sábado, 27 de outubro de 2012


Bartimeu, o cego de Jericó, discípulo modelo para todos nós (Mc 10,46-52) - Mesters e Lopes
por CEBI Publicações

BARTIMEU, O CEGO DE JERICÓ, DISCÍPULO MODELOPARA TODOS NÓS
Marcos 10,46-52

Texto extraído do livro ''CAMINHANDO COM JESUS'' - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos - Coleção A Palavra na Vida 184/185. CEBI Publicações. Mais informações emvendas@cebi.org.br
  
COMENTANDO
Finalmente, após longa travessia, chegam a Jericó, última parada antes da subida para Jerusalém. O cego Bartimeu está sentado à beira da estrada. Não pode participar da procissão que acompanha Jesus. Mas ele grita, invocando a ajuda de Jesus: "Filho de Davi! Tem dó de mim!" O grito do pobre incomoda. Os que vão à procissão tentam abafá-lo. Mas "ele gritava mais ainda!" E Jesus, o que faz? Ele escuta o grito, para e manda chamá-lo! Os que queriam abafar o grito incômodo do pobre, agora, a pedido de Jesus, são obrigados a ajudar o pobre a chegar até Jesus.
Bartimeu larga tudo e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um manto. Mas era o que tinha para cobrir o seu corpo (cf. Ex 22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Jesus pergunta: "O que você quer que eu faça?" Não basta gritar. Tem que saber por que grita! "Mestre, que eu possa ver novamente!" Bartimeu tinha invocado Jesus com ideias não inteiramente corretas, pois o título "Filho de Davi" não era muito bom.
próprio Jesus o tinha criticado (Mc 12,35-37). Mas Bartimeu teve mais fé em Jesus do que nas suas ideias sobre Jesus. Assinou em branco. Não fez exigências como Pedro. Soube entregar sua vida aceitando Jesus sem impor condições. Jesus lhe disse: "'Tua fé te curou!' No mesmo instante, o cego recuperou a vista". Largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (10,52).
Sua cura é fruto da sua fé em Jesus (Mc 10,46-52). Curado, Bartimeu segue Jesus e sobe com ele para Jerusalém. Tornou-se discípulo modelo para Pedro e para todos os que queremos "seguir Jesus no caminho" em direção a Jerusalém: acreditar mais em Jesus do que nas nossas ideias sobre Jesus! Nesta decisão de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a consequência do compromisso assumido com Deus de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.

ALARGANDO
A fé é uma força que transforma as pessoas
A Boa Nova do Reino anunciada por Jesus era como um fertilizante. Fazia crescer a semente da vida que estava escondida no povo, escondida como fogo em brasa debaixo das cinzas das observâncias sem vida. Jesus soprou nas cinzas e o fogo acendeu, o Reino desabrochou e o povo se alegrou. A condição era sempre a mesma: crer em Jesus.
A cura de Bartimeu (Mc 10,46-52) esclarece um aspecto muito importante da longa instrução de Jesus aos discípulos. Bartimeu tinha invocado Jesus com o título messiânico "Filho de Davi" (Mc 10,47). Jesus não gostava deste título (Mc 12,35-37). Porém, mesmo invocando Jesus com ideias não inteiramente corretas, Bartimeu teve fé e foi curado.
Diferentemente de Pedro (Mc 8,32-33), acreditou mais em Jesus do que nas ideias que tinha sobre Jesus. Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (Mc 10,52). A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém.
Quem insiste em manter a ideia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender de Jesus e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo. Quem souber crer em Jesus e fazer a "entrega de si" (Mc 8,35), aceitar "ser o último" (Mc 9,35), "beber o cálice e carregar sua cruz" (Mc 10,38), este, como Bartimeu, mesmo tendo ideias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e "seguirá Jesus no caminho" (Mc 10,52). Nesta certeza de caminhar com Jesus estão a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A catequese pergunta: E a família como vai?
“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé,
torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II)
Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a
família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo,
individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).
O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se
desenvolveram tanto que acabam passam por cima dos princípios da ética e da religião. E quem
acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num
horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica
num beco sem saída.
Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje?
Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar:
• Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão.
• Ausência dos pais na educação de seus filhos.
• Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos.
• Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação.
• O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato
conjugal.
• Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados.
• Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por
trocar os parceiros.
• Número crescente de divórcios.
• Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a
prática do aborto.
• Instauração de uma mentalidade contraceptiva.

