Jesus é o Bom Pastor (Jo 10,11-18) - Mesters, Lopes e
Orofino
por CEBI Publicações
Texto extraído do Livro "Raio-X da Vida - círculos bíblicos do Evangelho de João".
Coleção A Palavra na Vida 147/148 - Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e
Francisco Orofino. Publicações CEBI. Mais informações no endereçovendas@cebi.org.br
SITUANDO
Jesus é o Bom Pastor que veio para que todos tenham vida em
abundância! O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre
si: Jesus fala do pastor e dos assaltantes (Jo 10,1-5); Jesus é a porteira das
ovelhas (Jo 10,6-10); Jesus é o Bom Pastor (Jo 10,11-18).
Temos aqui um outro exemplo de como foi escrito o Evangelho
de João. O discurso de Jesus sobre o Bom Pastor (Jo 10, 1-18) é como um tijolo
inserido numa parede já pronta. Com ele a parede ficou mais forte e mais bonita.
Imediatamente antes, em Jo 9,40-41, João falava da cegueira dos fariseus. A
conclusão natural desta discussão sobre a cegueira está logo depois, em Jo
10,19-21. Ora, o discurso sobre o Bom Pastor foi inserido aqui, porque, como
veremos, ensina como tirar esse tipo de cegueira dos fariseus.
COMENTANDO
João 10,1-5: 1ª comparação: entrar pela
porteira e não por outro lugar.
Jesus inicia o discurso com a comparação da porteira: "Quem
não entra pela porteira mas sobe por outro lugar é ladrão e assaltante! Quem
entra pela porteira é o pastor das ovelhas!" Naquele tempo, os
pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Quando chegava a noite, levavam as
ovelhas para um grande redil ou curral comunitário, bem protegido contra
ladrões e lobos. Todos os pastores de uma mesma região levavam para lá o seu
rebanho. Um porteiro tomava conta de tudo durante a noite.
No dia seguinte, de manhã cedo, o pastor chegava, batia palmas na porteira e o
porteiro abria. O pastor entrava e chamava as ovelhas pelo nome. As ovelhas
reconheciam a voz do seu pastor, levantavam e saiam atrás dele para a pastagem.
As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas elas não se mexiam, pois era
uma voz estranha para elas. De vez em quando, aparecia o perigo de assalto.
Ladrões entravam por um atalho ou derrubavam a cerca do redil, feita de pedras
amontoadas, para roubar as ovelhas. Eles não entravam pela porteira, pois lá
havia o guarda que tomava conta.
João 10,6-10: 2ª comparação: Jesus é a
porteira.
Os ouvintes, os fariseus (Jo 9,40-41), não entenderam o que
significava "entrar pela porteira". Jesus então explicou: "Eu
sou a porteira das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e
assaltantes". De quem Jesus está falando nesta frase tão dura?
Provavelmente, se referia a líderes religiosos que arrastavam o povo atrás de
si, mas que não respondiam às esperanças do povo. Não estavam interessados no
bem do povo, mas sim no próprio bolso e nos próprios interesses. Enganavam o
povo e o deixavam na pior. Entrar pela porteira é o mesmo que agir como Jesus
agia. O critério básico para discernir quem é pastor e quem é assaltante, é a
defesa da vida das ovelhas. Jesus pede para o povo não
seguir as pessoas que se apresentam como pastor, mas não buscam a vida do povo.
É aqui que ele disse aquela frase que até hoje cantamos: "Eu vim para que
todos tenham vida, e a tenham em abundância!" Este é o critério!
João 10,11-15: 3ª comparação: Jesus é
o bom pastor.
