Dos cadernos de formação
A relação Catequese-Liturgia
A palavra liturgia vem da língua grega e é composta de dois
elementos: leitos, que quer
dizer público, e érgein, que significa fazer.
Juntando-se estes dois elementos pelo radical e acrescentando-lhes o sufixo
formador de substantivos, tem leit-o-erg-ia ou leitourgia. O primeiro elemento
leitos é derivado da palavra láos, que significa povo e o segundo se
refere ao substantivo érgon, que quer dizer obra, trabalho. Do
substantivo liturgia nasceu o termo liturgos (litourgos) - funcionário público,
- e o verbo litourgein, - exercer função pública. De láos (povo)
origina-se laico, laical, leigo. Portanto, liturgia significa “obra do povo”,
serviço comunitário (Cf. 2Cor. 9, 12; Hb 7,7.14).
Ao longo da história, muitas concepções revelam problemas na
interação entre catequese e liturgia. Vejamos algumas delas:
• A Catequese entendida como aula, doutrinação, ensino
teórico que deve primar pelo rigor e pela memorização de temas e citações.
• Uma catequese sacramentalista: voltada tão somente para a
recepção dos sacramentos.
• Imposição da fé e dos Sacramentos: a catequese foi imposta
muitas vezes em nome de um tradicionalismo que impunha a obrigação de cumprir
um preceito (desvinculado da vida).
• Durante muito tempo a catequese ficou restrita às
crianças, criando aquela concepção:
“catequese é coisa de criança”.
• Em diversas épocas, a catequese (Eucaristia e Crisma) não
levava à iniciação à fé e à vida eclesial, mas se tornava conclusão da
vida cristã, uma espécie de “formatura”.
• Uma catequese muito abstrata e teórica sem símbolos e sem
uma dimensão orante e
celebrativa.
Tudo isso dificultou o diálogo entre liturgia e catequese,
que começaram a ser vistas como duas realidades independentes. Dadas as
dificuldades, alguns desafios na interação catequese e liturgia emergem a cada
dia. Eles merecem atenção e disposição para poder mudar a realidade de forma
progressiva e sistemática:
1. Consolidar a ligação entre Fé e Vida, tanto na catequese
quanto nas celebrações litúrgicas;
2. Romper com a concepção reducionista de catequese para os
sacramentos;
3. Rever a metodologia usada na catequese, para que os
encontros sejam sempre celebrativos, orantes, simbólicos;
4. Re-pensar as estruturas físicas onde acontece a
catequese, para que se tornem espaços
propícios para celebrações;
5. Questionar os modismos litúrgicos e celebrações que
comunicam muito pouco do essencial da fé e que transformam a liturgia em
teatro, show ou espetáculo.
6. Buscar um novo itinerário para a Iniciação Cristã,
introduzindo o catequizando na vida da comunidade recuperando a riqueza do
catecumenato, que fica como horizonte para a catequese;
7. Celebrar em comunidade os momentos fortes e as datas
especiais do calendário litúrgico, envolvendo a comunidade, os catequizandos e
os pais;
8. Superar definitivamente o modelo tradicional de catequese
como doutrinação;
O papel da liturgia na história da salvação e na vida da
Igreja foi determinante para dar o sentido e o significado para a catequese. O
próprio Vaticano II, na Constituição sobre a Sagrada Liturgia trouxe uma
iluminação para a relação catequese-liturgia. Hoje, pode-se dizer que a
liturgia atua como fonte e ponto alto ao qual tende a catequese. E desta
afirmação derivam outras considerações. Vejamos:
* O centro da catequese é o Mistério de Cristo;
* O lugar de encontro com a pessoa e o Mistério de Cristo é
na Palavra de Deus, que tem lugar privilegiado na Liturgia;
* A liturgia é fonte da catequese (SC 5), porque também é
nela “que se tomam as leituras que são explicadas na homilia, e os salmos que
se cantam, as preces, as orações e hinos litúrgicos são penetrados do seu
espírito, e dela recebem seus significado as ações e os sinais” (SC 24);
* A importância do Ano Litúrgico, com seus tempos e festas,
como fonte de catequese.
* A catequese sistemática, conforme as suas exigências e
conforme o costume, se dá fora da liturgia.
A liturgia revela a presença de Jesus que vem a nós através
do alimento da Palavra: “O
Cristo está presente na palavra porque é ele que fala quando
na Igreja se lêem as Escrituras” (SC 7). Seria bastante viável uma formação
litúrgica para a escuta. Numa sociedade cada vez mais barulhenta e inundada de
vozes, o silêncio litúrgico se faz necessário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário