As águas se dividem, as posições se definem (Mc 3, 20-35)
por CEBI PUBLICAÇÕES
SEGUIR JESUS E FORMAR COM ELE UMA NOVA FAMÍLIA
AS ÁGUAS SE DIVIDEM, AS POSIÇÕES SE DEFINEM
Texto extraído do livro "Caminhando com Jesus". Série A Palavra na
vida 182/183. De Carlos Mesters e Mercedes Lopes. Mais informações pelo
endereço vendas@cebi.org.br
Jesus voltou para casa. O domicílio dele agora é em
Cafarnaum. Já não mora mais com a família em Nazaré. Sabendo que Jesus estava
em casa, o povo foi ate lá. Juntou tanta gente que ele nem tinha tempo para
comer. Quando os parentes de Jesus souberam disso, disseram: "Ficou
louco!" Talvez, porque Jesus tinha saído fora do comportamento normal.
Talvez, porque comprometia o nome da família. Seja como for, os parentes
decidem levá-lo de volta para Nazaré. Sinal de que o relacionamento de Jesus
com a sua família estava estremecido. Isto deve ter sido fonte de muito
sofrimento, tanto para ele como para Maria, sua mãe. Mais adiante (Mc 3,31-35)
Marcos conta como foi o encontro dos
parentes com Jesus. Eles chegaram na casa onde Jesus estava. Provavelmente
tinham vindo de Nazaré. De lá até Cafarnaum são uns 40 quilômetros . Sua
mãe veio junto. Eles não podiam entrar na casa, porque havia gente demais na
entrada. Por isso mandaram um recado: Tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão
lá fora e te procuram! A reação de Jesus foi firme perguntando: Quem é minha
mãe, quem são meus irmãos? E ele mesmo responde apontando para a multidão que
estava ao redor: Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois todo aquele que faz a
vontade de Deus é meu irmão, minha irmã, minha mãe! Alargou a família! Jesus
não permite que a família o afaste da missão.
* A situação da família no tempo de Jesus
No antigo Israel, o clã, isto é, a grande família (a
comunidade), era a base da convivência social. Era a proteção das pequenas
famílias e das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da
tradição, a defesa da identidade. Era a maneira concreta do povo daquela época
encarnar o amor de Deus no amor ao
próximo. Defender o clã, a comunidade, era o mesmo que defender a Aliança. Na
Galiléia do tempo de Jesus, por causa do sistema romano, implantado durante os
longos governos de Herodes Magno (37
a .C. a 4
a .C.) e de seu filho Herodes Antipas (4 a .C. a 39 d.C.), tudo isto já
não existia mais, ou cada vez menos. O clã (comunidade) estava enfraquecendo.
Os impostos a serem pagos tanto ao governo como ao templo, o endividamento
crescente, a mentalidade individualista da ideologia helenista, as frequentes
ameaças de repressão violenta por parte dos romanos, a obrigação de acolher os
soldados e dar-lhes hospedagem, os problemas cada vez maiores de sobrevivência,
tudo isto levava as famílias a se fecharem sobre si mesmas e dentro das suas
próprias necessidades. Já não se praticava mais a hospitalidade, a partilha, a
comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos. Este fechamento era reforçado pela
religião da época. A observância das normas de pureza era fator de
marginalização de muita gente: mulheres, crianças, samaritanos, estrangeiros,
leprosos, possessos, publicanos, doentes, mutilados, paraplégicos. Em vez de
acolhida, partilha e comunhão, estas normas favoreciam a separação e a
exclusão.
Assim, tanto a conjuntura política, social e econômica como
a ideologia religiosa da época, tudo conspirava para o enfraquecimento dos
valores centrais do clã, da comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse
manifestar-se, novamente, na convivência comunitária do povo, as pessoas tinham
de ultrapassar os limites estreitos da pequena família e abrir-se de novo para
a grande família, para a Comunidade.
Jesus deu o exemplo. Quando seus parentes chegaram em
Cafarnaum e tentaram apoderar-se dele para levá-lo de volta para casa, ele
reagiu. Em vez de fechar-se na sua pequena família, ele alargou a família (Mc
3,33-35). Criou comunidade. Ele pedia o mesmo de todos que queriam segui-lo. As
famílias não podiam fechar-se. Os excluídos e os marginalizados deviam ser
acolhidos, novamente, dentro da convivência e, assim, sentir-se acolhidos por
Deus (cf Lc 14,12-14). Este era o caminho para realizar o objetivo da Lei que
dizia: "Entre vocês não pode haver pobres" (Dt 15,4). Como os grandes
profetas do passado, Jesus procura reforçar a vida comunitária nas aldeias da
Galiléia. Ele retoma o sentido profundo do clã, da família, da comunidade, como
expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao próximo.
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