Jesus muda a comparação. Antes, ele era a porteira das
ovelhas. Agora, é o pastor das ovelhas. Todo mundo sabia o
que era um pastor e como ele vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor
qualquer, mas sim o bom pastor! A imagem do bom
pastor vem do AT. Dizendo que é o Bom Pastor,
Jesus se apresenta como aquele que vem realizar as promessas dos profetas e as
esperanças do povo. Veja por exemplo a belíssima profecia de Ezequiel (Ez
34,11-16). Há dois pontos em que Jesus insiste: (1) Na defesa da vida das
ovelhas: o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
(2) No mútuo reconhecimento entre pastor e ovelhas: o Pastor conhece as
suas ovelhas e elas conhecem o pastor. Jesus diz que no povo há uma
percepção para saber quem é o bom pastor. Era isto que os fariseus
não aceitavam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e
ignorante (Jo 7,49; 9,34). Eles pensavam ter o olhar certo para discernir as
coisas de Deus. Na realidade eram cegos. O discurso sobre o Bom Pastor ensina
duas regras como curar este tipo bastante frequente de cegueira: 1) Prestar
muita atenção na reação das ovelhas, pois elas reconhecem a voz do pastor. 2)
Prestar muita atenção na atitude daquele que se diz pastor para ver se o
interesse dele é a vida das ovelhas, sim ou não, e se ele é capaz de dar a vida
pelas ovelhas. Certa vez, na festa da tomada de posse de um novo bispo, as
"ovelhas" colocaram uma faixa na porta da igreja que dizia: "As
ovelhas não conhecem o pastor!" As "ovelhas" não foram
consultadas. Advertência séria para quem nomeia os bispos.
João 10,16-18: A meta onde Jesus quer
chegar: um só rebanho e um só pastor.
Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não
são deste redil. Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem,
vão perceber que ele é o pastor e vão segui-lo. É a dimensão ecumênica
universal.
ALARGANDO
A Imagem do Pastor na Bíblia
Na Palestina, a sobrevivência do povo dependia em grande
parte da criação de cabras e ovelhas. A imagem do pastor guiando suas ovelhas
para as pastagens era conhecida por todos, como hoje todos conhecem a imagem do
motorista de ônibus. Era normal usar a imagem do pastor para indicar a função
de quem governava e conduzia o povo. Os profetas criticavam os reis por serem
maus pastores que não cuidavam do seu rebanho e não o conduziam para as
pastagens (Jr 2,8; 10,21; 23,1-2). Esta crítica dos maus pastores foi crescendo
na mesma medida em que, por culpa dos reis, o povo acabou sendo levado para o
cativeiro (Ez 34,1-10; Zc 11,4-17).
Diante da frustração sofrida com os desmandos dos maus
pastores, aparece a comparação com o verdadeiro pastor do povo, que é o próprio
Deus: "O Senhor é meu pastor e nada me falta" (Sl 23,1-6; Gn 48,15).
Os profetas esperam que, no futuro, Deus venha, ele mesmo, como pastor guiar o
seu rebanho (Is 40,11; Ez 34,11-16). E esperam que, desta vez, o povo saiba
reconhecer a voz do seu pastor: "Oxalá ouvísseis hoje a sua voz!" (Sl
95,7). Esperam que Deus venha como Juiz que fará o julgamento entre as ovelhas
do rebanho (Ez 34,17). Surgem o desejo e a esperança de que, um dia, Deus
suscite bons pastores e que o messias seja um bom pastor para o povo de Deus
(Jr 3,15; 23,4).
Jesus realiza esta esperança e se apresenta como o Bom
Pastor, diferente dos assaltantes que roubam o povo. Ele se apresenta também
com o Juiz do povo que, no final, fará o julgamento como um pastor que sabe
separar as ovelhas dos cabritos (Mt 25,31-46). Em Jesus se realiza a profecia
de Zacarias que diz que o bom pastor será perseguido pelos maus pastores,
incomodados pela denúncia que ele faz: "Vão bater no pastor e as ovelhas
se dispersarão!" (Zc 13,7). No fim, Jesus é tudo: é a porteira, é o pastor
e é o cordeiro!
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