A festa do Batismo do Senhor é uma festa que põe em relevo a vida cristã antes de mais nada como missionária. A circunstancia mesma em que o Evangelho situa o Batismo de Jesus ressalta este aspecto. Antes de iniciar sua vida pública, Jesus deixa-se batizar por João, no rio Jordão. É sobre esse gesto, carregado de significados, que nos detemos, neste início de um novo Tempo Litúrgico em nossa Igreja.
Não é por acaso que Jesus se deixa batizar no início de sua vida pública. Com esse gesto, Ele marca uma nova etapa na Sua própria vida, deixando para trás Nazaré e sua família, e, partindo para viver em plenitude a missão que lhe foi confiada pelo Pai. Viver esta missão, que também é dada a cada um de nós, deve ser o centro da vida de todos os cristãos. Por isso, nosso batismo deve representar a aceitação dessa missão e a nossa intenção em vivê-la em plenitude, como o próprio Cristo viveu.
Também por isso, o batismo deve ser vivido com a graça própria dos sacramentos: sinal de Deus para um mundo conturbado e desejoso de paz.
Na cena do batismo de Jesus, vemos, em seu final, o Espírito de Deus aparecer sobre forma de uma pomba e pousar sobre o Cristo. Dos céus, uma voz disse: "Este é o meu Filho bem amado, no qual pus todo o meu contentamento." (Lc 3,
22) Com esse gesto, Deus nos mostra, não só o Seu amor especial por Jesus Cristo, mas a presença de Seu Espírito sobre Ele, acompanhando-O em Sua missão.
Em nosso batismo, também recebemos o Espírito Santo, espírito de ânimo, de fortaleza e de sabedoria que deve ser o nosso companheiro de Missão. É Ele que nos moverá, que colocará palavras em nossas bocas e que nos fará ser sinais de Deus em nosso tempo. Por isso, viver o batismo é viver a graça de possuir o sopro desse Espírito dentro de nós, e saber que, somente com Ele, por Ele e n´Ele poderemos ser verdadeiros filhos de Deus.
Neste momento que vivemos em nosso país, a celebração da Festa do Batismo do Senhor cobra uma especial importância. Estamos entrando em uma nova etapa, em um novo estilo de cidadania brasileira. Iniciamos um período em que as prioridades passam a ser as necessidades mais fundamentais da vida de um povo pobre e oprimido. Não são mais as grandes diretrizes do mercado financeiro que irão reger a vida da nação. Mas sim as necessidades mais básicas e simples do mais humilde dos cidadãos brasileiros.
A prova é que o novo governo traçou como prioridade um o combate à fome. E conclamou toda a sociedade a entrar nesse combate que impede o acesso de tantos a uma vida humana digna desse nome. Para que o combate à fome seja bem sucedido, será necessário não apenas o concurso de todos em ações concretas e eficazes, mas também uma conversão de estilo de vida, mais austero, mais sóbrio, com menos desperdício e mais simplicidade.
Um Brasil onde todos possam fazer três refeições ao dia e, portanto, ser bem nutridos, não pode ser um Brasil onde uns poucos se empanturram com o supérfluo que falta a muitos. Deve, pelo contrário, ser um país no qual aquilo de que poucos têm o direito de desfrutar se transforme em bem comum e partilhado por todos.
A festa do Batismo do Senhor, portanto, nos recorda que ser batizado não é apenas crer em verdades de fé e ter práticas piedosas e religiosas de vida. Mas é sobretudo assumir como sua a missão de Jesus, confirmada pelo Pai e pelo Espírito Santo: libertar os pobres, devolver a vista aos cegos, fazer os coxos andarem, libertar os cativos, fazer com que a justiça e o direito jorrem generosos para todos.
No Brasil passado a limpo pela vitória da democracia e pela ascensão à Presidência da República de um operário que conheceu a fome e a pobreza significará assumir como prioridade sua, em sua vida, o combate à fome e à miséria e a luta diuturna para fazer de cada cidadão brasileiro alguém vivo e plenamente capaz de ocupar seu espaço no mundo.
Se assim vivermos nosso Batismo, estaremos realmente sendo servidores da missão de Cristo. E ouviremos do Pai a consoladora confirmação de que somos seus filhos muito amados. E sentiremos o Espírito movendo-nos e dando-nos força para realizar proezas que pareciam impossíveis, mas que serão colocadas ao nosso alcance porque as realizaremos juntamente com Jesus.
Maria Clara Lucchetti Bingemer
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