sábado, 26 de dezembro de 2015

Leitura Orante – Sagrada Família

Leitura Orante –  Sagrada Família, 27 de dezembro de 2015

Família,  espaço humanizador

“Olha que teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura” (Lc 2,48)


Texto Bíblico: Lc 2,41-52


1 – O que diz o texto?
Jesus não sancionou nenhum modelo, como não determinou nenhum modelo de religião ou organização social. O que Jesus revelou não faz referência às instituições, mas às atitudes que os seres humanos deveriam ter em suas relações com os outros.

Não basta defender de maneira abstrata o valor da família. Tampouco é suficiente imaginar a vida familiar segundo o modelo da família de Nazaré, idealizada a partir de nossa concepção da família tradicional. Seguir a Jesus, às vezes, pode questionar e transformar esquemas e costumes muito enraizados em nós. A família não é para Jesus algo absoluto e intocável. Mais ainda. O decisivo não é a família de sangue, mas essa Grande Família que, nós seus seguidores, devemos ir construindo, escutando o desejo do único Pai-Mãe de todos.

O Evangelho de hoje deixa claro que Maria e José tiveram de aprender isso, não sem problemas e conflitos. Seus pais “não compreenderam as palavras que lhes dissera”. Só aprofundando em suas palavras e em seu comportamento diante de sua família, descobrirão progressivamente que, para Jesus, o primeiro é a família humana: uma sociedade mais fraterna, justa e solidária, tal como o Pai deseja.

Na “perda e encontro” de Jesus no Templo se condensa toda sua vida, que é buscar a Vontade do Pai.

Mas Jesus não é somente este jovem que decide “perder-se” no templo; é todo cristão que busca a Vontade de Deus; somos todos nós, convidados a “perder-nos” na busca de Deus, de seu Reino, da missão que Ele tem reservada para nós.



2 – O que o texto diz para mim?
Iniciado no templo de Jerusalém, o evangelho da Infância também se encerra neste ambiente, que é o coração espacial da encarnação. De fato, como dirá Jesus na sua última entrada na cidade santa, as pedras de Jerusalém gritam.

É a primeira iniciativa independente e consciente do adolescente Jesus: Ele está cortando muitos vínculos com um só gesto; não pede permissão aos seus pais, pois vive em sintonia profunda com o Pai.

À medida  que Jesus vai crescendo em idade, cresce também nele a consciência da sua relação com o Pai celeste. E, a partir dela, toma decisões por sua conta, sem consultar seus pais terrenos; decisões que não os surpreendem, mas que os fazem sofrer. O filho é um mistério para a mãe. 

Embora feita com todo o carinho de um coração de mãe, a pergunta de Maria – “Meu filho, porque agiste assim conosco?”-  mostra  sua perplexidade diante do comportamento de Jesus.



3 – O que a Palavra me leva a experimentar?
É a segunda estadia de Jesus no templo, depois da visita da circuncisão. 

Trata-se do seu ingresso oficial na comunidade hebraica, inaugurando sua maioridade.

É nessa ocasião que Jesus pronuncia as primeiras palavras registradas pelos evangelhos. E a primeira palavra, na prática é “Pai”, dirigida a Deus; “Pai” será também a última palavra pronunciada por Jesus, ainda em Jerusalém, mas no novo templo do Calvário: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc. 23,46).

Jesus voltará a Jerusalém outras vezes; aí vai morrer e ressuscitar, porque Jerusalém é o sinal da vida e da morte, das lágrimas e da beleza, do sangue e da luz.

Em Jerusalém, Jesus encontrara alegria e dor, morte e vida, acolhimento e rejeição;

Jerusalém é a cidade da história humana e da história salvífica: lá está a “casa” do templo, a “casa” do Senhor, e a “casa” da dinastia de Davi, da qual descende o Cristo.



4 – O que a Palavra me leva a falar com Deus?
Senhor, hoje só há uma condição para poder entrar em sintonia com o coração do Pai: sentir-se “perdido”, como Jesus, buscando o bem dos demais, o serviço da Igreja, do Reino de Deus... Diferentes maneiras de expressar o chamado a servir. 

Hoje, certamente Jesus não se “perderia” nos Templos (tão vazios) mas nos grandes centros, nos grandes shoppings, onde estão os novos sacerdotes, sem história e sem futuro, fazendo sacrifícios nos grandes altares do consumo. Ali podería encontrá-Lo questionando sobre a humanidade, criticando-os por fazer destes lugares um templo fechado, um verdadeiro bunker, um mercado de privilegiados, que fecha as portas aos irmãos mais pobres e necessitados.



5 – O que a Palavra me leva a viver?
Para Jesus é uma “necessidade” realizar na história concreta de sua vida o desígnio salvífico do Pai. Ela tem uma prioridade absoluta. Sobrepõe-se a todos os outros deveres, inclusive ao dever sagrado da piedade para com os pais.

Ele se “perderia” buscando os filhos do Pai abandonados à sua sorte, excluídos, perdidos nas ruas fedidas, explorados nos lugares de trabalho e sem nenhum tipo de segurança social. 

Hoje Jesus se “perderia” de novo nas peregrinações, se perderia  nos “novos templos”. E é ali onde posso encontrá-Lo. É a partir dali que Ele me convida a encontrar a vontade de Deus nos imigrantes, nos excluídos, nos irmãos e irmãos que arriscam tudo para dar vida, uma vida, às vezes mínima, sem privilégios, nem extras, para que suas famílias vivam com um mínimo de oportunidade. 

Porque não se pertence a si mesmo, Jesus também não pertence a seus pais terrestres.

Ele – sua pessoa, sua vida e sua missão – pertencem inteiramente ao Pai.

Estas primeiras palavras de Jesus me revelam onde está o centro de sua identidade e de sua missão: na sintonia e na comunhão com o Pai.



Fonte: 
Bíblia na linguagem de hoje –  Lc 2,41-52
Pe. Adroaldo, sj – reflexão do Evangelho
Desenho: Osmar Koxne       

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A vela e o fósforo

Certa vez, uma vela recusou-se a ser acendida pelo fósforo. Este lhe disse: “Eu tenho a tarefa de acender você!” Assustada, a vela respondeu: “Não! Isso não! Se eu me deixar acender, os meus dias estarão contados”. O fósforo perguntou:
“Você prefere passar a vida em brancas nuvens, sem cumprir a missão para a qual você existe?” “Mas queimar dói e me consome!” sussurrou a vela, insegura e apavorada.
“É verdade”, explicou o fósforo. “Mas é este o segredo de nossa realização. Somos criados para servir. E se eu não acender você, perco o sentido da minha vida. Eu existo para acender fogo. Você existe para iluminar e aquecer”.
E continuou: “Tudo o que você oferecer através da dor, do sofrimento e do empenho, será transformado em luz. Consumindo-se, você não se acabará, mas outros passarão o seu fogo adiante. Você só morrerá se recusar a ser acendida”.
Nesta hora, a vela afinou o seu pavio e disse ao fósforo: “Peço a você que me acenda”. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Desenhos para colorir Igualdade Racial - Somos Iguais





FILHO PREDILETO de (Erma Bombeck)

