quinta-feira, 15 de novembro de 2012


Dos cadernos de formação

A relação Catequese-Liturgia
A palavra liturgia vem da língua grega e é composta de dois elementos: leitos, que quer
dizer público, e érgein, que significa fazer. Juntando-se estes dois elementos pelo radical e acrescentando-lhes o sufixo formador de substantivos, tem leit-o-erg-ia ou leitourgia. O primeiro elemento leitos é derivado da palavra láos, que significa povo e o segundo se refere ao substantivo érgon, que quer dizer obra, trabalho. Do substantivo liturgia nasceu o termo liturgos (litourgos) - funcionário público, - e o verbo litourgein, - exercer função pública. De láos (povo) origina-se laico, laical, leigo. Portanto, liturgia significa “obra do povo”, serviço comunitário (Cf. 2Cor. 9, 12; Hb 7,7.14).
Ao longo da história, muitas concepções revelam problemas na interação entre catequese e liturgia. Vejamos algumas delas:
• A Catequese entendida como aula, doutrinação, ensino teórico que deve primar pelo rigor e pela memorização de temas e citações.
• Uma catequese sacramentalista: voltada tão somente para a recepção dos sacramentos.
• Imposição da fé e dos Sacramentos: a catequese foi imposta muitas vezes em nome de um tradicionalismo que impunha a obrigação de cumprir um preceito (desvinculado da vida).
• Durante muito tempo a catequese ficou restrita às crianças, criando aquela concepção:
“catequese é coisa de criança”.
• Em diversas épocas, a catequese (Eucaristia e Crisma) não levava à iniciação à fé e à vida eclesial, mas se tornava conclusão da vida cristã, uma espécie de “formatura”.
• Uma catequese muito abstrata e teórica sem símbolos e sem uma dimensão orante e
celebrativa.
Tudo isso dificultou o diálogo entre liturgia e catequese, que começaram a ser vistas como duas realidades independentes. Dadas as dificuldades, alguns desafios na interação catequese e liturgia emergem a cada dia. Eles merecem atenção e disposição para poder mudar a realidade de forma progressiva e sistemática:
1. Consolidar a ligação entre Fé e Vida, tanto na catequese quanto nas celebrações litúrgicas;
2. Romper com a concepção reducionista de catequese para os sacramentos;
3. Rever a metodologia usada na catequese, para que os encontros sejam sempre celebrativos, orantes, simbólicos;
4. Re-pensar as estruturas físicas onde acontece a catequese, para que se tornem espaços
propícios para celebrações;
5. Questionar os modismos litúrgicos e celebrações que comunicam muito pouco do essencial da fé e que transformam a liturgia em teatro, show ou espetáculo.
6. Buscar um novo itinerário para a Iniciação Cristã, introduzindo o catequizando na vida da comunidade recuperando a riqueza do catecumenato, que fica como horizonte para a catequese;
7. Celebrar em comunidade os momentos fortes e as datas especiais do calendário litúrgico, envolvendo a comunidade, os catequizandos e os pais;
8. Superar definitivamente o modelo tradicional de catequese como doutrinação;
O papel da liturgia na história da salvação e na vida da Igreja foi determinante para dar o sentido e o significado para a catequese. O próprio Vaticano II, na Constituição sobre a Sagrada Liturgia trouxe uma iluminação para a relação catequese-liturgia. Hoje, pode-se dizer que a liturgia atua como fonte e ponto alto ao qual tende a catequese. E desta afirmação derivam outras considerações. Vejamos:
* O centro da catequese é o Mistério de Cristo;
* O lugar de encontro com a pessoa e o Mistério de Cristo é na Palavra de Deus, que tem lugar privilegiado na Liturgia;
* A liturgia é fonte da catequese (SC 5), porque também é nela “que se tomam as leituras que são explicadas na homilia, e os salmos que se cantam, as preces, as orações e hinos litúrgicos são penetrados do seu espírito, e dela recebem seus significado as ações e os sinais” (SC 24);
* A importância do Ano Litúrgico, com seus tempos e festas, como fonte de catequese.
* A catequese sistemática, conforme as suas exigências e conforme o costume, se dá fora da liturgia.
A liturgia revela a presença de Jesus que vem a nós através do alimento da Palavra: “O
Cristo está presente na palavra porque é ele que fala quando na Igreja se lêem as Escrituras” (SC 7). Seria bastante viável uma formação litúrgica para a escuta. Numa sociedade cada vez mais barulhenta e inundada de vozes, o silêncio litúrgico se faz necessário.

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