar e envolver o maior número possível de pessoas nas
propostas das Missões Populares. Essa etapa começa com o primeiro grande retiro
dos missionários. No final do retiro ocorre a Missa de envio dos missionários com a
presença do maior número possível de pessoas de toda a paróquia. Esse período
tem a duração de sete a dez meses, com sugestão de atividades específicas a cada
mês, fruto de experiências comprovadas ao longo desses anos. Em seu decorrer,
haverá outros dois grandes retiros para os missionários locais, pois são eles que
conduzem todo o processo das Santas Missões Populares.
d) Etapa da grande semana missionária. É o momento mais intenso, mais
celebrativo da Missão Popular. É a “etapa do saborear” a beleza do Evangelho
vivido, testemunhado, celebrado. É uma etapa profundamente eclesial, com a
presença de missionários (leigos, padres, religiosas) vindos de outras paróquias e
comunidades e, na medida do possível, do bispo diocesano.
e) Etapa da pós-missão. É a “etapa do aprofundar e articular” todas as forças vivas
que despertaram ao longo das etapas anteriores. Duração: um ano (até o
aniversário da semana missionária). É uma etapa muito importante. É em seu
decorrer que se pode verificar se foi bem captado o espírito da Missão Popular e se
ela foi bem acompanhada.
5.3. Setores missionários
É importante organizar em setores missionários toda a área onde vai acontecer a
Santa Missão Popular, em vista de contatos mais personalizados e do surgimento
de missionários e seu respectivo acompanhamento.
Baseado em experiências anteriores, nas áreas do interior, o setor deve ser
formado por duas a quatro comunidades próximas, para permitir um trabalho em
conjunto. Quando em certos lugares, por causa das distâncias, não é possível
juntar comunidades, buscam-se outras soluções. Nas grandes cidades, para
permitir um trabalho bem personalizado, achamos que cada setor deve atingir uma
área de cerca 3 mil habitantes (nas cidades menores, os setores podem ter menor
número).
A Missão Popular acontece em todos os setores com a mesma programação,
decidida nos grandes retiros dos missionários. Cada um deles costuma ter um
dinamismo próprio, conforme a realidade, o nível de consciência e atuação dos
missionários. Critérios importantes são a fidelidade e criatividade, a comunhão e o
pluralismo. Os responsáveis pelo bom andamento do setor são os missionários que
são seus moradores. Nesse caso, ser responsável significa ter a capacidade de
envolver o maior número possível de pessoas, conduzindo o processo dentro dos
objetivos e da metodologia decididos nos grandes encontros de formação dos
missionários.
5.4. Perfil dos missionários e das missionárias
Optamos por uma presença numerosa, qualificada, participativa de missionários.
Por causa do papel fundamental dos missionários nas Missões Populares, sua
formação e seu acompanhamento são de grande importância. Geralmente,
pastorais, grupos, comunidades, movimentos eclesiais e sociais, mesmo os ditos
“mais avançados”, criam muita dependência entre seus membros. Sente-se falta de
pessoas que sabem assumir, personalizar convicções e opções. Há mais pessoas
tarefeiras do que criativas.
Nas Missões Populares apostamos muito na quantidade e na qualidade dos
missionários. Todas as forças vivas da paróquia, de todas as idades e categorias
sociais, são convidadas a serem missionárias no setor onde moram. Não se trata de
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acabar com isso ou aquilo, mas de viver o período da Missão Popular como um
tempo especial, com forte ardor missionário, saindo de esquemas mais rotineiros.
Os efeitos que irão aparecer, logo ou mais adiante, são muito positivos:
preconceitos são derrubados, barreiras são superadas; grupos e pessoas que se
desconheciam, agora se descobrem, partilham, criam laços, se abraçam,
valorizando dons e diferenças, dentro de um processo de conversão permanente
que envolve a todos. É toda a paróquia em estado de missão. Vai ser uma mexida
muito grande, uma ventania do Espírito Santo, um novo Pentecostes. É um tempo
de formação eclesial, ecumênico, orante e militante.
O convite a ser missionário é dirigido também a pessoas afastadas, através de
contatos personalizados, priorizando opções e estilos de vida, acima de leis e
normas. Ao longo da pré-missão, novos missionários irão surgindo. Os que
começaram primeiro terão a tarefa de acolhê-los e de partilhar com eles o caminho
percorrido até o momento.
Costumamos distinguir os missionários “locais” dos missionários “de fora”. Os locais
são os que moram na paróquia onde está acontecendo a Missão; os de fora são os
que já saborearam essa experiência em suas paróquias/comunidades e que foram
enviados por suas comunidades, sobretudo para ajudar no tempo da grande
semana missionária.
5.5. Presença dos padres
Na nossa Igreja, há muito poder de decisão concentrado nas mãos dos padres. Não
está bem clara a relação entre ministério e diretrizes pastorais. Essas deveriam ser
decididas nas assembléias, enquanto o ministério do pároco deveria ser um serviço
para realizar as diretrizes. Como conseqüência, há muita dependência no trabalho
das pessoas que atuam nas pastorais. Não se trata somente de democratizar o
poder, mas de viver a espiritualidade do discipulado, cada um assumindo tarefas
diferentes, conforme seus dons e valores.
Pelos motivos lembrados acima, as Missões Populares dependem muito do tipo de
presença do pároco. No interior do espírito das Missões Populares, aos párocos se
sugere as seguintes atitudes:
a) Crer no valor da proposta; abraçá-la de corpo e alma, no espírito, no conteúdo e