A catequese pergunta: E a família como vai?
“À medida que a família cristã acolhe o Evangelho e amadurece na fé,
torna-se comunidade evangelizadora.” (João Paulo II)
Chamada a ser o Santuário da Vida e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a
família hoje vive as ameaças da sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo,
individualismo, utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).
O mundo hoje é plural, mas também fragmentado. As ciências e as tecnologias se
desenvolveram tanto que acabam passam por cima dos princípios da ética e da religião. E quem
acaba sofrendo os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num
horizonte cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a família fica
num beco sem saída.
Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que influencia as famílias hoje?
Olhando para a realidade atual, verificamos diversas realidades. Entre elas, vale mencionar:
• Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de diálogo e de comunhão.
• Ausência dos pais na educação de seus filhos.
• Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos filhos.
• Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da situação.
• O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer, banalizando a sacralidade do ato
conjugal.
• Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo relativizados.
• Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras dificuldades, casais optam por
trocar os parceiros.
• Número crescente de divórcios.
• Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à vida, incentivando assim a
prática do aborto.
• Instauração de uma mentalidade contraceptiva.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

do Blog do Pe. Joãozinho

Neste dia 12 de outubro, sob as bênção de Nossa Senhora Aparecida, trabalho com Pe. Zezinho, scj em alguns projetos novos para a Igreja no Brasil, especialmente em vista da Jornada Mundial da Juventude RIO 2013. Após o AVC isquêmico que sofreu em setembro ficaram limites que ele só foi percebendo aos poucos. O pior deles são os lapsos de memória que lhe roubam palavras e tornam algumas frases incompletas ou confusas. Escrever ou digitar se tornou mais pesado e difícil. A leitura é lenta. As letras das canções foram deletadas. Mas, curiosamente, a criatividade melódica permaneceu inalterada e ele tem composto assoviando, belas melodias.
Hoje ele me mostrou sua primeira vitória ao computador. Após longos 20 minutos (para ele isso é muito tempo) conseguiu digitar uma belíssima crônica sobre o dia da Padroeira do Brasil: 15 linhas. Pedi para divulgar,l mas ele preferiu ainda guardar isto como um exercício pessoal.
Conversamos longamente sobre o projeto de uma Via Sacra para a JMJ RIO 2013, pedido especial de Dom Orani,  e conseguimos criar o tema, o título, o formato, as ideias centrais. Para minha alegria, o grande dom criativo parece ter voltado em 90%. Consagro tudo isso à Mãe que sempre “aparece” na hora em que mais precisamos. Acredito que ela acompanha este seu filho neste momento em que a cruz não é poema… e pesa para falar palavras simples como “solidariedade”. Reze pela gente. Vem muita coisa nova e boa por aí.
Pe. Joãozinho, scj

sábado, 13 de outubro de 2012


por CEBI PUBLICAÇÕES

VAI, VENDE TUDO QUE TENS E DÁ PARA OS POBRES!
CEM VEZES MAIS JÁ NESTA VIDA, MAS COM PERSEGUIÇÕES
MARCOS 10,17-30

Texto extraido do livro ''CAMINHANDO COM JESUS'' - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos - Coleção A Palavra na Vida 184/185. CEBI Publicações. Mais informações emvendas@cebi.org.br.


ABRIR OS OLHOS PARA VER
O texto de hoje traz dois assuntos: (1) Conta a história do moço que perguntou pelo caminho da vida eterna e (2) chama a atenção para o perigo das riquezas. O moço não aceitou a proposta de Jesus, pois era muito rico. Uma pessoa rica é protegida pela segurança que a riqueza lhe dá. Ela tem dificuldade em abrir mão desta segurança. Agarrada às vantagens dos seus bens, vive preocupada em defender seus próprios interesses. Uma pessoa pobre não tem esta preocupação. Mas há pobres com cabeça de rico. Muitas vezes, o desejo de riqueza cria neles uma grande dependência e faz o pobre ser escravo do consumismo, pois ele fica devendo prestações em todo canto. Já não tem mais tempo para dedicar-se ao serviço do próximo. Vamos conversar sobre isto.
Uma pessoa que vive preocupada com sua riqueza ou que vive querendo adquirir aquelas coisas da propaganda na televisão, pode ela libertar-se de tudo para seguir Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que você acha? Conhece alguém que conseguiu largar tudo por causa do Reino?