Certa vez perguntaram a uma mãe qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu: 
"Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
E, como mãe, lhe respondo: o filho predileto, é
aquele a quem me dedico de corpo e alma...
É o meu filho doente, até que sare.
O que partiu, até que volte.
O que está cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que está com sede, até que beba.
O que estuda, até que aprenda.
O que está com frio, até que se agasalhe.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que se cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que cale.
E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que já me deixou...
...até que o reencontre... 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Os pessimistas, os otimistas e os radicais

Certa vez um índio que morava a beira de um rio, cansado de perder tudo para a enchente que vinha todo ano furiosa e engolia ocas, plantações e tudo mais que eles tivessem conquistado, resolveu colocar um plano em ação. Todo ano era a mesma coisa, a tribo toda subia para a colina e, após a enchente destruir tudo, eles faziam novas ocas no chão ainda molhado e plantavam sementes. A tribo não se mudava daquela área, pois ali a terra era produtiva. Não havia uma rota de fuga, teriam que aprender a viver ali. Mas aquele índio cresceu vivendo aquela situação e todos da tribo já estavam acostumados. Alguns de tão acostumados, quando começava a chover, já derrubavam as ocas e saiam destruindo as plantações. Aquele índio era diferente, ele não se conformava com aquela situação e sempre falava para o povo da tribo "vou dar um jeito de não perder tudo para a enchente", e começava o burburinho. Os pessimistas cochichavam: "espia ta doido, esse ai já não tem mais cura". Os otimistas falavam: "tomara que ele consiga e ajude a todos nós". E os radicais já davam um grito lá do fundo: "esse ai ta cheio de espíritos malignos". E todos da tribo se assustavam e se afastavam daquele índio. Mas ele não se abalou, colocou seu plano em ação e começou a construir uma oca alta, bem acima do chão. No entanto todas as ocas da tribo eram junto ao chão, aquilo era loucura para os outros índios e muitos juravam que não iria dar certo. Durante dias ele saía para a mata e pegava tudo que iria precisar: troncos de árvores, palhas, bambus, cipós e foi amontoando tudo frente a sua oca.
O Chefe da tribo incomodado com os falatórios foi falar com o índio e questionar sobre aquela obra. O chefe começou a fazer perguntas para aquele índio que corria contra o tempo, pois faltavam poucas luas para o início das chuvas. O índio respondia as indagações do chefe apenas com uma frase "eu vou tentar". O chefe da tribo, então, o deixou em paz após ouvir sempre a mesma resposta: "eu vou tentar". Enquanto isso, todos olhavam tudo que aquele índio fazia. Os pessimistas cochichavam: "não vai dar certo, tá na cara". Os otimistas falavam: "que rapaz corajoso, vai dar certo". E os radicais gritavam: "espia, fazendo um templo a mando do coisa ruim". E todos se assustavam e se afastavam daquele índio. Faltava apenas uma lua para as chuvas chegarem e aquele índio parecia que havia ficado surdo e não escutava ninguém que viesse falar que aquilo era loucura e que não iria dar certo.
Ele já havia cavado buracos e fincado troncos no chão, inúmeros troncos ele colocou em buracos que cavou há dias sem a ajuda de ninguém. Ele fez um piso com amarrações de cipós, junto a bambus, palha e barro para cobrir e formar um piso e, então, construir sua oca e plantar sementes em cima daquele chão que acabou de levantar. Fez tudo com muito zelo e cuidado, certificando se que tudo havia ficado firme.
Ninguém da tribo sabia, mas aquele índio orava à Deus todos os dias e no coração dele havia a certeza que a resposta era: "Sim, você vai conseguir". Fortalecido pela fé ele continuava surdo e não ouvia ninguém que viesse falar que aquilo era loucura e que não iria dar certo. Ao terminar a obra e com os gotejo da chuva que estava por vir, muitos índios já estavam rente a colina e alguns ainda tentaram convencer aquele índio a ir junto, mas ele continuava firme em sua decisão. De cima da colina todos avistavam a tribo e a construção daquele índio. A chuva começou a cair e todos olhanvam atentos o que iria acontecer. O rio, então, começou a subir. Os pessimistas cochichavam: "vai cair tudo e ele vai vir pra colina toda molhado, espia". Os otimistas falavam: "deu certo”. E os radicais gritavam: "isso é pacto com o coisa ruim, mas não vai demorar a cair". Mas ninguém se assustou e muitos queriam estar lá, junto daquele índio que havia se tornado um exemplo de coragem e perseverança. Passaram-se dias e o rio subiu como todos os anos, a enchente veio e destruiu as ocas da tribo e as plantações. Menos a oca daquele índio que estava alta, feito uma colina, mas aquela não foi Deus que criou com suas próprias mãos e, sim auxiliou seu filho diante de sua coragem e força de vontade.
Após o término das chuvas, os índios voltaram da colina e todos começaram a fazer uma construção igual a daquele índio, mas os poucos pessimistas e radicais que sobraram falavam: " Hum! Não caiu agora, mas qualquer vento que vier derruba."
Não ouça os pessimistas, muito menos os radicais, pois esses sempre irão te falar que não dará certo, que não haverá benefício naquilo que você está fazendo. Seja como aquele índio, peça à Deus, confie nele e ponha seu plano em prática. Seja surdo para aqueles que vierem dizer que é loucura e que não dará certo e se vierem questionar, responda: "eu vou tentar". Fortaleça sua fé e o resultado será grandioso!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A MOÇA DO POTE VAZIO de Jacob Petry

Naquele tarde caminhamos por um longo tempo. Ao contrário dos outros dias, o Mestre falava pouco. Restringia-se a fazer perguntas sobre a arte de viver em sociedade. Quando chegamos à margem do lago, contou-me a seguinte história:

