A
catequese pergunta: E a família como vai?
“À medida que a família cristã
acolhe o Evangelho e amadurece na fé,
torna-se comunidade
evangelizadora.” (João Paulo II)
Chamada a ser o Santuário da Vida
e o lugar privilegiado para experimentar o amor, a
família hoje vive as ameaças da
sociedade influenciada pelo consumismo, relativismo, ateísmo, individualismo,
utilitarismo, subjetivismo e hedonismo (culto ao prazer).
O mundo hoje é plural, mas também
fragmentado. As ciências e as tecnologias se
desenvolveram tanto que acabam
passando por cima dos princípios da ética e da religião. E quem acaba sofrendo
os impactos da sociedade pós-moderna é a família, por vezes mergulhada num horizonte
cheio de dramas. As pressões do mundo globalizado são tantas que às vezes a
família fica num beco sem saída.
Quais as dificuldades que passam as nossas famílias? O que
influencia as famílias hoje?
Olhando para a realidade atual, verificamos diversas
realidades. Entre elas, vale mencionar:
• Falta de uma espiritualidade conjugal mais profunda de
diálogo e de comunhão.
• Ausência dos pais na educação de seus filhos.
• Meios de comunicação assumindo a rédea da educação dos
filhos.
• Influência da “ditadura do relativismo” gerando uma ética da
situação.
• O culto ao corpo e a busca do prazer pelo prazer,
banalizando a sacralidade do ato
conjugal.
• Valores familiares como o amor, fidelidade e respeito sendo
relativizados.
• Aumento de relacionamentos instáveis. Nas primeiras
dificuldades, casais optam por
trocar os parceiros.
• Número crescente de divórcios.
• Direito à liberdade colocado acima do direito inviolável à
vida, incentivando assim a
prática do aborto.
• Instauração de uma mentalidade
contraceptiva.
História da TV
O que essa historinha tem a dizer
para a catequese e a família? Qual a lição que tiramos?
Luzes
e esperanças para a família do século XXI
Nem tudo são só espinhos e
sombras. Temos presente em nossa realidade familiar luzes que
nos dão muitas esperanças:
→Cresceu a consciência da
liberdade pessoal e maior atenção à qualidade das relações
interpessoais no matrimônio.
→ A promoção da dignidade da
mulher.
→ Maior atenção na educação dos
filhos no exercício da paternidade e maternidade
responsável.
→ Maior união da família nas
relações de ajuda, nos momentos de necessidade.
→ Descoberta da importância da
família e sua missão na Igreja e na sociedade.
Tanto a família quanto a catequese tem uma missão em
comum: educar para o Amor,
transmitindo valores humanos e cristãos. Diante das
ameaças do mundo capitalista, é preciso não perder a esperança e abrir-se ao
diálogo, revendo nossos métodos para educar os filhos no lar.
A família deve
formar os filhos para a vida, de modo que cada um realize plenamente o seu dever
segundo a vocação recebida de Deus. De fato, a família que está aberta aos
valores do transcendente, que serve os irmãos na alegria, que realiza com
generosa fidelidade os seus deveres e tem consciência da sua participação
cotidiana no mistério da Cruz gloriosa de Cristo, torna-se o primeiro e o
melhor seminário da vocação à vida consagrada ao Reino de Deus.
O Documento da Conferência de Santo Domingo (cf. n. 214)
apresenta a identidade e a
missão da família através de quatro aspectos:
a) A missão da família é viver, crescer e aperfeiçoar-se
como comunidade de pessoas
chamadas a testemunhar a unidade por toda a vida (valor
unitivo).
b) Ser santuário da vida, serva da vida, conservando o
direito à vida como a base de todos os direitos humanos (valor procriativo).
Nela deve-se transmitir e educar para os valores autenticamente humanos e
cristãos.
c) Ser ‘célula primeira e vital da sociedade’. Por
natureza e vocação, a família deve ser
promotora do desenvolvimento, protagonista de uma nova
cultura que valorize a família.
d) Ser ‘Igreja doméstica’ que acolhe, vive, celebra e
anuncia a Palavra de Deus. Lugar
privilegiado para a “fazer catequese”, aprofundando e
dando razões para a fé, na vivência do discipulado de Jesus.