SITUANDO
No texto de hoje, Jesus aponta mais dois aspectos da conversão que deve ocorrer no relacionamento dos discípulos com os bens materiais (Mc 10,17-27) e no relacionamento dos discípulos entre si (Mc 10,28-31). Para poder entender todo o alcance das instruções de Jesus, é bom olhar, novamente, o contexto mais amplo em que Marcos coloca estes textos. Jesus está subindo para Jerusalém, onde será crucificado (cf. Mc 8,27; 9,30.33; 10,1.17.32). Ele está entregando sua vida. Sabe que vão matá-lo, mas não volta atrás. Esta atitude de fidelidade e de entrega à missão que recebeu do Pai dá a Jesus as condições de apontar aquilo que realmente importa na vida.
As recomendações de Jesus valem para todos os tempos, tanto para o povo do tempo de Jesus e de Marcos como para nós hoje, aqui no Brasil. Pois o que importa, em cada época, é recomeçar a construção do Reino, renovando o relacionamento humano em todos os níveis, para que esteja de acordo com a vontade de Deus.

COMENTANDO
1. Marcos 10,17-19: Os mandamentos e a vida eterna
Alguém chega e pergunta: "Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?" O Evangelho de Mateus informa que se tratava de um jovem (Mt 19, 20.22). Jesus responde bruscamente: "Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus!" Jesus desvia a atenção de si mesmo para Deus, pois o que importa é fazer a vontade do Pai, revelar o Projeto do Pai. Em seguida, Jesus afirma: "Você conhece os mandamentos: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não defraudar ninguém, honrar pai e mãe". O jovem tinha perguntado pela vida eterna. Queria a vida junto de Deus! E Jesus só lembrou os mandamentos que dizem respeito à vida junto do próximo! Não falou dos três primeiros que definem o relacionamento com Deus! Para Jesus, só conseguimos estar bem com Deus, se soubermos estar bem com próximo. Não adianta se enganar. A porta para chegar até Deus é o próximo.
2. Marcos 10,20: Observar os mandamentos, para que serve?
O moço responde que observa os mandamentos desde a sua juventude. O curioso é o seguinte. O rapaz tinha perguntado pelo caminho da vida. Ora, o caminha da vida era e continua sendo: fazer a vontade de Deus expressa nos mandamentos.  Quer dizer que ele observava os mandamentos sem saber para que serviam! É como muitos católicos que não sabem para que serve ser católico. "Nasci no Brasil, por isso sou católico!" Coisa de costume.
3. Marcos 10,21-22: Partilhar os bens com os pobres
Jesus olhou para ele, o amou e lhe disse: Só uma coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu, e em seguida vem e segue-me! A observância dos mandamentos é apenas o primeiro degrau de uma escada que vai mais longe e mais alto. Jesus pede mais! A observância dos mandamentos prepara a pessoa para ela poder chegar à doação total de si a favor do próximo. Jesus pede muito, mas ele o pede com muito amor. O  moço não aceitou a proposta de Jesus e foi embora, "pois era muito rico".
4. Marcos 10,23-27: O camelo e o buraco da agulha
Depois que o moço foi embora, Jesus comentou a decisão dele: Como é difícil um rico entrar no Reino de Deus! Os discípulos ficaram admirados. Jesus repete a mesma frase e acrescenta: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino! Esta última expressão era um provérbio que não pode ser tomado ao é da letra. Nós também temos provérbios assim que não podem ser tomados ao pé da letra. Por exemplo: "dar nó em pingo d'água", "entrar pelo cano", "perder a cabeça". O provérbio do camelo e do buraco  da agulha se usava para dizer que uma coisa era impossível e inviável.
Os discípulos ficaram chocados com a afirmação de Jesus! Sinal de que não tinham entendido a resposta de Jesus ao moço rico. "Vai, vende tudo, dá para os pobres, vem e segue-me!" Como dissemos, o moço tinha observado os mandamentos, mas sem entender o porquê da observância. Algo semelhante estava acontecendo com os discípulos. Eles tinham abandonado todos os bens conforme Jesus tinha pedido ao moço, mas sem entender o porquê do abandono! Se tivessem entendido, não teriam ficado chocados com a exigência de Jesus. Quando a riqueza ou o desejo da riqueza ocupa o coração e o olhar, a pessoa já não consegue perceber o sentido da vida e do evangelho. Só Deus mesmo para ajudar! Pois para Deus nada é impossível.
A frase "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino!" trata, não em primeiro lugar da entrada no céu depois da morte, mas sim da entrada na comunidade ao redor de Jesus.
5. Marcos 10,28-31: Serviço e gratuidade
Por isso Pedro pergunta: "Olha, nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos ter?" Apesar do abandono, eles mantêm a mentalidade anterior. Não entendem o sentido do serviço e da gratuidade. Abandonaram tudo para ter algo em troca. A resposta de Jesus é simbólica e deixa entrever que não devem esperar vantagem, nem segurança, nem promoção de nada. Vão ter cem vezes mais, com perseguições, já nesta vida. E,  no mundo futuro, terão a vida eterna de que o moço rico falava.