"Muitos séculos atrás, um rei muito sábio e rico habitava uma ilha do Mediterrâneo. Certo dia, ele adoeceu e decidiu passar, ainda em vida, a coroa ao filho. Segundo a tradição, o princípe deveria se casar antes de assumir o trono. O príncipe então resolveu escolher sua esposa. Para isso, marcou uma celebração especial onde lançaria um desafio. A moça que vencesse o desafio, tornaria-se sua esposa.
Uma serva do palácio ouviu os comentários sobre o desafio e se sentiu muito triste, pois sabia que sua filha, uma moça humilde mas muito bela e honesta, nutria um sentimento especial pelo príncipe. Seu sonho era algum dia, pelo menos, poder ver o príncipe de perto.
Quando a mãe chegou em casa, a filha estava a sua espera. Ela também já havia sido informada sobre as intenções do príncipe, e esperava a autorização da mãe para participar do desafio.
Cética, a mãe tentou desencorajá-la.
- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes as mais belas e ricas moças da corte.Tire esta ideia da cabeça. Eu sei o quanto gosta do príncipe, sei que deve estar sofrendo, mas não transforme esse sofrimento em uma tortura ainda maior.
- Mãe, respondeu a filha, sei que dificilmente serei a escolhida. Mas é minha única oportunidade de ficar, pelo menos alguns momentos, perto do príncipe. Isto já me fará feliz.
A mãe acabou consentindo, e no dia da celebração, a moça foi ao palácio. Lá, de fato, estavam não só as mulheres mais belas e ricas da ilha, mas também as de inúmeras ilhas vizinhas. Seus vestidos eram lindos. Estavam cobertas de joias valiosas e com maquiagens impecáveis. A moça, tímida e humilde, manteve-se discreta num canto, esperando o príncipe anunciar o desafio. Enfim, o momento chegou:
- Darei a cada uma de vocês, disse o príncipe, a semente de uma rara espécie de flor. Daqui a três meses, vamos ter outra celebração. Aquela jovem que souber cultivar melhor a semente, e trouxer a flor mais bela, será a minha esposa.
A filha da serva pegou sua semente e foi para casa muito feliz, repleta de esperanças. Na verdade, contra todas as perspectivas, ela teria uma chance: ela somente precisaria cultivar a flor com todo cuidado possível. Era isso que ela faria.
Na manhã seguinte, plantou a semente num vaso e passou a tratá-la com todos os cuidados possíveis. Desejava que a beleza da flor fosse da intensidade de seu amor pelo príncipe. Se isso fosse acontecer, ela já se sentiria satisfeita.
O tempo foi passando. Um mês depois, a semente ainda não havia germinado. A jovem tentou de tudo, fez uso de todos os métodos que conhecia, mas não conseguia fazer com que a semente germinasse. Dia após dia, seu sonho parecia mais difícil de se realizar; mas seu amor não permitia que ela desistisse. Por fim, os três meses haviam passado e a semente não havia germinado. E agora, o que fazer?
Dias antes da celebração ela já implorava, desesperada, para sua mãe a deixasse retornar ao palácio. Ela não pretendia nada além de passar mais alguns momentos na companhia do príncipe. Queria ficar perto dele, só isso.
Por fim, para satisfazer o desejo da filha, a mãe consentiu que ela fosse.
No dia da celebração, ela estava lá. Temendo que talvez não a deixassem entrar sem a flor, ela levou seu vaso vazio. Todas as outras jovens traziam flores lindas, robustas, coloridas e cheirosas. Havia rosas, violetas, jasmins, orquídeas, todas, das mais variadas formas e cores.
A pobre filha da serva do palácio estava triste, frustrada e envergonhada com seu pote vazio. Sentia-se humilhada, mas também grata por estar ali. O que ela poderia ter feito se a semente não germinou?
Na metade da noite, chegou o grande momento da escolha. As mulheres foram todas colocadas em um círculo.Para ficar mais perto dele, a moça foi para o círculo com seu pote vazio.
O príncipe observou cada uma das pretendentes curtiu muito as flores que haviam trazido. Após analisar uma a uma, ele retornou ao centro para anunciar o resultado. Que surpresa: entre todas, o príncipe escolheu justamente a filha da serva do palácio, que trazia um pote vazio.
As pessoas tiveram as reações mais inesperadas. Ninguém compreendeu porque o príncipe havia escolhido justamente aquela moça que nem mesmo conseguira cultivar sua semente. Então, calmamente, o príncipe explicou o motivo da sua escolha.
-Esta moça, ele disse, foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar minha esposa e rainha. Ela cultivou a flor da honestidade. Pois, todas as sementes que distribui naquela noite, trinta dias atrás, eram sementes falsas, e portanto, estéreis."
Quando a história terminou, o Mestre seguiu em silêncio. Depois, ele se voltou para mim, colocou a mão sobre meu ombro e disse:
- Muitas vezes, ser quem verdadeiramente somos parece muito pouco. Aparecer com um pote vazio, quando todo mundo aparenta ter conseguido cultivar flores robustas e coloridas, parece duro, árduo, triste e até humilhante. Mas nada impressiona e recompensa tanto quanto a honestidade, ainda que ela seja feia como um pote vazio.
Em seguida, disse que já estava na hora dele partir.

Reflexão com Cortella


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Um guia para a Evangelii gaudium

"A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus": assim começa aEvangelii gaudium, com a qual o Papa Francisco aborda o tema do anúncio do Evangelho no mundo de hoje. É um apelo a todos os batizados, sem distinções de papel, para que levem aos outros o amor de Jesus em um "estado permanente de missão" (25), vencendo "o grande risco do mundo atual", o de cair em "uma tristeza individualista" (2).
A reportagem é de Aldo Maria Valli, publicada no sítio Vino Nuovo, 26-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O papa convida a "recuperar o frescor original do Evangelho". Jesus não deve ser aprisionado dentro de "esquemas enfadonhos" (11). É preciso "uma conversão pastoral e missionária, que não pode deixar as coisas como estão" (25) e uma reforma das estruturas eclesiais para que "todas elas se tornem mais missionárias" (27). Nesse plano,Francisco entra no jogo em primeira pessoa. De fato, ele pensa também em uma "conversão do papado", para que seja "mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades atuais da evangelização".
O papel das Conferências Episcopais deve ser valorizado realizando concretamente aquele "senso de colegialidade" que até agora ainda não se concretizou plenamente (32). Mais do que nunca é necessária "uma salutar descentralização" (16) e, nessa obra de renovação, não é preciso ter medo de rever costumes da Igreja "não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho" (43).
O verbo posto no centro da reflexão é "sair". Que as Igrejas tenham em todos os lugares "as portas abertas" para que todos aqueles que estão em busca não encontrem "a frieza de uma porta fechada". As portas dos sacramentos também nunca devem se fechar. A própria Eucaristia "não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos". Isso determina "também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia" (47). Muito melhor uma Igreja ferida e suja, que sai pelas ruas, do que uma Igreja prisioneira de si mesma. Que não se tenha medo de deixar se inquietar pelo fato de que muitos irmãos vivem sem a amizade de Jesus (49).
Nesse caminho, a maior ameaça é aquele "pragmatismo cinzento da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se deteriorando" (83). Não devemos nos deixar levar por um "pessimismo estéril" (84). O cristão sempre deve ser sinal de esperança (86), através da "revolução da ternura" (88).
Francisco não esconde a discordância com relação a quem "se sente superior aos outros", por ser "irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado" e, "em vez de evangelizar, classificam os demais". Claro também é o julgamento negativo com relação àqueles que têm um "cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história" (95). Essa "é uma tremenda corrupção, com aparências de bem. (…) Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais!" (97).
A pregação tem um papel fundamental. As homilias devem ser breves e não devem ter o tom de lição (138). Aqueles que pregam devem falar aos corações, evitando o moralismo e a doutrinação (142). O pregador que não prepara "é desonesto e irresponsável" (145). Que a pregação ofereça "sempre esperança" e não deixe "prisioneiros da negatividade" (159).
As comunidades eclesiais devem se guardar da inveja e do ciúme. "Quem queremos evangelizar com esses comportamentos?" (100). De fundamental importância é fazer crescer a responsabilidade dos leigos, até agora mantidos "à margem das decisões" por causa de um "excessivo clericalismo" (102).
Também é importante "ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja", em particular "nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes" (103). Diante da escassez de vocações, "mão se podem encher os seminários com base em qualquer tipo de motivações" (107).
Além de ser pobre e para os pobres, a Igreja desejada por Francisco é corajosa em denunciar o atual sistema econômico, "injusto na sua raiz" (59). Como disse João Paulo II, a Igreja "não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça" (183).
ecumenismo é "um caminho imprescindível da evangelização". Devemos sempre aprender com os outros. Por exemplo "no diálogo com os irmãos ortodoxos, nós, os católicos, temos a possibilidade de aprender algo mais sobre o significado da colegialidade episcopal e sobre a sua experiência da sinodalidade" (246). O diálogo inter-religioso, por sua vez, é "uma condição necessária para a paz no mundo " e não obscurece a evangelização (250-251).
Na relação com o mundo, que o cristão sempre dê razão da própria esperança, mas não como um inimigo que aponta o dedo e condena (271). "Só pode ser missionário quem se sente bem, procurando o bem do próximo, desejando a felicidade dos outros" (272). "Se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já justifica o dom da minha vida" (274).