na metodologia básica.
b) Priorizar a Missão Popular. Ela deve ser o eixo de toda pastoral. Decidir
juntamente com todos os missionários locais (o momento ideal é durante o
primeiro grande retiro) os rumos, os objetivos da Missão. Evitar com firmeza
trabalhos paralelos.
c) Participar intensamente e de forma personalizada de todo o processo.
d) Estar aberto ao novo, aos apelos, às luzes que vão aparecendo. Nunca querer
adaptar o novo aos nossos esquemas.
e) Docilidade interior e atitude de conversão permanente.
f) Uma grande paixão missionária. Ir sempre além, sair da rotina, em busca
permanente, com uma grande atenção às pessoas e aos momentos históricos que
estamos vivendo.
g) Apostar na capacidade dos missionários leigos, dar toda chance e confiança, não
por estratégia, mas movidos pela fé e pelo amor às pessoas.
h) Saber conduzir todo o processo com discernimento, com sabedoria, com coração
de pastor, profeta e conselheiro; valorizando todo o positivo que aparece,
aprendendo com as falhas, apontando sempre caminhos de esperança.
As Santas Missões Populares são uma verdadeira escola de vida para os padres, as
religiosas e as demais lideranças pastorais.
5.6. Crianças e adolescentes missionários
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Quando começamos a caminhada das Missões Populares não pensávamos nas
crianças como missionárias. A partir de 1995, foram elas mesmas que irromperam.
Foram acolhidas com simpatia e empatia; e elas começaram a fazer maravilhas.
Hoje não entendemos mais Missões Populares sem a presença criativa das crianças
e dos adolescentes. Sem eles, que são portadores das boas notícias de Deus e dos
valores do Reino, elas não seriam populares.
Acontecem jornadas de encontros para crianças missionárias, para adolescentes
missionários, a fim de que elas mesmas decidam o tipo de presença que querem
marcar nas Missões Populares. Dá-se espaço a elas nas reuniões dos missionários,
nas decisões, nas celebrações. Criam atividades, tomam iniciativas. Em cada setor
deve haver uma pequena equipe de missionários jovens e adultos liberados para o
trabalho com as crianças e adolescentes. São chamados de acompanhantes, para
não esquecer que são as crianças e adolescentes que conduzem sua presença nas
Santas Missões Populares.
6. SONHOS E DIFICULDADES
6.1. Sonhos
Os sonhos sustentam a caminhada, sobretudo nas encruzilhadas difíceis. Sonhar é
romper as barreiras do medo, da mesquinhez, da incoerência. Sonhar é dar asas ao
mais autêntico que há em nós, às grandes aspirações presentes nos gemidos da
humanidade e dos acontecimentos históricos que estamos vivendo. Sonhar é
preciso, sempre; faz bem, renova; melhor ainda quando sonhamos juntos, em
mutirão.
Há sonhos bonitos presentes nos grandes objetivos das Missões Populares. É difícil
esquematizar sonhos, mesmo assim podemos indicar os mais significativos:
a) As Santas Missões Populares desenvolvem um grande amor, uma paixão pelo
povo, sem massificação ou populismo. O amor sempre personaliza as relações
humanas.
b) As Missões Populares querem ajudar as pessoas a encontrar e dar um sentido
autêntico à vida. Querem ajudar as pessoas a resgatar sua memória histórica, a
serem sujeitos capazes de corajosas opções de vida.
c) As Missões Populares cultivam a espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo
como caminho seguro para uma autêntica existência humana; e a propõem a todos
e todas.
d) As Missões Populares procuram despertar para os valores humanos e
evangélicos da conversão permanente, da reconciliação, da gratuidade de uma vida
solidária, simples e transparente; do silêncio, da escuta, da contemplação.
e) As Missões Populares forjam um sacerdócio missionário, co-responsável, a
serviço de toda a Igreja diocesana. Um presbitério que acredite no protagonismo
dos leigos. A ação pastoral em torno das Santas Missões aposta na caminhada das
pequenas comunidades eclesiais situadas no tempo e no espaço.
f) As Missões Populares colocam, com espírito de diálogo inter-religioso e
ecumênico, a missionariedade da Igreja local no centro de suas atividades
pastorais.
6.2. Dificuldades
Uma dificuldade particular das Missões Populares vem das pastorais, às
vezes,marcadas pela fragmentariedade, superficialidade e ativismos sem rumo
claro. Há mais gestos e ritos religiosos do que mística e espiritualidade; mais
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barulho do que silêncio e contemplação; mais estacionamento do que caminho;
mais medo do que ousadia; mais rostos cansados do que gosto e paixão.
Outra dificuldade são as situações difíceis em que vivem muitas pessoas:
desemprego, perda de referenciais e valores. Vivemos numa sociedade marcada
pela desigualdade, pela violência, pelo medo, pela indiferença. São situações que
ameaçam derrubar sonhos e esperanças. Sente-se falta de personalidades
verdadeiras, de lideranças eclesiais, sociais e políticas capazes de testemunhar,
assumir e conduzir autênticas aspirações humanas. Outra dificuldade é a
superficialidade, a falta de convicções profundas tão necessárias nas horas difíceis
da travessia.
Como assumir dificuldades e falhas, fazendo delas ocasião para purificar e refazer
nossas opções? Perdão, discernimento, esperança, ousadia se fazem necessários.
Sente-se necessidade de as equipes pastorais paroquiais captarem melhor o
espírito e o conteúdo das Missões Populares e de assumi-las com fidelidade e
criatividade.
Apesar das falhas que ocorrem nas Missões Populares, o saldo continua positivo,
porque o projeto das Missões Populares requer a participação de todos.