ALARGANDO
Jesus e a opção pelos pobres
Um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus: o cativeiro da política de Herodes, apoiada pelo Império Romano e mantida por todo um sistema bem organizado de exploração e de repressão, e o cativeiro da religião oficial, mantida pelas autoridades religiosas da época. Por causa disso, o clã, a família, a comunidade está sendo desintegrada e uma grande parte do povo vivia excluída, marginalizada, sem lugar, nem na religião, nem na sociedade. Por isso, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de viver e conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros grupos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos.
As comunidades dos fariseus viviam separadas. A palavra "fariseu" quer dizer "separado". Viviam separados do povo impuro. Muitos dos fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Não aprendiam nada do povo (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas, consideradas impuras: publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como "anunciar a Boa Nova aos pobres" (Lc 4,18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mc 10,21).
A pobreza que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracterizava também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podiam levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Deviam confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso fossem acolhidos pelo povo, deviam trabalhar como todo o mundo e viver do que receberiam em troca (Lc 10,7-8). Além disso, deviam tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podiam dizer ao povo: "O Reino chegou!" (Lc 10,9).
Por outro lado, quando se trata de administrar os bens, aquilo que chama a atenção nas parábolas de Jesus é a seriedade que ele pede no uso destes bens (Mt 25,21.26; Lc 19,22-23). Jesus quer que o dinheiro esteja a serviço da vida (Lc 16,9-13). Para Jesus, ser pobre não é sinônimo de relaxado e descuidado.
Este testemunho diferente a favor dos pobres era o passo que faltava no movimento popular da época. Cada vez que, na Bíblia, surge um movimento para renovar a Aliança, eles recomeçam restabelecendo o direito dos pobres, dos excluídos. Sem isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Ele denuncia o sistema antigo que, em Nome de Deus, excluía os pobres. Jesus anuncia um novo começo que, em nome de Deus, acolhe os excluídos. Este é o sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos pobres. Ela atinge a raiz e inaugura a Nova Aliança.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

do site da Irmã Miria Kolling

Visita ao Pe. Zezinho!



É meio-dia deste 5 de outubro de 2012, sexta-feira.

Eu, já sentada no ônibus da Pássaro Marrom, que me leva de volta a São Paulo, após a visita feita ao Pe. Zezinho, nesta manhã, procuro registrar nosso feliz encontro, para partilhar com os amigos. Não caibo em mim de alegria, por vê-lo feliz, bem disposto e cheio de esperança. Ele repousa “no seu costumeiro quarto”, junto ao Hospital Antoninho Marmo, das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, em São José dos Campos, muito bem cuidado pela sobrinha Débora e Irmã Mirian, acompanhado pela fonoaudióloga e alguns médicos. Estava mesmo fazendo exercícios com a fonoaudióloga, quando lá cheguei (hora marcada, às 10h30min). Ele me recebeu alegre, com um sorriso aberto: “Chegou ela!” Perguntaram-lhe: ela quem? Quem é essa?... Prontamente respondeu: “Essa é a Irmã Miria”. Lembrou meu nome, o que é excelente sinal de melhora. Fiquei ainda mais feliz por vê-lo se recuperando, melhor do que eu esperava, louvado seja Deus!

De Notbook nas mãos, treina e pronuncia as palavras, escreve e prepara seu novo livro “O púlpito que dói.” De que trata? – pergunto-lhe. Ao que responde: É sobre as reflexões homiléticas dos nossos padres, que devem tratar da Palavra de Deus, do Evangelho, sem se distanciar...”