terça-feira, 7 de julho de 2015

O Sentido da Pertença

Na Vida religiosa a palavra "pertença" não deve ser usada com o significado corriqueiro do verbo "pertencer". Para nós, pertença não é apenas o ser parte, é mais, é principalmente fazer parte ativa. Está relacionada a uma ideia de enraizamento, de integração e interação plenas, em que o indivíduo constrói e é construído, em que se sente "vento" e "vela", em que planeja e também se vê parte de um projeto, em que modifica e é modificado. O Religioso pode ser numa ocasião, o agente que dá força, dá ânimo, auxilia, suporta outro confrade e, em outra ocasião, é ele próprio que, necessitando do mesmo tratamento, o recebe de seus pares. Assim, às vezes é “vento’, outras vezes é “vela”.

Os que estão repletos do "espírito de pertença" comungam do mesmo propósito, seguindo o exemplo das primeiras comunidades cristãs: “A multidão (...) era um só coração e uma só alma...” (At 4,32).
Embebidos pelo espírito de pertença, os Frades têm o desejo de ver outros confrades recebendo às mesmas graças que as Fraternidades têm derramado sobre eles. O seu ideal é promover o fortalecimento e a expansão do Instituto, e para isso trabalham no sentido de vê-lo crescer e de surgirem novas Fraternidades. Estão animados por um ideal comum e desejam com alegria o que é bom para todos.
A primeira característica de quem está cheio do espírito de pertença é o seu desejo de servir desinteressadamente como ensinou Jesus (Mc 10, 45); ser cristão é assumir como lema de vida o serviço aos irmãos.
O espírito de pertença está fortemente relacionado ao serviço, à doação de si aos outros confrades e ao Instituto. As Fraternidades nos dão muitas forças e quem entende isso passa também a querer dar aos demais o que tem recebido. Na sua primeira carta Pedro exorta os irmãos: "Todos vós, conforme o dom que cada um recebeu, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pd 4,10). Dessa forma torna-se possível dizer: Eu pertenço ao INSTITUTO Missionário Servos do Senhor, dele me nutro, a ele me doo.
A pertença também anda ao lado da fidelidade. Esta fidelidade é indissociável da responsabilidade que deve ter todo Frade em relação ao INSTITUTO. Em qualquer nível é a fidelidade que identifica o sentimento de pertença a esta Família Religiosa. Como na parábola dos talentoso Instituto precisa de Frades fiéis. A estes será dada a devida recompensa:
"Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!" (Mt 25, 21). Se o Frade enterra o talento recebido, que ocupação terá, já que abandonou o seu instrumento de trabalho?
Se a pertença é serviço e fidelidade, o serviço e a fidelidade são o Amor. Não existe amor maior do que doar a sua vida pelos amigos ( Jo 15, 13).
É dedicando a sua vida e doando do seu amor que se pratica a pertença e, por sua vez, essa atitude nos faz re­ceber amor de volta. Santo Agostinho nos diz que "só amor conhece segredo de enriquecer cada vez mais a si mesmo dando aos outros”.
A pertença, portanto, implica no amor ao INSTITUTO. Compromisso, ação, fidelidade e zelo são suas palavras­ chave. É com essa compreensão que o Frade Servo do Senhor diz: O Amor me compromete me faz parte ativa, me torna fiel, me torna responsável. E como desdobramento ele exala a per­tença dizendo: Eu entendo a mística (espiritualidade), vivo o carisma, adoto a pedagogia, sigo as regras, participo dos eventos, aceito os encargos.
Em Cristo e Maria, Mãe e Serva,
Dom José Edson Santana Oliveira


terça-feira, 21 de abril de 2015

Missiologia

Estamos vivendo o Tempo das Santas Missões Populares, em comemoração aos 100 anos da nossa Diocese de Guaxupé, em Minas Gerais. Abaixo um texto do Padre Luis Mosconi:

MISSÕES POPULARES - Luis Mosconi e Firmino Spiegel

1. RESUMO E OBJETIVO

Resumo

No Brasil há várias experiências de Missões Populares. Essa aula conta uma delas e, ao mesmo tempo, é um guia que conduz à realização de novas experiências semelhantes. Através de um breve histórico e da caracterização como “tempo especial”, que faz descobrir o “tempo normal” da missão de cada dia, a aula procura aprofundar os objetivos das Missões Populares e mostrar a sua metodologia. As Missões Populares despertam para o sonho e a utopia da Missão de Deus no meio de nós. Algumas perguntas pertinentes procuram aprofundar os conteúdos e envolver os alunos e as alunas.

Objetivo

O objetivo desta aula é situar a proposta das Missões Populares no contexto amplo da sociedade e das pastorais como um instrumento de inspiração espiritual, de revigoramento pastoral através do eixo permanente e prioritário que é a “missão”, e de transformação social. O participante desta aula deve perceber a beleza da proposta e ter a possibilidade de encaminhar a própria base pastoral para, quem
sabe um dia, realizar essa proposta.

2. BREVE HISTÓRICO

Tudo começou em 1990, no Estado do Pará, entre alguns agentes pastorais e lideranças das CEBs. Constatávamos, com satisfação, muitos aspectos positivos; ao mesmo tempo percebíamos que as pastorais, em geral, apesar de iniciativas generosas, não conseguiam sintonizar com as aspirações das massas. Muitos católicos viviam afastados de suas comunidades (um problema que continua até
hoje). Víamos que as causas disso não estavam somente no povo, mas também na maneira de fazer pastoral; sentia-se a necessidade de buscar caminhos novos. De repente, alguém lançou uma pergunta: E por que não fazer Santas Missões? Sentia-se a necessidade de que os missionários viessem do meio do povo; que as Santas Missões fossem mais existenciais, mais inculturadas, mais abertas aos problemas humanos e sociais; e também que entre os objetivos não faltassem o cultivo do seguimento a Jesus Cristo, a valorização e a defesa da vida. Com as Missões Populares pensávamos em intensificar a caminhada das comunidades, fazendo das paróquias, onde elas iriam acontecer, uma rede de pequenas comunidades eclesiais.
Nesse sentido, a primeira experiência realizou-se em 1991, numa paróquia do sul do Pará, Xinguara – na época, uma região marcada pela violência do latifúndio. Foi uma experiência inesquecível. As pessoas mais envolvidas, cerca de duzentos missionários, entre os locais e os que tinham vindo de outras paróquias para ajudar nos dias de maior pique, queriam continuar. Continuamos e nunca mais paramos. Ao longo desses anos foram preparados mais de 100 mil missionários - jovens, adultos, idosos - das Santas Missões Populares. Assistimos o nascimento de um movimento missionário.

3. UM TEMPO ESPECIAL

As Missões Populares não são um movimento pastoral à parte e, sim, um serviço à Pastoral. Elas levam em conta as pessoas, a realidade pastoral do lugar e as grandes opções da Igreja na América Latina (Medellín, Puebla, Santo Domingo).
Por que as Missões Populares são um tempo especial? Pela intensidade da proposta e por uma finalidade pedagógica. O normal da nossa vida é o cotidiano, o dia-a-dia. As Missões Populares querem ser um serviço à cotidianidade da vida, relembrando e atualizando rumos, valores, atitudes, posturas, opções inegociáveis. Nossa vida precisa, de vez em quando, de um tempo especial, para acordar, para sacudir; é uma necessidade antropológica. De fato, quase sem perceber, caímos na rotina, corremos o perigo de viver uma vida repetitiva, rasteira, acomodada, arrastada, sem sonhos.
O mesmo perigo acontece também nos trabalhos pastorais. É importante perceber avanços, impasses, recuos, para agir eficazmente nelas através das Santas Missões Populares [fazer um trabalho de grupo ou cochicho para levantar as atitudes e os elementos que bloqueiam uma pastoral missionária profética no dia-a-dia].
As Missões Populares querem marcar presença significativa nessas situações pastorais. Situações das quais elas podem também se tornar vítimas. Isso depende muito do nível de consciência das equipes pastorais que conduzem o processo.

4. OBJETIVOS

Os objetivos das Missões Populares relacionados a seguir foram se firmando aos poucos, com a contribuição de muitos missionários e missionárias:

a) Ajudar as pessoas a dar um sentido autêntico à própria vida, no aqui e no agora. Ser sujeito histórico é o maior desafio para qualquer pessoa, de qualquer raça, crença, cultura, época e lugar.

b) Vivenciar a espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo e do seu Evangelho, como caminho seguro para uma autêntica existência humana e para construir uma sociedade justa, fraterna e solidária.

c) Convidar e envolver o maior número de pessoas no grande mutirão em defesa da vida e da cidadania para todos.

d) Fortalecer, reinventar, reproduzir a caminhada das CEBs (pequenas comunidades eclesiais), dando a ela maior qualidade.

e) Aprender a viver a comunhão no pluralismo dentro da nossa Igreja, como também em relação à sociedade e às outras Igrejas.

f) Valorizar, vivenciar, purificar, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, as culturas, a religião popular e a história vivida, e muitas vezes sofrida, do povo.

g) Despertar nas pessoas o gosto pela missão, pelo conhecimento do outro, do diferente, como algo que enriquece.

5. METODOLOGIA

A metodologia está a serviço dos objetivos, é iluminada por eles e é marcada pelas situações concretas. Nas Santas Missões Populares a metodologia deve dispensar uma atenção especial aos seguintes pontos:

5.1. Lugar e destinatários

As Missões Populares devem atingir toda a área da paróquia, tanto o interior como a cidade, onde querem provocar uma mexida significativa e ajudar a fazer da paróquia uma rede de pequenas comunidades eclesiais.
As Missões Populares são uma proposta da Igreja Católica, mas estão abertas a todas as pessoas que moram no território onde elas acontecem. Sem fanatismo, sem concorrência, sem ingenuidade. As pessoas que participam como agentes das Missões Populares, gostam do povo, amam as pessoas, são ecumênicas, pois colocam em primeiro lugar a vida com seus problemas, alegrias e desafios; e a vida
é ecumênica. Nas Missões Populares se desperta uma atenção especial aos católicos
afastados e aos preferidos de Jesus Cristo: os pobres, os pequenos, os marginalizados, os sociocultural e economicamente excluídos, os sem-voz e sem vez. A opção pelos pobres é uma questão de fé que faz parte intrínseca do seguimento a Jesus Cristo.

5.2. Preparação e realização: as diferentes etapas

A duração das Missões Populares está ligada aos objetivos e à situação do lugar onde elas acontecem. Geralmente há bastante falhas a esse respeito: muita correria, planejamento superficial, atividades apressadas. Existe o perigo da massificação. Após anos de experiência, achamos que a duração de cada Missão Popular deve ser de dois anos, com as seguintes etapas:

a) Etapa do namoro. Quando o pároco ou, melhor ainda, a equipe pastoral paroquial pede ajuda à equipe especializada para realizar as Missões Populares. Sugerimos primeiro um conhecimento profundo e detalhado da proposta nos seus conteúdos e metodologia. Geralmente isso acontece através do estudo do livro das Santas Missões Populares, publicado por nós e que funciona como um manual. Ao mesmo tempo, é importante que se fale sobre o assunto nas celebrações, nas reuniões de grupos, nas pastorais e comunidades; que se reze, para chegar a uma decisão consciente, assumida, participativa, tomada possivelmente numa assembléia extraordinária da paróquia. Essa etapa leva cerca de três meses.

b) Etapa do noivado. Como o noivado é o tempo bonito da preparação intensa ao
casamento, assim também é esta etapa das Missões Populares. Forma-se uma
coordenação paroquial com a tarefa de articular e acompanhar todo o processo.
Para evitar trabalhos paralelos, sugere-se que a coordenação seja assumida pelo
mesmo conselho pastoral paroquial ampliado. A coordenação enviará uma carta
circular a todos os grupos, pastorais, comunidades, movimentos, dando a boa
notícia. A partir desse momento, a Missão Popular torna-se o eixo de toda pastoral.
A paróquia deve evitar, nesse período, trabalhos paralelos, pois são altamente
prejudiciais.
Intensifica-se a seleção dos missionários e das missionárias, em cada setor. Isso
deve ser feito de uma maneira clara, cativante, consciente, responsável, aberta, ao
estilo de Jesus, que deu chance até a pessoas “suspeitas” e inexperientes, como os
apóstolos, na maioria pescadores; Judas, os simpatizantes do movimento zelota; as
mulheres como Maria Madalena e a samaritana. Organizam-se várias equipes de serviço para preparar o primeiro retiro dos missionários. Essa etapa leva cerca de
três meses.