A família encontra hoje não poucos obstáculos, sobretudo
neste “momento histórico em que ela é vítima de muitas forças que buscam
destruí-la ou deformá-la” (Santo Domingo, n. 210). Deste modo, a catequese
precisa conhecer algumas pistas de ação para ajudar a família a encontrar a sua
missão:
a) Conhecer as diversas situações e a realidade de cada
catequizando.
b) Conscientizar as famílias para participação mais ativa
na Igreja, como incentivo e
testemunho para os seus filhos que estão caminhando na
catequese.
c) Por meio de ações conjuntas com a Pastoral Familiar,
oferecer esclarecimentos e
possibilidades de regularização às famílias em situações
irregulares (especialmente aos
amasiados que não têm impedimentos para casar na Igreja).
d) Não discriminar as famílias e crianças e não
abandoná-las por motivo algum. Acolher a todos, sem distinção,
independentemente de suas opções.
e) Oferecer às famílias em dificuldades apoio e
orientação, no diálogo.
f) Aos casais separados, prestar apoio e acolhida, com
especial atenção aos seus filhos.
g) Distinguir entre o mal e a pessoa. No dizer do papa
Paulo VI: “Jesus foi intransigente para com o mal, porém misericordioso para
com as pessoas”.
h) Distinguir com perspicácia as famílias que procuram a
Igreja não muito bem intencionada, querendo dar um jeitinho para receber os
sacramentos sem a devida preparação.
i) As situações delicadas que aparecem na catequese, levar
ao conhecimento do padre para descobrirem juntos as possíveis soluções. Depois
de averiguar os casos, dar os
encaminhamentos necessários, baseando sempre na verdade e
na caridade.
A família continua sendo muito importante para os planos
de Deus. Ela é uma instituição divina, sonhada por Deus e fruto da sua benigna
vontade. Ela não pode ficar desacreditada. Ela é dom de Deus, por isso merece
todo o nosso empenho e todo o nosso amor. Se a catequese não zela pela família,
como vai cuidar pastoralmente dos seus catequizandos? E se as famílias não se
interessam pela catequese, que futuro poderão dar a seus filhos no caminho da
justiça e da fé?
A parábola familiar do
Bom Samaritano
Conta-se que uma família ia descendo de Jerusalém a
Jericó, caminhando pelas estradas da história. De repente, uma quadrilha de
inimigos, chamada de “tempos modernos”, a atacou no caminho e foi roubando
todos os seus bens, a saber: a fé, a unidade, a fecundidade, a
indissolubilidade, o diálogo familiar e, por último, a santidade. Em seguida,
fugiram travestidos com novas roupas de modernidade. Aconteceu que, pela
estrada da história, passou um psicólogo, representante de uma das
escolas psicológicas, viu a família caída no chão e sentenciou? ‘Não disse? A
família não quer aceitar a teoria da liberdade sexual total e é uma grande
desmancha-prazer dos filhos e castradora dos seus desejos de felicidade. Então
só poderia acabar assim, rejeitada. E seguiu adiante.
Em seguida, passou um sociólogo, que também
representava certas teorias modernas, viu a família prostrada e também a
acusou: ‘Faz tempo que, atrás de minhas pesquisas, eu achava que a família
fosse uma instituição falida e que deveria acabar. Precisamos viver a era do
amar livre’. Dito isto, passou adiante. Veio depois a Catequese, a Boa
Samaritana, viu a família machucada, perdendo muito sangue e recordando as
atitudes de Jesus, teve pena e compaixão, inclinou-se sobre ela, tomou-a em
seus braços e levou-a para seu a hospedaria que se chama Comunidade
Cristã, a fim de que fosse tratada e recuperada.
(Extraída da Revista de Catequese, p. 48, n. 121,
Janeiro/2008, com adaptações).
O que essa parábola tem a nos ensinar? Quais os
ensinamentos para a catequese?