Contou-me com detalhes como tudo aconteceu naquela quarta-feira de 19 de setembro, quando voltou de viagem cansado, mas ainda foi trabalhar e preparar uma entrevista. O que lhe agravou o problema é a diabetes, que exige cuidado e disciplina, coisas que aliás não lhe faltam. Grato a Deus e consolado, dizia: “ A isquemia afetou apenas o meu lado esquerdo do cérebro, o das palavras e da memória. O direito, que é o da arte, da criatividade e da música, está perfeito.”

Comparando sua situação de hoje com os dez primeiros dias, quando não lembrava mais de nada, ele se percebe ótimo, melhorando gradativamente... Um processo longo, recuperação lenta, mas acontecendo de modo muito satisfatório, graças ao seu otimismo, disciplina, hábitos saudáveis, notável paciência e incondicional colaboração. Percebe-se sensível melhora a cada dia! Por enquanto, até o final do ano, não poderá assumir shows, mas ficar longe, em repouso... Serão talvez ainda uns 2 meses de tratamento intenso, para recuperar a fala e a memória. Às vezes as palavras demoram a ser lembradas ou lhe fogem; está reaprendendo a dizer o nome das coisas, das pessoas, ora lembradas, ora esquecidas. “Aprender é comigo mesmo”, completa Pe. Zezinho, em sua humildade e simplicidade, sabedoria e confiança em Deus!

Quando lhe falei dos lugares por onde andei nessas duas últimas semanas, sobretudo Mozarlândia, no interior de Goiás, e Juazeiro do Norte, no Ceará, e de quanto o povo reza e pergunta por ele; de que o visitava em nome de todos os que lhe querem bem e cantam suas músicas, ele agradeceu sorrindo: “Sou grato a todos, pela amizade e pelas orações. Preciso, eu mesmo, reencontrar as palavras e despertar a memória que me fugiu. Mas se Deus quiser, com tantas preces, chegarei lá... Já estou melhorando bem.”

Ajudou-me a cantar “Deus é bom”, CD que lhe levei de presente. A foto que tiramos juntos foi com sua permissão: ele mesmo escolheu o melhor lugar, no jardim. Também registrei a presença de Irmã Mirian e a sobrinha Débora, que o acompanham de perto e cuidam de tudo com carinho.

Posso dizer que meu coração exultou de alegria ao vê-lo com brilho nos olhos e sorriso nos lábios, abrindo os braços para me acolher. No abraço que nos demos, eu tive presente cada amigo, todos os que lhe querem bem e rezam cantando suas canções, e que gostariam também de estar com ele naqueles privilegiados momentos. Partilho com vocês, povo de Deus, amigos nossos, do canto e da música, este encontro abençoado, para que também se alegrem, continuem rezando e confiando a Deus nosso cantor e poeta maior!
                                                                                               Irmã Miria T. Kolling                                                                                                         São Paulo, 5 de outubro de 2012.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

retirado de formação de catequistas


A Bíblia abrange um período histórico de 1000 a.C. a 100 d.C. e representa uma preciosa
fonte literária para a história da humanidade. Fazendo jus à sua etimologia (do grego Biblion), a
Bíblia constitui uma autêntica biblioteca, contendo uma coleção de livros bastante diversificada em
relação à forma (extensão, vocabulário, estilo) e conteúdo.
A Bíblia apresenta relatos em prosa, códigos legislativos, provérbios e máximas morais,
cartas, poesia lírica e dramática, profecias, liturgia, folclore, lendas. Traz inclusive imperfeições,
lacunas deficiências científicas, filosóficas e religiosas que poderiam até nos escandalizar.
Percebemos até divergências na transmissão das próprias palavras de Jesus o que torna difícil, mas
não impossível conciliar tantas diferenças e disparidades.
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita com mão humana. Deus ao se revelar na história
respeitou a liberdade e a linguagem humana tão pobre e tão precária. É bonito perceber que a
Palavra de Deus assumiu uma roupagem humana (linguagem), mesmo com suas deficiências, do
mesmo modo como Cristo assumiu a sua natureza humana.
A constituição do Vaticano II, sobre a Palavra Deus (Dei Verbum), aproxima o mistério da
Bíblia ao mistério do Verbo encarnado: “as palavras de Deus, expressas em línguas humanas,
tornaram-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo eterno do Pai,
tomando a carne da fraqueza humana, se tornou semelhante aos homens” (DV 13).
Ser fiel, portanto, ao mistério da Bíblia significa estar ciente de seu aspecto humano, que
não foi absorvido pela Palavra de Deus, mas foi assumido por ela.