c) Etapa da pré-missão. É casamento pra valer! E haja paixão! Há um crescendo de
atividades destinadas a acordar e envolver o maior número possível de pessoas nas
propostas das Missões Populares. Essa etapa começa com o primeiro grande retiro
dos missionários. No final do retiro ocorre a Missa de envio dos missionários com a
presença do maior número possível de pessoas de toda a paróquia. Esse período
tem a duração de sete a dez meses, com sugestão de atividades específicas a cada
mês, fruto de experiências comprovadas ao longo desses anos. Em seu decorrer,
haverá outros dois grandes retiros para os missionários locais, pois são eles que
conduzem todo o processo das Santas Missões Populares.
d) Etapa da grande semana missionária. É o momento mais intenso, mais
celebrativo da Missão Popular. É a “etapa do saborear” a beleza do Evangelho
vivido, testemunhado, celebrado. É uma etapa profundamente eclesial, com a
presença de missionários (leigos, padres, religiosas) vindos de outras paróquias e
comunidades e, na medida do possível, do bispo diocesano.
e) Etapa da pós-missão. É a “etapa do aprofundar e articular” todas as forças vivas
que despertaram ao longo das etapas anteriores. Duração: um ano (até o
aniversário da semana missionária). É uma etapa muito importante. É em seu
decorrer que se pode verificar se foi bem captado o espírito da Missão Popular e se
ela foi bem acompanhada.
5.3. Setores missionários
É importante organizar em setores missionários toda a área onde vai acontecer a
Santa Missão Popular, em vista de contatos mais personalizados e do surgimento
de missionários e seu respectivo acompanhamento.
Baseado em experiências anteriores, nas áreas do interior, o setor deve ser
formado por duas a quatro comunidades próximas, para permitir um trabalho em
conjunto. Quando em certos lugares, por causa das distâncias, não é possível
juntar comunidades, buscam-se outras soluções. Nas grandes cidades, para
permitir um trabalho bem personalizado, achamos que cada setor deve atingir uma
área de cerca 3 mil habitantes (nas cidades menores, os setores podem ter menor
número).
A Missão Popular acontece em todos os setores com a mesma programação,
decidida nos grandes retiros dos missionários. Cada um deles costuma ter um
dinamismo próprio, conforme a realidade, o nível de consciência e atuação dos
missionários. Critérios importantes são a fidelidade e criatividade, a comunhão e o
pluralismo. Os responsáveis pelo bom andamento do setor são os missionários que
são seus moradores. Nesse caso, ser responsável significa ter a capacidade de
envolver o maior número possível de pessoas, conduzindo o processo dentro dos
objetivos e da metodologia decididos nos grandes encontros de formação dos
missionários.
5.4. Perfil dos missionários e das missionárias
Optamos por uma presença numerosa, qualificada, participativa de missionários.
Por causa do papel fundamental dos missionários nas Missões Populares, sua
formação e seu acompanhamento são de grande importância. Geralmente,
pastorais, grupos, comunidades, movimentos eclesiais e sociais, mesmo os ditos
“mais avançados”, criam muita dependência entre seus membros. Sente-se falta de
pessoas que sabem assumir, personalizar convicções e opções. Há mais pessoas
tarefeiras do que criativas.
Nas Missões Populares apostamos muito na quantidade e na qualidade dos
missionários. Todas as forças vivas da paróquia, de todas as idades e categorias
sociais, são convidadas a serem missionárias no setor onde moram. Não se trata de
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acabar com isso ou aquilo, mas de viver o período da Missão Popular como um
tempo especial, com forte ardor missionário, saindo de esquemas mais rotineiros.
Os efeitos que irão aparecer, logo ou mais adiante, são muito positivos:
preconceitos são derrubados, barreiras são superadas; grupos e pessoas que se
desconheciam, agora se descobrem, partilham, criam laços, se abraçam,
valorizando dons e diferenças, dentro de um processo de conversão permanente
que envolve a todos. É toda a paróquia em estado de missão. Vai ser uma mexida
muito grande, uma ventania do Espírito Santo, um novo Pentecostes. É um tempo
de formação eclesial, ecumênico, orante e militante.
O convite a ser missionário é dirigido também a pessoas afastadas, através de
contatos personalizados, priorizando opções e estilos de vida, acima de leis e
normas. Ao longo da pré-missão, novos missionários irão surgindo. Os que
começaram primeiro terão a tarefa de acolhê-los e de partilhar com eles o caminho
percorrido até o momento.
Costumamos distinguir os missionários “locais” dos missionários “de fora”. Os locais
são os que moram na paróquia onde está acontecendo a Missão; os de fora são os
que já saborearam essa experiência em suas paróquias/comunidades e que foram
enviados por suas comunidades, sobretudo para ajudar no tempo da grande
semana missionária.
5.5. Presença dos padres
Na nossa Igreja, há muito poder de decisão concentrado nas mãos dos padres. Não
está bem clara a relação entre ministério e diretrizes pastorais. Essas deveriam ser
decididas nas assembléias, enquanto o ministério do pároco deveria ser um serviço
para realizar as diretrizes. Como conseqüência, há muita dependência no trabalho
das pessoas que atuam nas pastorais. Não se trata somente de democratizar o
poder, mas de viver a espiritualidade do discipulado, cada um assumindo tarefas
diferentes, conforme seus dons e valores.
Pelos motivos lembrados acima, as Missões Populares dependem muito do tipo de
presença do pároco. No interior do espírito das Missões Populares, aos párocos se
sugere as seguintes atitudes:
a) Crer no valor da proposta; abraçá-la de corpo e alma, no espírito, no conteúdo e
na metodologia básica.
b) Priorizar a Missão Popular. Ela deve ser o eixo de toda pastoral. Decidir
juntamente com todos os missionários locais (o momento ideal é durante o
primeiro grande retiro) os rumos, os objetivos da Missão. Evitar com firmeza
trabalhos paralelos.
c) Participar intensamente e de forma personalizada de todo o processo.
d) Estar aberto ao novo, aos apelos, às luzes que vão aparecendo. Nunca querer
adaptar o novo aos nossos esquemas.
e) Docilidade interior e atitude de conversão permanente.
f) Uma grande paixão missionária. Ir sempre além, sair da rotina, em busca
permanente, com uma grande atenção às pessoas e aos momentos históricos que
estamos vivendo.
g) Apostar na capacidade dos missionários leigos, dar toda chance e confiança, não
por estratégia, mas movidos pela fé e pelo amor às pessoas.
h) Saber conduzir todo o processo com discernimento, com sabedoria, com coração
de pastor, profeta e conselheiro; valorizando todo o positivo que aparece,
aprendendo com as falhas, apontando sempre caminhos de esperança.
As Santas Missões Populares são uma verdadeira escola de vida para os padres, as
religiosas e as demais lideranças pastorais.
5.6. Crianças e adolescentes missionários
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Quando começamos a caminhada das Missões Populares não pensávamos nas
crianças como missionárias. A partir de 1995, foram elas mesmas que irromperam.
Foram acolhidas com simpatia e empatia; e elas começaram a fazer maravilhas.
Hoje não entendemos mais Missões Populares sem a presença criativa das crianças
e dos adolescentes. Sem eles, que são portadores das boas notícias de Deus e dos
valores do Reino, elas não seriam populares.
Acontecem jornadas de encontros para crianças missionárias, para adolescentes
missionários, a fim de que elas mesmas decidam o tipo de presença que querem
marcar nas Missões Populares. Dá-se espaço a elas nas reuniões dos missionários,
nas decisões, nas celebrações. Criam atividades, tomam iniciativas. Em cada setor
deve haver uma pequena equipe de missionários jovens e adultos liberados para o
trabalho com as crianças e adolescentes. São chamados de acompanhantes, para
não esquecer que são as crianças e adolescentes que conduzem sua presença nas
Santas Missões Populares.
6. SONHOS E DIFICULDADES
6.1. Sonhos
Os sonhos sustentam a caminhada, sobretudo nas encruzilhadas difíceis. Sonhar é
romper as barreiras do medo, da mesquinhez, da incoerência. Sonhar é dar asas ao
mais autêntico que há em nós, às grandes aspirações presentes nos gemidos da
humanidade e dos acontecimentos históricos que estamos vivendo. Sonhar é
preciso, sempre; faz bem, renova; melhor ainda quando sonhamos juntos, em
mutirão.
Há sonhos bonitos presentes nos grandes objetivos das Missões Populares. É difícil
esquematizar sonhos, mesmo assim podemos indicar os mais significativos:
a) As Santas Missões Populares desenvolvem um grande amor, uma paixão pelo
povo, sem massificação ou populismo. O amor sempre personaliza as relações
humanas.
b) As Missões Populares querem ajudar as pessoas a encontrar e dar um sentido
autêntico à vida. Querem ajudar as pessoas a resgatar sua memória histórica, a
serem sujeitos capazes de corajosas opções de vida.
c) As Missões Populares cultivam a espiritualidade do seguimento de Jesus Cristo
como caminho seguro para uma autêntica existência humana; e a propõem a todos
e todas.
d) As Missões Populares procuram despertar para os valores humanos e
evangélicos da conversão permanente, da reconciliação, da gratuidade de uma vida
solidária, simples e transparente; do silêncio, da escuta, da contemplação.
e) As Missões Populares forjam um sacerdócio missionário, co-responsável, a
serviço de toda a Igreja diocesana. Um presbitério que acredite no protagonismo
dos leigos. A ação pastoral em torno das Santas Missões aposta na caminhada das
pequenas comunidades eclesiais situadas no tempo e no espaço.
f) As Missões Populares colocam, com espírito de diálogo inter-religioso e
ecumênico, a missionariedade da Igreja local no centro de suas atividades
pastorais.
6.2. Dificuldades
Uma dificuldade particular das Missões Populares vem das pastorais, às
vezes,marcadas pela fragmentariedade, superficialidade e ativismos sem rumo
claro. Há mais gestos e ritos religiosos do que mística e espiritualidade; mais
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barulho do que silêncio e contemplação; mais estacionamento do que caminho;
mais medo do que ousadia; mais rostos cansados do que gosto e paixão.
Outra dificuldade são as situações difíceis em que vivem muitas pessoas:
desemprego, perda de referenciais e valores. Vivemos numa sociedade marcada
pela desigualdade, pela violência, pelo medo, pela indiferença. São situações que
ameaçam derrubar sonhos e esperanças. Sente-se falta de personalidades
verdadeiras, de lideranças eclesiais, sociais e políticas capazes de testemunhar,
assumir e conduzir autênticas aspirações humanas. Outra dificuldade é a
superficialidade, a falta de convicções profundas tão necessárias nas horas difíceis
da travessia.
Como assumir dificuldades e falhas, fazendo delas ocasião para purificar e refazer
nossas opções? Perdão, discernimento, esperança, ousadia se fazem necessários.
Sente-se necessidade de as equipes pastorais paroquiais captarem melhor o
espírito e o conteúdo das Missões Populares e de assumi-las com fidelidade e
criatividade.
Apesar das falhas que ocorrem nas Missões Populares, o saldo continua positivo,
porque o projeto das Missões Populares requer a participação de todos.

