sexta-feira, 12 de maio de 2023

Catequese permanente

Uma das mudanças mais curiosas que a catequese vem sofrendo hoje é que ela deixa de ser preparação para os sacramentos e torna-se caminhada de discipulado: uma catequese permanente. A pessoa entra na catequese não mais para fazer primeira comunhão ou crismar, mas para conhecer Jesus e se tornar seu amigo, seu discípulo. A primeira comunhão e a crisma, sacramentos da vida cristã, tornam-se marco importante nesta jornada de seguimento, mas deixam de ser um fim em si mesmo. São consequência da vida em Cristo, sinais da nossa amizade e comunhão com ele.

 

Muita gente pode se perguntar o porquê dessa mudança. Será que a Igreja vinha fazendo catequese de forma errada e agora resolveu consertar? Certamente que não se trata disso. Não é uma questão de catequese certa ou errada, mas de modo mais ou menos apropriado de catequizar, que muda de acordo com o tempo. Quando éramos crianças, éramos batizados pequenininhos, logo nos primeiros meses de vida. Todo mundo sabia que devia batizar seus filhos na fé da Igreja Católica. E depois, devia levar os filhos para a primeira comunhão, para a crisma, para o matrimônio religioso etc. Era tão evidente tudo isso, que ninguém imaginava crescer e pensar de outro modo, com outras práticas religiosas, ou sem elas até. O mundo respirava um ar cristão – de bases católicas – no qual estávamos mergulhados e dos quais ficávamos impregnados desde criança. Então, bastava batizar e cuidar para que a criança recebesse os sacramentos na idade apropriada, com pequenas pausas para catequeses curtas e bem definidas que precediam esses sacramentos. O trabalho de evangelização ficava a cargo da família, da sociedade cristã, do mundo cristão em geral. A Igreja se preocupava de burilar a fé, de corrigir alguns equívocos, de dar informações importantes sobre os sacramentos, de esclarecer doutrinas. Não fazia parte de sua lista de tarefas despertar a fé ou comunicar a experiência cristã de Deus, propondo encontros com o Deus vivo. Este encontro era dado por pressuposto.

 

Mas tudo mudou... Vivemos num mundo plural: pluralismo cultural, religioso, ético até. As crianças não recebem mais em suas casas as bases da fé cristã; nossos jovens não fizeram a experiência cristã de Deus no seio das famílias; nossos adultos não conhecem mais Jesus Cristo, não sabem mais quem ele é, a não ser por meio de um imaginário fantasioso e mítico que restou. E quando sabem, sabem-no de modo deformado. E isso não é mal, nem bom. É só a vida que achou outro modo de ser, de se organizar. Então, na atual conjuntura, na qual a fé cristã não é mais obrigação, nem tradição, nem necessidade, tornou-se urgente propor a fé, evangelizar, anunciar Jesus Cristo. Em meio a tantas opções que o mundo nos oferece, a fé cristã é uma delas: palpável, viável, encantadora, maravilhosa e, para nós que conhecemos o amor de Deus, a razão de nossas vidas, a marca mais fundamental de nosso modo de viver, nossa pérola mais preciosa.

 

A catequese permanente se encarrega desta tarefa: propor a fé cristã como algo precioso e desejável. As crianças, jovens e adultos vão ter tempo e ocasião de conhecer Jesus e seu amor libertador, vão fazer a experiência da vida cristã na comunhão fraterna com outros irmãos de fé. E, livremente, poderão aderir a ele, engrossando a fila dos seus seguidores, ou poderão escolher não continuar no discipulado por não estarem convencidos de que vale a pena segui-lo. Isso também faz parte, é normal. Hoje em dia, a fé cristã não se impõe mais por força de argumentação, nem por vias de poder, nem por falta de opção, nem por tradição e costumes. A fé cristã deve se impor por sua beleza, por sua plausabilidade, pela força de sua proposta, pelo bem que ela nos faz. A fé cristã se impõe porque o evangelho de Jesus Cristo é força para viver, que gera um bem-estar inigualável. Para descobrir essa beleza da vida cristã, é preciso tempo. A pressa é inimiga da fé cristã como proposta e amiga da imposição religiosa. Na catequese permanente, o catequizando tem tempo para conhecer Jesus e seu evangelho, tem lugar junto à comunidade cristã para fazer sua experiência do amor de Deus, tem direito de discernir seus caminhos e de escolher livremente seu itinerário de fé. E como a vida não para de apresentar novos obstáculos, o cristão não cessa de crescer na fé para sempre responder prontamente a esses desafios. A catequese permanente propõe um mergulho na fé cristã em vez de mero curso de preparação para os sacramentos. Para tempos com desafios permanentes, propomos uma experiência sempre permanente e crescente do amor de Deus, porque Deus não cessa de nos amar e de demonstrar esse amor.