7. TAREFAS E PERGUNTAS
- Qual é o objetivo mais significativo das Missões Populares?
- As Missões Populares favorecem uma pastoral de conservação ou de
transformação?
- Quem já participou de Missões Populares deve ter a possibilidade de falar dessa
experiência. Como foi a continuidade?
- Quais as dúvidas, quais as certezas que ficam a respeito das Missões Populares?
- Trabalhar com as massas e/ou com pequenos grupos? Como você analisa esta
questão? Há relação?

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL/CNBB (Ed.). Santas Missões
Populares. Projeto Nacional de Evangelização. Queremos ver Jesus, caminho,
verdade e vida. São Paulo: Paulinas e Paulus, 2004.
MOSCONO, Luis. Santas Missões Populares. 10.ª ed. São Paulo: Paulinas, 2004.
VVAA. PRIMEIRO CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL. Igreja no Brasil, tua vida
é missão. Memórias. Belo Horizonte: Conselho Missionário Nacional (Comina),
2003.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Lição das abelhas

"As abelhas nos dão um grande exemplo de DESAPEGO.
Após construírem a colmeia, elas abandonam-na.
E não a deixam morta, em ruínas, mas viva e repleta de alimento.
Todo mel que fabricaram além do que necessitavam é deixado. Batem asas para a próxima morada sem olhar para trás.
Num ato incomum, abandonam tudo o que levaram a vida para construir.
Simplesmente, o soltam sem preocupação se vai para outro.
Deixam o melhor que têm, seja pra quem for – o que é muito diferente de doar o que não tem valor ou dirigir a doação para alguém de nossa preferência.
Se queremos ser livres, parar de sofrer pelo que temos e pelo que não temos, devemos abrigar um único desejo: o de nos transformar. Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão da perda.
O sofrimento vem da fixação a algo ou a alguém.
O apego embaça o que deveria estar claro: por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para nosso crescimento precisa entrar.
Se não abrirmos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?”
(Autor Desconhecido)

A Menina e o Pássaro Encantado

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
Até que não aguentou mais.
— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Esta história, eu não a inventei.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.

— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
— Tenho de ir — dizia.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Abriu a porta da gaiola.
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
* * *
Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
Essa é uma das belas história de Rubem Alves

terça-feira, 14 de abril de 2015

Comunidade de Comunidades: Uma nova paróquia

Na 52ª Assembléia Geral , da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Aparecida, nos dias 30 de abril a 09 de maio de 2014 é aprovado o documento nº 100 da CNBB -  Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia. O documento chama a atenção à conversão pastoral da paróquia. Pensar nas ações ultrapassadas e caducas e retornar a essência, frutos cultivados nas comunidades primitivas. Grupos menores, que caminham com pé no chão, ciente da realidade e dispostos a serem discípulos missionários. "A comunidade evangeliza e testemunha a alegria do Evangelho".

O texto reforça as palavras do Papa Francisco: "Pastoral é exercício da maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta e conduz pela mão.

Trata-se de uma proposta ousada e desafiadora. Sair do comodismo, não centrar o devocionismo, ir ao encontro do outro. Dependerá do empenho de todos.

Finalizando o documento, no último parágrafo temos uma mensagem de esperança: " Aquele que renova todas as coisas ilumine e conduza os passos da renovação paroquial que a Igreja no Brasil pretende. A nova realidade implica um novo entusiasmo por Deus e por seu Reino. A conversão paroquial exige uma renovação espiritual e pastoral que se expressa na nova evangelização.