7. TAREFAS E PERGUNTAS
- Qual é o objetivo mais significativo das Missões Populares?
- As Missões Populares favorecem uma pastoral de conservação ou de
transformação?
- Quem já participou de Missões Populares deve ter a possibilidade de falar dessa
experiência. Como foi a continuidade?
- Quais as dúvidas, quais as certezas que ficam a respeito das Missões Populares?
- Trabalhar com as massas e/ou com pequenos grupos? Como você analisa esta
questão? Há relação?

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL/CNBB (Ed.). Santas Missões
Populares. Projeto Nacional de Evangelização. Queremos ver Jesus, caminho,
verdade e vida. São Paulo: Paulinas e Paulus, 2004.
MOSCONO, Luis. Santas Missões Populares. 10.ª ed. São Paulo: Paulinas, 2004.
VVAA. PRIMEIRO CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL. Igreja no Brasil, tua vida
é missão. Memórias. Belo Horizonte: Conselho Missionário Nacional (Comina),
2003.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Lição das abelhas

"As abelhas nos dão um grande exemplo de DESAPEGO.
Após construírem a colmeia, elas abandonam-na.
E não a deixam morta, em ruínas, mas viva e repleta de alimento.
Todo mel que fabricaram além do que necessitavam é deixado. Batem asas para a próxima morada sem olhar para trás.
Num ato incomum, abandonam tudo o que levaram a vida para construir.
Simplesmente, o soltam sem preocupação se vai para outro.
Deixam o melhor que têm, seja pra quem for – o que é muito diferente de doar o que não tem valor ou dirigir a doação para alguém de nossa preferência.
Se queremos ser livres, parar de sofrer pelo que temos e pelo que não temos, devemos abrigar um único desejo: o de nos transformar. Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão da perda.
O sofrimento vem da fixação a algo ou a alguém.
O apego embaça o que deveria estar claro: por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para nosso crescimento precisa entrar.
Se não abrirmos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?”
(Autor Desconhecido)

A Menina e o Pássaro Encantado

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…
E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.
E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.
— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…
— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
Até que não aguentou mais.
— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…
— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…
— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!
Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Esta história, eu não a inventei.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.

— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…
— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
— Tenho de ir — dizia.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”
Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…
Abriu a porta da gaiola.
E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.
— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”
* * *
Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…
Essa é uma das belas história de Rubem Alves

terça-feira, 14 de abril de 2015

Comunidade de Comunidades: Uma nova paróquia

Na 52ª Assembléia Geral , da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Aparecida, nos dias 30 de abril a 09 de maio de 2014 é aprovado o documento nº 100 da CNBB -  Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia. O documento chama a atenção à conversão pastoral da paróquia. Pensar nas ações ultrapassadas e caducas e retornar a essência, frutos cultivados nas comunidades primitivas. Grupos menores, que caminham com pé no chão, ciente da realidade e dispostos a serem discípulos missionários. "A comunidade evangeliza e testemunha a alegria do Evangelho".

O texto reforça as palavras do Papa Francisco: "Pastoral é exercício da maternidade da Igreja. Ela gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta e conduz pela mão.

Trata-se de uma proposta ousada e desafiadora. Sair do comodismo, não centrar o devocionismo, ir ao encontro do outro. Dependerá do empenho de todos.