A família é o berço da
fé: Dois fatos que nos fazem pensar
Há um provérbio chinês que dizia: “Quem embala um berço,
está embalando o futuro do mundo”. Quem cultiva a educação cristã de uma
criança, desde o seu berço, desde sua infância, está promovendo a formação dos
homens e mulheres que irão renovar o mundo. Havia uma família de cristãos que
vivia na Polônia e procurava educar seus dois filhos na fé. Numa situação, a
mãe morreu prematuramente e o pai ficou com a responsabilidade de criar e
educar na fé os filhos, sobretudo o mais novo, após a morte do filho mais
velho. O berço da educação religiosa para o filho foi decisivo, pois mais tarde
este menino se tornou papa da Igreja, João Paulo II. Graças às orientações que
embalaram o berço da sua fé, ele pode mais tarde embalar o mundo inteiro com
palavras de paz.
Na Albânia, dominada por um consumismo cruel, um lar
corajoso conservou a fé e embalou de modo cristão o berço da pequenina Agnes.
Sua educação religiosa foi tão bela, que esta menina, agora já adulta, foi para
um grande país, a Índia e revelou pelo exemplo e testemunho, a beleza da fé
cristã e do seguimento de Jesus, como caminho verdade e vida. Seu trabalho foi
respeitado no mundo inteiro e o seu nome ficou gravado como o grande nome da
solidariedade cristã, Madre Tereza de Calcutá. Ela catequizou o mundo inteiro
para a prática da caridade e para a promoção da paz no mundo.
A família perde em qualidade quando não conta com a
valiosa ajuda da catequese na
educação da fé de crianças, jovens e adultos. E a
catequese não pode realizar um trabalho fecundo se não contar com o apoio e a
atenção da família. Hoje, verifica-se na realidade pastoral da Igreja que é
praticamente impossível imaginar uma catequese com jovens, adolescentes e
crianças sem um trabalho específico com os pais. Para ampliar a presença da
catequese nas famílias, é preciso, então, envolver a família através de
reuniões, celebrações e confraternizações, visitas às famílias, encontros nas
casas dos catequizandos e outras iniciativas que possam colaborar no cultivo de
valores e da responsabilidade da família na iniciação cristã de seus filhos.
Muitos acham que a catequese é só para os sacramentos.
Esta visão é muito reducionista. Também não se pode divorciar a catequese dos
sacramentos. A catequese está profundamente ligada à ação litúrgica e
sacramental da Igreja. Contudo, a celebração dos sacramentos sem uma preparação
séria (Catequese), não tem sentido algum. Sem a catequese os sacramentos se
reduzem a um mero ritualismo, o qual não será capaz de nos transformar, dar
vida e felicidade e fazer de nós autênticos cristãos.
Mística para a relação
Catequese-Família
Para cultivar a mística da catequese a serviço da família
é preciso:
• Que a família esteja no coração da catequese e que a
catequese esteja no coração da família.
• Acreditar que a salvação do mundo passa pela família (João
Paulo II). É a família que
salvará a família. Parafraseando o antigo princípio: “Fora
da família não há salvação”.
• Como bons samaritanos, curar as muitas chagas que o mundo
moderno causou no seio da família, tais como: infidelidades, separações,
aborto, perda da fé, etc.
• Devolver à família a missão de ser berço da vida e da fé.
• Recordar aos pais que a catequese começa em casa e que eles
são os primeiros e
permanentes catequistas de seus filhos.
• Que a família se sinta uma Igreja Doméstica, onde se
cultivam a leitura da Bíblia e a
meditação por meio dos Círculos Bíblicos, o terço e outras
devoções.
• Que os catequistas continuem a missão apostólica, visitando
os lares e levando a alegria da mensagem de fé.
• Que os pais estejam acompanhando o processo de educação e
amadurecimento da fé de seus filhos.
• Cultivar a oração da família em família: “família que reza
unida, permanece unida”.
• Participar da Eucaristia aos domingos, para celebrar com a
família eclesial o mistério pascal do Senhor.
• Valorizar as datas festivas: Semana da Família, Natal,
Páscoa, Dia das mães e dos pais.
• Incentivar as famílias cristãs para a formação de pequenos
grupos e comunidades. Pois não existe catequese sem comunidade. Esta é a fonte,
lugar e meta de toda a catequese. (cf. DGC 158).
