segunda-feira, 20 de julho de 2015

Um guia para a Evangelii gaudium

"A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus": assim começa aEvangelii gaudium, com a qual o Papa Francisco aborda o tema do anúncio do Evangelho no mundo de hoje. É um apelo a todos os batizados, sem distinções de papel, para que levem aos outros o amor de Jesus em um "estado permanente de missão" (25), vencendo "o grande risco do mundo atual", o de cair em "uma tristeza individualista" (2).
A reportagem é de Aldo Maria Valli, publicada no sítio Vino Nuovo, 26-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O papa convida a "recuperar o frescor original do Evangelho". Jesus não deve ser aprisionado dentro de "esquemas enfadonhos" (11). É preciso "uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão" (25) e uma reforma das estruturas eclesiais para que "todas elas se tornem mais missionárias" (27). Nesse plano,Francisco entra no jogo em primeira pessoa. De fato, ele pensa também em uma "conversão do papado", para que seja "mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização".
O papel das Conferências Episcopais deve ser valorizado realizando concretamente aquele "senso de colegialidade" que até agora ainda não se concretizou plenamente (32). Mais do que nunca é necessária "uma salutar descentralização" (16) e, nessa obra de renovação, não é preciso ter medo de rever costumes da Igreja "não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho" (43).
O verbo posto no centro da reflexão é "sair". Que as Igrejas tenham em todos os lugares "as portas abertas" para que todos aqueles que estão em busca não encontrem "a frieza de uma porta fechada". As portas dos sacramentos também nunca devem se fechar. A própria Eucaristia "não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos". Isso determina "também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia" (47). Muito melhor uma Igreja ferida e suja, que sai pelas ruas, do que uma Igreja prisioneira de si mesma. Que não se tenha medo de deixar se inquietar pelo fato de que muitos irmãos vivem sem a amizade de Jesus (49).
Nesse caminho, a maior ameaça é aquele "pragmatismo cinzento da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se deteriorando" (83). Não devemos nos deixar levar por um "pessimismo estéril" (84). O cristão sempre deve ser sinal de esperança (86), através da "revolução da ternura" (88).
Francisco não esconde a discordância com relação a quem "se sente superior aos outros", por ser "irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado" e, "em vez de evangelizar, classificam os demais". Claro também é o julgamento negativo com relação àqueles que têm um "cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história" (95). Essa "é uma tremenda corrupção, com aparências de bem. (…) Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais!" (97).
A pregação tem um papel fundamental. As homilias devem ser breves e não devem ter o tom de lição (138). Aqueles que pregam devem falar aos corações, evitando o moralismo e a doutrinação (142). O pregador que não prepara "é desonesto e irresponsável" (145). Que a pregação ofereça "sempre esperança" e não deixe "prisioneiros da negatividade" (159).
As comunidades eclesiais devem se guardar da inveja e do ciúme. "Quem queremos evangelizar com esses comportamentos?" (100). De fundamental importância é fazer crescer a responsabilidade dos leigos, até agora mantidos "à margem das decisões" por causa de um "excessivo clericalismo" (102).
Também é importante "ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja", em particular "nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes" (103). Diante da escassez de vocações, "mão se podem encher os seminários com base em qualquer tipo de motivações" (107).
Além de ser pobre e para os pobres, a Igreja desejada por Francisco é corajosa em denunciar o atual sistema econômico, "injusto na sua raiz" (59). Como disse João Paulo II, a Igreja "não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça" (183).
ecumenismo é "um caminho imprescindível da evangelização". Devemos sempre aprender com os outros. Por exemplo "no diálogo com os irmãos ortodoxos, nós, os católicos, temos a possibilidade de aprender algo mais sobre o significado da colegialidade episcopal e sobre a sua experiência da sinodalidade" (246). O diálogo inter-religioso, por sua vez, é "uma condição necessária para a paz no mundo " e não obscurece a evangelização (250-251).
Na relação com o mundo, que o cristão sempre dê razão da própria esperança, mas não como um inimigo que aponta o dedo e condena (271). "Só pode ser missionário quem se sente bem, procurando o bem do próximo, desejando a felicidade dos outros" (272). "Se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida" (274).