Finalizando o documento, no último parágrafo temos uma mensagem de esperança: " Aquele que renova todas as coisas ilumine e conduza os passos da renovação paroquial que a Igreja no Brasil pretende. A nova realidade implica um novo entusiasmo por Deus e por seu Reino. A conversão paroquial exige uma renovação espiritual e pastoral que se expressa na nova evangelização.




terça-feira, 31 de março de 2015


Do CEBI

Marcos 11.1-11: Jesus, o empregado de todas e de todos, vem montado num animal de carga [Mesters e Lopes]



38º Romaria da terra<br>Fonte: Paulo Daniel Derensbeed
Abrir os olhos para ver
Esse texto fala da grande manifestação popular em favor de Jesus no Domingo de Ramos. Sentado num jumento, animal de carga, Jesus entra em Jerusalém, capital do seu povo. Os discípulos, as discípulas e povo romeiro, vindos da Galileia, o aclamam como messias. Mas o povo da capital não participa. Apenas assiste, e as autoridades nem aparecem. A romaria termina na praça do Templo, a praça dos poderes. Parece uma passeata que termina diante da catedral e do Palácio do Planalto. Também hoje há manifestações populares. As suas reivindicações revelam o sofrimento do povo e a sua indignação frente às injustiças. Nem todos participam, pois têm medo. A maioria apenas assiste.
Situando
 
Finalmente, após uma longa caminhada de mais de 140 quilômetros, desde a Galileia até Jerusalém, a romaria está chegando ao seu destino. A cena se passa em Jerusalém, símbolo central da religião (Sl 122,3). No início do bloco, está o gesto simbólico de Jesus: aclamado pelo povo peregrino, ele entra na cidade montado num jumentinho, animal de carga.
 
A caminhada de Jesus e seus discípulos era também a caminhada das comunidades no tempo em que os evangelistas escreviam o seu evangelho: seguir Jesus, desde a Galileia até Jerusalém, desde o lago até o calvário, com a dupla missão de denunciar os donos do poder que preparam a cruz para quem os desafia e de anunciar ao povo sofrido a certeza de que um mundo novo é possível. Esta mesma caminhada continua até hoje.
 
Comentando 

A chegada em Jerusalém

Jesus vem caminhando, como romeiro no meio dos romeiros! O ponto final da romaria é o Templo, onde mora Deus! Em Betânia ele faz uma parada. Betânia significa Casa da Pobreza. Era um povoado pobre fora da cidade, do outro lado do Monte das Oliveiras. De lá, Jesus organiza e prepara a sua entrada na cidade. Ele manda os discípulos buscar um jumentinho, um jegue, animal de carga, para poder realizar um gesto simbólico.

A ajuda dos discípulos e das discípulas

Os discípulos fazem como Jesus tinha mandado, e tudo acontece conforme o previsto. Eles encontram o jumentinho e o levam até Jesus. E alguns dos que ali se encontravam perguntaram: "Por que vocês estão soltando o jumentinho?" E eles responderam: "Jesus está precisando!" Todos nós somos como o jumentinho, animal de carga. Jesus precisa de nós.

A entrada solene na Cidade Santa

Jesus monta o jumentinho e entra na cidade, aclamado pela multidão de peregrinos e pelos discípulos. Na cabeça deles está a ideia do messias rei glorioso, filho de Davi! Eles acreditam que, finalmente, o Reino de Davi tenha chegado e gritam: "Bendito o Reino que vem de nosso pai Davi!" Jesus aceita a homenagem, mas com reserva. Montado no jumentinho, ele evoca a profecia de Zacarias que dizia: "Teu rei vem a ti, humilde, montado num jumento. O arco de guerra será eliminado" (Zc 9,9-10). Jesus aceita ser o messias, mas não o messias rei glorioso e guerreiro que os discípulos imaginavam. Ele se mantém no caminho do serviço, simbolizado pelo jumentinho, animal de carga. Jesus ensina agindo. Os discípulos, que procurem entender o gesto de Jesus, mudem de ideia e se convertam!

Alargando 

As romarias do povo e os salmos de romaria  

As romarias para Jerusalém eram feitas três vezes ao ano, nas três grandes festas: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos (cf. Ex 23,14 e 17). Dos lugares mais distantes os romeiros vinham caminhando. Alguns faziam cinco, seis ou mais dias de viagem. Vinham para Jerusalém, a capital, "a cidade grande e bela, para onde tudo converge" (cf. Sl 122,3-4). As romarias eram momentos de confraternização e de muita alegria: "Fiquei foi contente, quando me disseram: Vamos para a Casa do Senhor!" (Sl 122,1). Nestas longas viagens, o povo rezava e cantava os Salmos de Romaria. Jesus também os rezou, junto com os peregrinos da Galileia, nesta sua última romaria para a Casa de Deus, em Jerusalém.
 
Os "Salmos de Romaria" formam uma coleção de 15 salmos dentro do saltério, do Salmo 120 até o Salmo 134. São salmos pequenos. O povo que rezava quando subia para o Templo de Jerusalém em peregrinação. Por isso, chamados "Cânticos das Subidas". Eles diziam: "Vinde! Vamos subir ao Monte de Javé!" (Is 2,3). "Vamos subir a Sião, a Javé, nosso Deus!" (Jr 31,6).
 
Apesar de pequenos, os Salmos de Romaria possuem uma grande riqueza. São uma amostra de como o povo rezava e se relacionava com Deus. Eles ajudam o povo a perceber os traços de Deus nos fatos da vida. Transformam tudo em prece, mesmo as coisas mais comuns da vida de cada dia. De um jeito bem simples, revelam a dimensão divina do quotidiano. Ajudam a perceber e a rezar a dimensão divina do humano.
 
Também eram chamados "Cânticos dos Degraus". Provavelmente por causa da majestosa escadaria de 15 degraus que dava acesso ao Templo de Jerusalém. Daí, talvez, a razão de a coleção ter exatamente 15 salmos.

A subida pelos 15 degraus da escadaria do Templo era uma imagem e um resumo da própria romaria, desde o povoado até Jerusalém. E ambas, tanto a subido como a romaria, eram um símbolo ou uma imagem da caminhada de cada pessoa em direção a Deus.
 
Quando, finalmente, após longa caminhada, o romeiro chega ao Templo e experimenta algo da presença de Deus, as palavras já não bastam para dizer o que se vive. Então, o gesto das mãos completa o que falta nas palavras. Isto transparece nos Salmos de Romaria. Assim, no último salmo, gesto e palavra se unem para expressar o que se vive: "Levantem as mãos para o santuário e bendigam a Javé!" (Sl 134,2).
 
Ao longo dos salmos de romaria, os mesmos pensamentos e sentimentos aparecem e reaparecem, do começo ao fim. Eles indicam a direção da oração, o rumo do Espírito. Eis uma lista que pode servir como chave de leitura para nós.
 
1.     O pano de fundo que percorre estes salmos é a experiência libertadora do Êxodo e do Exílio;
2.     São orações em que agricultores expressam e rezam a sua vida e os seus problemas;
3.     Transparece nas imagens usadas uma situação de violenta opressão e de exploração do povo;
4.     Em alguns destes salmos, se passa do eu para o nós, o que revela a integração na comunidade;
5.     Neles se expressa a alegria intensa da confraternização dos romeiros em Jerusalém;
6.     O Templo ocupa um lugar importante na vida do povo, lugar de encontro com Deus;
7.     A ambivalência da monarquia e da cidade de Jerusalém: centro que atrai e que oprime;
8.     Um grande desejo de paz e de liberdade percorre quase todos estes salmos;
9.     Não usam ideias rebuscadas, mas transformam em prece as coisas comuns da vida;
10.  No centro de tudo, no começo e no fim, está a fé em "Javé que fez o céu e a terra".
38º Romaria da terra<br>Fonte: Victória Holzbach | Arquidiocese de Passo Fundo

Fonte: Extraído: Caminhando com Jesus, parte 2, p. 53-57 [Carlos Mesters e Mercedes Lopes]