Retirado do Texto-base CF 2012
A bíblia hebraica, já nas primeiras páginas, apresenta a origem do mal e do sofrimento, mas descartando qualquer possibilidade de participação divina. No decorrer da caminhada do povo hebreu, outros conceitos e outras justificativas foram sendo desenvolvidos a respeito de doença e do sofrimento, que passaram a ser vistos como consequência do pecado e da desobediência à Lei. Assim, a preservação da saúde, mais do que a cura da doença, é obtida pela observância da lei de Deus. Em uma passagem do Livro do Deuteronômio (cf. Dt 28,1-14), a bênção prometida para quem observa a lei de Deus é uma situação de bem-estar, saúde e prosperidade.
Porém, quem não a observa terá a maldição, a infelicidade, as doenças, a opressão (cf. Dt 28,15ss). A doença é vista como castigo de Deus ao pecado do ser humano, por isso, somente eliminando a causa da doença, ou seja, o pecado, pode-se obter novamente de Deus a saúde. Dessa forma, a preservação da saúde é obtida pela observância da Lei, enquanto a cura e o perdão dos pecados, como dois lados da mesma moeda, são obras de Deus que concedia aos que o pediam na prece.
Houve um tempo em que, entre os judeus piedosos, o fato de recorrer aos médicos era visto como falta de fé no Deus vivo e verdadeiro, pois a doença era compreendida como uma forma de punição por parte de Deus. É o que se percebe no segundo livro das Crônicas que denuncia o rei Asa por não ter recorrido ao Senhor, mas ter buscado médicos e morrido rapidamente (cf. 2Cr 16,12). Para certos problemas físicos, eram os sacerdotes que deviam ser consultados, visto que eles diagnosticavam os sintomas, orientando o tratamento para a pessoa, bem como os rituais de purificação a serem seguidos.
O livro do Eclesiástico considera a doença como o pior de todos os males (cf. 30,17), um mal que faz perder o sono (cf. 31,2). O povo judeu entendia que a falta de saúde estava intimamente ligada com a culpa, o pecado. A cura para as doenças deveria ser obtida, em primeiro lugar, pela oração (cf. 2Sm 12,15-23). Vários salmos são de doentes que suplicam a Deus a cura. Segundo Carlos Mesters, “cura e perdão dos pecados parecem duas faces de uma mesma moeda: ambos vêm de Deus mediante a prece. Porém, o Eclesiástico também propõe um novo modo de compreender a doença e, sobretudo, estimula um comportamento diferente na busca do restabelecimento da saúde. Se antes, recorrer à medicina e a seus profissionais era visto como falta de fé no Deus Altíssimo, o Eclesiástico considera os remédios, os médicos e a ciência como possibilidades de cura que vêm do próprio Deus e, consequentemente, devem ser buscados quando necessário”.
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