Catequese e Encontro com
os Pais
O encontro com os pais é uma rica oportunidade para
interagir família e catequese. Os
encontros precisam ser melhor aproveitados. Muitos pais
não gostam de participar das “reuniões” porque dizem que é só bronca. Outros
lugares só fazem reunião para informar às famílias preços de camiseta,
lembrancinha, vela, etc.
Os encontros com os pais na Catequese precisam ser
oportunidade para catequizar a família, incentivando para a missão de oferecer
condições para o desenvolvimento da fé dos catequizandos.
Para que os pais tenham consciência da sua missão, é
importante que a catequese dê a
devida atenção aos encontros com as famílias e oferecendo
outros espaços para que pais e filhos estejam dentro do itinerário catequético.
Assim como os encontros com catequizandos, os encontros com os pais precisam
ser planejados, a fim de despertar a motivação dos pais e apontar caminhos
novos para a educação da fé na família.
Os pais têm necessidade de ouvir dos catequistas coisas
tão simples, mas muito importantes, tais como: o que é catequese? Qual a sua
finalidade? Qual a missão do catequista?
Muitos pais passaram pela catequese, mas ficaram
esclarecidos sobre as responsabilidades na educação da fé de seus filhos.
Os Dez mandamentos da família para a Catequese:
1. Não fecheis o coração! Não vos bastais a vós
próprios na educação da fé, mesmo que sejais os primeiros catequistas dos
vossos filhos. Os catequistas são vossos colaboradores na educação da fé, mas
não substitutos.
2. Amai a Catequese! A Catequese não é um
"ensino" avulso e desorganizado. É processo de educação da fé, feita
de modo ordenado e sistemático. É itinerário para amadurecer na vida cristã e
caminho para o discipulado. Velai pela assiduidade dos vossos filhos e pelo seu
acompanhamento, num estreito diálogo com os catequistas e com a comunidade de
fé.
3. Não exijais dos vossos filhos o que não sois capazes
de fazer. Não exijais dos vossos filhos, o que não sois capazes de dar.
Exigir do outro o que não se tem pra oferecer é negar a si mesmo enquanto
sujeito de fé.
4. Não queira transformar a catequese em curso para que
vossos filhos "saibam muitas coisas"! Mas alegrai-vos sempre, ao
verificardes que eles saboreiam a alegria de serem cristãos, e vão descobrindo,
com outros cristãos, a pessoa de Jesus, o Amigo por excelência, que convida a
seguir os seus passos no anúncio/testemunho da sua Palavra.
5. Demonstrem amor e cuidado pela família! A
primeira forma de catequese acontece sem palavras e sermões, no respeito à
dignidade de cada membro da família. O amor exige cuidado, como diz o poeta:
“Quem ama cuida”.
6. Vivei a comunhão na família e na Igreja! Não
sois uma ilha nem uma ostra. Sem diálogo não há espaço para a fé se
desenvolver. Sem a sociedade não podereis progredir e sem a Igreja não podereis
iluminar o mundo.
7. Sede discípulos e não expectadores! Não espereis
que a Catequese faça de vós e vossos filhos bons alunos ou expectadores. Ao
contrário, procurai que ela vos ajude a formar discípulos de Jesus, que O
seguem, em comunidade.
8. Saiba testemunhar a fé na participação da comunidade
e no sacramento da Eucaristia. Procurai pensar e viver de acordo com os
valores do Evangelho. Sabeis bem que o testemunho é a primeira forma de
evangelização. Deste modo, os filhos aceitarão melhor a proposta dos vossos
ideais e valores.
9. Procurem aprofundar a fé e ter um gosto pelo
conhecimentos das coisas de Deus! Como diz o célebre ditado bíblico: “Um
cego não pode guiar outro cego”. Quem não é esclarecido na fé não pode orientar
os outros a viver o compromisso cristão. Nem tem o direito de manipular a fé
segundo a sua ignorância. Também não cedais à tentação de achar que se pode
"mandar" os filhos à Catequese, para vos verdes livres deles ou para
fugirdes das vossas responsabilidades.
10. Orai e celebrai a vida em família! Rezar e
celebrar com toda a família, de modo a que a vossa fé seja vivida em comum na
pequena Igreja que é a família, se exprima na grande família que é a Igreja e
transforme a diversificada família humana que integra a sociedade.
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