Dos cadernos de formação
Eliminando as imagens distorcidas sobre Jesus
Durante muito tempo, a catequese deixou de questionar as
imagens de Deus presentes na cabeça das pessoas. Muitos acreditam num Jesus super-homem,
que não tem nada a ver conosco e que resolve as coisas num passe de mágica.
Facilmente a imagem que as crianças trazem, desde suas famílias, é de um Jesus
diferente delas, bem semelhante aos super-heróis, um ser espiritual, desligado
de todas as coisas do mundo, meio angélico, que resolve as coisas num segundo e
que não sente dor, com sentimentos totalmente diferentes, pensamentos
totalmente desvinculados do seu meio social. Há até quem diga que Jesus não sofreu
no caminho da cruz porque Ele era Deus e os pregos não doeram em suas mãos e
pés. Ora, Jesus não veio representar um teatro. Ele não fingiu
ser humano, nem camuflou sua divindade num rostinho humano,
à moda da sociedade que cria mutantes com poderes especiais, como vemos em
filmes e novelas.
Para salvar a divindade de Jesus muitos assassinam a sua
humanidade. E dizem facilmente:
“Jesus sabia disso e daquilo, Ele era Deus...”. Jesus
foi cem por cento Deus e cem por cento homem, diferente dos que acreditam que
ele tenha sido cinqüenta por cento Deus e cinqüenta por cento homem. Sua
humanidade não interferiu nem prejudicou sua divindade e vice-versa. Leonardo
Boff explica: "Tão humano assim, só poderia ser divino". Nesta linha,
o Documento de Aparecida também explicita: “Nossa fé proclama que ‘Jesus é o
rosto humano de Deus e o rosto divino do homem’” (DA 392).
Por detrás da concepção de que Jesus não foi verdadeiramente
homem, existe uma
Cristologia falsa, descomprometida e muito perigosa para a evangelização, principalmente na nossa realidade brasileira. Se cremos num Jesus diferente dos
humanos, podemos facilmente nos esquivar do seu seguimento, da sua proposta e
das suas atitudes e discursos; podemos facilmente dizer que Jesus fez o que
fez, disse o que disse, porque Ele era diferente, era somente Deus, um ser com
outra identidade que está acima de nós humanos. Podemos pensar que nós, pobres
seres humanos, não podemos nem pensar em ter atitudes como as que Ele teve
porque somos diferentes dele em
identidade. Somos humanos e ele não era. Concretamente, é
preciso deixar claro que Jesus pensava a vida como as pessoas pensam, brincava,
quando criança, como as crianças brincam; comia, dormia, tinha necessidades
biológicas e psicológicas como todas as pessoas têm, e nem por isso deixou de
ser Filho de Deus. Jesus foi normal. Somos nós que, muitas vezes, por
ignorância, distorcemos a sua imagem. Em Jesus tudo o que é autenticamente
humano aparece: a ira e alegria, bondade e dureza, amizade e indignação. Participou
de todos os nossos sentimentos e fatos comuns da vida como a
fome, sede, cansaço, frio e calor, a vida insegura e sem
teto, as lágrimas (Lc 19,41), a tristeza e o temor (Mt 4,1-11). É um homem que
experimenta a crise, a angústia, o desespero, a esperança... ao longo do viver.
Experimenta os limites do viver. Ama a vida, o mundo, as pessoas. Tem sentimentos
profundos: é fiel, tem senso de humor, é sensato e tranqüilo (Lc 20,20-26;
4,28-30), é sentimental (Lc 7,11-15) é emotivo (Jo 11,15-17). E firme e
agressivo(Mt 10,34; 11,12), justo e misericordioso. Viveu o pavor e a angústia
da morte violenta.
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