segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A MOÇA DO POTE VAZIO de Jacob Petry

Naquele tarde caminhamos por um longo tempo. Ao contrário dos outros dias, o Mestre falava pouco. Restringia-se a fazer perguntas sobre a arte de viver em sociedade. Quando chegamos à margem do lago, contou-me a seguinte história:

"Muitos séculos atrás, um rei muito sábio e rico habitava uma ilha do Mediterrâneo. Certo dia, ele adoeceu e decidiu passar, ainda em vida, a coroa ao filho. Segundo a tradição, o princípe deveria se casar antes de assumir o trono. O príncipe então resolveu escolher sua esposa. Para isso, marcou uma celebração especial onde lançaria um desafio. A moça que vencesse o desafio, tornaria-se sua esposa.
Uma serva do palácio ouviu os comentários sobre o desafio e se sentiu muito triste, pois sabia que sua filha, uma moça humilde mas muito bela e honesta, nutria um sentimento especial pelo príncipe. Seu sonho era algum dia, pelo menos, poder ver o príncipe de perto.
Quando a mãe chegou em casa, a filha estava a sua espera. Ela também já havia sido informada sobre as intenções do príncipe, e esperava a autorização da mãe para participar do desafio.
Cética, a mãe tentou desencorajá-la.
- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes as mais belas e ricas moças da corte.Tire esta ideia da cabeça. Eu sei o quanto gosta do príncipe, sei que deve estar sofrendo, mas não transforme esse sofrimento em uma tortura ainda maior.
- Mãe, respondeu a filha, sei que dificilmente serei a escolhida. Mas é minha única oportunidade de ficar, pelo menos alguns momentos, perto do príncipe. Isto já me fará feliz.
A mãe acabou consentindo, e no dia da celebração, a moça foi ao palácio. Lá, de fato, estavam não só as mulheres mais belas e ricas da ilha, mas também as de inúmeras ilhas vizinhas. Seus vestidos eram lindos. Estavam cobertas de joias valiosas e com maquiagens impecáveis. A moça, tímida e humilde, manteve-se discreta num canto, esperando o príncipe anunciar o desafio. Enfim, o momento chegou:
- Darei a cada uma de vocês, disse o príncipe, a semente de uma rara espécie de flor. Daqui a três meses, vamos ter outra celebração. Aquela jovem que souber cultivar melhor a semente, e trouxer a flor mais bela, será a minha esposa.
A filha da serva pegou sua semente e foi para casa muito feliz, repleta de esperanças. Na verdade, contra todas as perspectivas, ela teria uma chance: ela somente precisaria cultivar a flor com todo cuidado possível. Era isso que ela faria.
Na manhã seguinte, plantou a semente num vaso e passou a tratá-la com todos os cuidados possíveis. Desejava que a beleza da flor fosse da intensidade de seu amor pelo príncipe. Se isso fosse acontecer, ela já se sentiria satisfeita.
O tempo foi passando. Um mês depois, a semente ainda não havia germinado. A jovem tentou de tudo, fez uso de todos os métodos que conhecia, mas não conseguia fazer com que a semente germinasse. Dia após dia, seu sonho parecia mais difícil de se realizar; mas seu amor não permitia que ela desistisse. Por fim, os três meses haviam passado e a semente não havia germinado. E agora, o que fazer?
Dias antes da celebração ela já implorava, desesperada, para sua mãe a deixasse retornar ao palácio. Ela não pretendia nada além de passar mais alguns momentos na companhia do príncipe. Queria ficar perto dele, só isso.
Por fim, para satisfazer o desejo da filha, a mãe consentiu que ela fosse.
No dia da celebração, ela estava lá. Temendo que talvez não a deixassem entrar sem a flor, ela levou seu vaso vazio. Todas as outras jovens traziam flores lindas, robustas, coloridas e cheirosas. Havia rosas, violetas, jasmins, orquídeas, todas, das mais variadas formas e cores.
A pobre filha da serva do palácio estava triste, frustrada e envergonhada com seu pote vazio. Sentia-se humilhada, mas também grata por estar ali. O que ela poderia ter feito se a semente não germinou?
Na metade da noite, chegou o grande momento da escolha. As mulheres foram todas colocadas em um círculo.Para ficar mais perto dele, a moça foi para o círculo com seu pote vazio.
O príncipe observou cada uma das pretendentes curtiu muito as flores que haviam trazido. Após analisar uma a uma, ele retornou ao centro para anunciar o resultado. Que surpresa: entre todas, o príncipe escolheu justamente a filha da serva do palácio, que trazia um pote vazio.
As pessoas tiveram as reações mais inesperadas. Ninguém compreendeu porque o príncipe havia escolhido justamente aquela moça que nem mesmo conseguira cultivar sua semente. Então, calmamente, o príncipe explicou o motivo da sua escolha.
-Esta moça, ele disse, foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar minha esposa e rainha. Ela cultivou a flor da honestidade. Pois, todas as sementes que distribui naquela noite, trinta dias atrás, eram sementes falsas, e portanto, estéreis."
Quando a história terminou, o Mestre seguiu em silêncio. Depois, ele se voltou para mim, colocou a mão sobre meu ombro e disse:
- Muitas vezes, ser quem verdadeiramente somos parece muito pouco. Aparecer com um pote vazio, quando todo mundo aparenta ter conseguido cultivar flores robustas e coloridas, parece duro, árduo, triste e até humilhante. Mas nada impressiona e recompensa tanto quanto a honestidade, ainda que ela seja feia como um pote vazio.
Em seguida, disse que já estava na hora dele partir.

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