sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Os sete verbos da Parábola do Bom Samaritano

O samaritano é aquele que em face da necessidade do outro a assimila e se deixa transformar por ela. Não só porque cuida do ferido e lhe dá abrigo, mas porque o faz em prejuízo dos seus próprios planos iniciais. Tornar-se próximo compreende uma vulnerabilidade ativa, um aceitar tornar-se frágil nas mãos de outrem. O que essa dimensão revela é outra dimensão da fragi­lidade humana, uma dimensão ativa que se manifesta em ato de entrega ao projeto do outro, o que implica deixar-se nas mãos de quem se cuida. Essa atitude é revelada nos sete verbos desta parábola e indica um modo de ser diante do outro, que pode iluminar o engaja­mento da Igreja e dos cristãos no campo da saúde pública.
Ver - a primeira atitude do samaritano que descia pelo cami­nho foi enxergar a realidade. Ele não ignorou a presença de alguém caído, de alguém que teve seus direitos violentados e que se encontra à margem da estrada. Esta atitude, porém, não é suficiente. O ‘sacerdote’ e o ‘levita’ que haviam passa­do antes dele também ‘viram’, mas passaram adiante. “Bom samaritano é todo homem que se detém junto ao sofrimento de outro homem, seja qual for o sofrimento”.

Compadecer-se - a percepção da presença do caído condu­ziu o Samaritano à atitude de compaixão. Ele deixou-se afe­tar pela presença do violentado que jazia quase morto. A compaixão diante da fragilidade do outro desencadeou as demais atitudes tomadas pelo samaritano. “Bom samaritano é todo homem sensível ao sofrimento de outrem, o homem que se ‘comove’ diante da desgraça do próximo. Se Cristo, conhece­dor do íntimo do homem põe em realce esta comoção, quer dizer que ela é importante para todo o nosso modo de comportar-nos diante do sofrimento de outrem. É necessário, portanto cultivar em si próprio esta sensibilidade do coração, que se demonstra na compaixão por quem sofre. Por vezes esta compaixão acaba por ser a única ou a principal expressão do nosso amor e da nossa solidariedade com o homem que sofre”.

Aproximar-se - ao contrário dos que o antecederam, o via­jante estrangeiro aproximou-se do caído, foi ao seu encon­tro, não passou adiante. No homem assaltado, ferido, ne­cessitado de cuidado, reconheceu seu próximo, apesar das muitas diferenças entre ambos.

Curar - a presença do outro exige cuidado. A aproximação, a compaixão não são simplesmente sentimentos benevolen­tes voltados ao outro. Elas se tornam obra, se transformam em ação que lança mão dos elementos que tem disponíveis para salvar o outro.

Colocar no próprio animal - este passo também é significa­tivo. Ele colocou a serviço do outro os próprios bens. Não temeu disponibilizar ao desconhecido ferido tudo o que dis­punha: primeiro seu meio de transporte, depois o que trazia para seu autocuidado, dinheiro.

Levar à hospedaria - o samaritano não só viu, aproximou-se, curou, colocou no próprio animal, por fim, também mudou o seu itinerário, adaptando-se para poder atender aquele necessitado. E ainda mais: ele acabou mobilizando e envol­vendo outras pessoas e estruturas para não deixar morrer aquele que fora assaltado. Isso é muito importante, pois nem sempre conseguimos responder a todas as demandas, mas podemos mobilizar outras forças para atender e cui­dar de quem sofre. Trata-se de criar parcerias, ser referência e contrarreferência. “A Igreja em sua missão profética, é cha­mada a anunciar o Reino aos doentes e a todos os que sofrem, cuidando para que seus direitos sejam reconhecidos e respeita­dos, assim como a denunciar o pecado e suas raízes históricas, sociais, políticas e econômicas, que produzem males como doença e a morte”.

Cuidar - esse é o sétimo verbo e expressa o conjunto da intervenção do samaritano. Trata-se de um cuidado coleti­vo, que envolveu outros personagens, recursos financeiros, estruturas que o viajante não dispunha e o compromisso de retornar. Mesmo que ele tenha dado sequência à sua via­gem, ela não teve o mesmo fim, nem se limitou a cumprir os objetivos iniciais. A razão é que agora ela incluiu outra pessoa, um compromisso que não estava planejado no início da viagem, mas não pode mais ser ignorado. Cuidar passa a ser uma missão.

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