terça-feira, 7 de julho de 2015

O Sentido da Pertença

Na Vida religiosa a palavra "pertença" não deve ser usada com o significado corriqueiro do verbo "pertencer". Para nós, pertença não é apenas o ser parte, é mais, é principalmente fazer parte ativa. Está relacionada a uma ideia de enraizamento, de integração e interação plenas, em que o indivíduo constrói e é construído, em que se sente "vento" e "vela", em que planeja e também se vê parte de um projeto, em que modifica e é modificado. O Religioso pode ser numa ocasião, o agente que dá força, dá ânimo, auxilia, suporta outro confrade e, em outra ocasião, é ele próprio que, necessitando do mesmo tratamento, o recebe de seus pares. Assim, às vezes é “vento’, outras vezes é “vela”.

Os que estão repletos do "espírito de pertença" comungam do mesmo propósito, seguindo o exemplo das primeiras comunidades cristãs: “A multidão (...) era um só coração e uma só alma...” (At 4,32).
Embebidos pelo espírito de pertença, os Frades têm o desejo de ver outros confrades recebendo às mesmas graças que as Fraternidades têm derramado sobre eles. O seu ideal é promover o fortalecimento e a expansão do Instituto, e para isso trabalham no sentido de vê-lo crescer e de surgirem novas Fraternidades. Estão animados por um ideal comum e desejam com alegria o que é bom para todos.
A primeira característica de quem está cheio do espírito de pertença é o seu desejo de servir desinteressadamente como ensinou Jesus (Mc 10, 45); ser cristão é assumir como lema de vida o serviço aos irmãos.
O espírito de pertença está fortemente relacionado ao serviço, à doação de si aos outros confrades e ao Instituto. As Fraternidades nos dão muitas forças e quem entende isso passa também a querer dar aos demais o que tem recebido. Na sua primeira carta Pedro exorta os irmãos: "Todos vós, conforme o dom que cada um recebeu, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pd 4,10). Dessa forma torna-se possível dizer: Eu pertenço ao INSTITUTO Missionário Servos do Senhor, dele me nutro, a ele me doo.
A pertença também anda ao lado da fidelidade. Esta fidelidade é indissociável da responsabilidade que deve ter todo Frade em relação ao INSTITUTO. Em qualquer nível é a fidelidade que identifica o sentimento de pertença a esta Família Religiosa. Como na parábola dos talentoso Instituto precisa de Frades fiéis. A estes será dada a devida recompensa:
"Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!" (Mt 25, 21). Se o Frade enterra o talento recebido, que ocupação terá, já que abandonou o seu instrumento de trabalho?
Se a pertença é serviço e fidelidade, o serviço e a fidelidade são o Amor. Não existe amor maior do que doar a sua vida pelos amigos ( Jo 15, 13).
É dedicando a sua vida e doando do seu amor que se pratica a pertença e, por sua vez, essa atitude nos faz re­ceber amor de volta. Santo Agostinho nos diz que "só amor conhece segredo de enriquecer cada vez mais a si mesmo dando aos outros”.
A pertença, portanto, implica no amor ao INSTITUTO. Compromisso, ação, fidelidade e zelo são suas palavras­ chave. É com essa compreensão que o Frade Servo do Senhor diz: O Amor me compromete me faz parte ativa, me torna fiel, me torna responsável. E como desdobramento ele exala a per­tença dizendo: Eu entendo a mística (espiritualidade), vivo o carisma, adoto a pedagogia, sigo as regras, participo dos eventos, aceito os encargos.
Em Cristo e Maria, Mãe e Serva,
Dom José Edson Santana Oliveira