domingo, 26 de junho de 2016

As cicatrizes do descontrole
 Naquele dia de sol, 
Antônio chegou feliz e estacionou o reluzente caminhão 
em frente à porta de sua casa. 
Após 20 anos de muita economia e intenso trabalho, 
sacrificando dias de repouso e lazer, 
ele conseguiu: comprou um caminhão.

Orgulhoso, 
entrou em casa e chamou a esposa 
para ver a sua aquisição. 
A partir de agora, seria seu próprio patrão.

Ao chegar próximo do caminhão, 
uma cena o deixou descontrolado. 
Seu filho de apenas seis anos estava 
martelando alegremente a lataria do caminhão.

Irritado e aos berros, 
ele investiu contra o pequeno filho. 
Tomou o martelo das mãos dele e, 
totalmente fora de controle, 
martelou as mãozinhas do garoto.

Sem entender o que estava acontecendo, 
o menino se pôs a chorar de dor, 
enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.

Na seqüência, 
ela trouxe o marido de volta à realidade 
e juntos levaram o filho ao hospital, 
para fazer curativos.

O que imaginavam, no entanto, fosse simples, 
descobriram ser muito grave. 
As marteladas nas frágeis mãozinhas 
tinham feito tal estrago que o garoto 
foi encaminhado para cirurgia imediata.

Passadas várias horas, 
o cirurgião veio ao encontro dos pais 
e lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão 
e os dedinhos tiveram que ser amputados.

De resto, falou o médico, 
a criança era forte e tinha resistido bem ao ato cirúrgico. 
Os pais poderiam aguardá-lo no quarto, 
para onde logo mais seria conduzido. 

Com um aperto no coração, 
os pais esperaram que a criança despertasse. 
Quando, finalmente, 
abriu os olhos e viu o pai o menino abriu um sorriso e falou:

- Papai, me desculpe, 
eu só queria consertar o seu caminhão, 
como você me ensinou outro dia. 
Não fique bravo comigo.

O pai, 
com lágrimas a escorrer pela face, em desconsolo, 
se aproximou mais e lhe disse 
que não tinha importância o que ele havia feito. 
Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido estragada.

O menino insistiu:

- Quer dizer que não está mais bravo comigo?

- Não, mesmo, falou o pai.

- Então, perguntou o garoto, 
se estou perdoado, 
quando é que meus dedinhos vão nascer novamente?

Comentário:

Infelizmente o que a guerra destrói não pode ser refeito, 
reconstruído, sobretudo as vidas que são tolhidas. 

                                                                             Um presente especial

O homem que estava atrás do balcão, olhava a rua, de forma distraída.

Uma garotinha se aproximou da loja e amassou o narizinho contra o vidro da vitrine. 

Os olhos da cor do céu brilharam quando viram determinado objeto. 
Entrou na loja e pediu para ver o colar de turqueza azul.

- É para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito? 

-  disse ela.

O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e lhe perguntou:

- Quanto dinheiro você tem?

Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão, e feliz disse:

- Isso não dá?

Eram apenas algumas moedas que ela exibia orgulhosa.

- Sabe, – continuou – eu quero dar este presente para a minha irmã mais velha. 
Desde que morreu nossa mãe, ela cuida da gente e não tem tempo para ela. 
É aniversário dela e tenho certeza que ela ficará feliz com o colar que é da cor de seus olhos.

O homem foi para o interior da loja. Colocou o colar em um estojo, embrulhou com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com uma fita verde.

- Tome! Disse para a garota. Leve com cuidado.
Ela saiu feliz, saltitando pela rua abaixo.

Ainda não acabara o dia, quando uma linda jovem de cabelos  loiros e maravilhosos olhos azuis entrou a loja. Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou:

- Este colar foi comprado aqui?

- Sim senhora.

- E quanto custou?

- Ah! falou o dono da loja. O preço de qualquer produto da minha loja é sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o cliente.

A moça continuou:

- Mas minha irmã somente tinha algumas moedas. O colar é verdadeiro, não é? Ela não teria dinheiro para pagá-lo.

O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou a fita e o devolveu à jovem.

- Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar: 
ELA DEU TUDO O QUE TINHA…

O silêncio encheu a pequena loja, e duas lágrimas rolaram pela face emocionada da jovem
enquanto suas mãos tomavam o pequeno embrulho.

“A verdadeira doação é  por inteiro, sem restrições. A gratidão de quem ama não coloca limites para os gestos de ternura. Seja sempre grato, mas não espere pelo reconhecimento de ninguém. 
Gratidão com amor não apenas aquece quem recebe, como reconforta quem oferece”