 

Ah! E os sacramentos? Para quem entrou na dinâmica do discipulado, do seguimento de Jesus, os sacramentos serão uma festa: uma ocasião de estreitar os laços com Jesus e de reforçar a experiência do amor de Deus que ele nos revela. Para quem não entrou nesta caminhada, eles não fazem sentido!

 

Solange Maria do Carmo

Teóloga, Professora de Sagrada Escritura e Catequética na PUC-Minas

 

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Catequista, semeador do Reino

 

            A contemporaneidade trouxe muitos benefícios à vida das pessoas, e junto vieram vários desafios. A catequese movida por este avanço também teve muito ganho, mas obstáculos também apareceram. Ao olharmos para trás, notaremos que a catequese evoluiu, já não se transmite a mensagem como antigamente, passamos da era da doutrinação à era do aprender/fazer, ou seja, uma catequese que constrói e vive um itinerário baseado nos passos do Mestre Jesus, tentando apreender todos os sonhos e ideais do Homem de Nazaré, fazendo acontecer e vivendo o Reino de Deus.

            Hoje, mais do que nunca, o catequista é o sujeito dessa mudança, não como um transmissor de doutrinas e conteúdo, mas como um orientador da caminhada, um irmão que caminha junto. Para acontecer essa Catequese de qualidade, precisamos de catequistas com qualidade. O Diretório Nacional de Catequese destaca o perfil do catequista: pessoa que ama viver e se sente realizado (como amar se não me amo?); ter maturidade humana e equilíbrio; pessoa de espiritualidade; pessoa de integração ao seu tempo e sua comunidade; conhecimento da realidade e busca constante de formação.        Além dessas qualidades, o catequista deve promover a cultura do encontro (pedido do Papa Francisco), sair de si e escutar os outros, precisamos escutar mais os nossos catequizandos do que falar. Somos catequistas para ouvir mais do que falar, escutar as conquistas, alegrias, as decepções e sofrimentos de nossos catequizandos, pois assim teremos condições de dar qualidade à nossa catequese.

Não podemos ir para a catequese sem se preparar, as novas tecnologias estão aí e precisamos usá-las para evangelizar. O exemplo mais forte sobre a tecnologia ouvi de uma catequista, preparou um encontro sobre a terra de Jesus, levou cópias xerográficas do mapa de onde Jesus viveu. Um menino jogou o mapa no lixo, a catequista o interpelou o porquê daquele gesto, ele tirou o celular e em poucos segundos acessou um mapa colorido e animado, e disse: “assim é mais bonito”.

Há que se preparar melhor para entendermos o que nos cerca. Vivemos desafios: famílias desestruturadas, transformações sociais, intolerância, nova cultura, inversão de valores, falta de compromisso e outros. O grande desafio da catequese é transmitir a fé de forma significativa; que não seja um simples decorar normas ou repetir esquemas, mas seja um acolher a Palavra de Deus e vivê-la de forma significativa para dar sentido à sua vida (um dos motes das Santas Missões Populares). A formação tem papel primordial para que nossa missão seja mais eficiente, não é possível admitir que haja catequistas que não participam do grupo de catequistas de suas paróquias, é triste. O catequista não sabe tudo e não está formado, a formação é permanente, ou seja, para toda a vida. O grupo de catequistas é o “melhor audiovisual da catequese” (Frei Bernardo Cansi), onde o catequista faz experiência de amor, aprendizado e de comunidade. O catequista que diz que não vai ao encontro de formação sobre Cristologia, porque já sabe tudo sobre Jesus, já prova que não sabe nada. Essa desculpa que sabe tudo mostra o nível de comprometimento com a catequese e com a comunidade.

Que nossas comunidades estejam repletas de catequistas que topem o desafio de ser sal e luz, iluminados e iluminadores, semeadores do Reino de Deus.

Catequista, “Não pare de plantar suas sementes, porque você não sabe qual delas vai crescer, talvez todas cresçam” (Ecl 11,6).

                                    Paz inquieta!

            Luiz Sergio Palhão

            Catequista e coordenador de catequese

            Paróquia N. Sra. Do Carmo – Paraguaçu-MG