Publicado no CEBI
A missão é o testemunho do amor misericordioso - José
Raimundo Oliva
O evangelho de Marcos originalmente terminava em Mc 16,8 com
o anúncio do anjo às mulheres, dizendo que Jesus ressuscitara e precedia os
discípulos na Galileia. Provavelmente no segundo século, a Igreja, já
estruturada, julgou inconveniente a falta das narrativas das aparições do
Ressuscitado neste evangelho. Foram, então, acrescentadas três narrativas de
aparições, que são resumos das narrativas de aparições dos outros evangelhos,
particularmente de Lucas e João.
Nesta elaboração tardia, tipicamente institucional, a fala
atribuída a Jesus, após as três aparições, vai no sentido de afirmar o poder
excludente da Igreja, na qual a profissão de fé seguida do batismo já estava
consagrada como caminho único e absoluto da
salvação. Também ficam afirmados poderes excepcionais conferidos ao crente,
como sinais da sua fé, o que contraria a realidade da simplicidade da fé a ser
vivida no dia a dia pelos comuns dos mortais.
Com uma visão amadurecida, compreende-se que não cabe à
missão impor, condenar ou praticar ações espetaculares. A missão é o testemunho
do amor misericordioso, a valorização e o cultivo das manifestações de vida
encontradas nas diversificadas comunidades, vendo nelas o sinal da presença de
Deus entre os povos, sem exclusões.
Os últimos versículos fazem alusão à ascensão aos céus,
conforme narrada por Lucas em seu evangelho e mais desenvolvida nos Atos dos
Apóstolos (primeira leitura), com um sumário de missão. A exaltação do
Ressuscitado retirado da terra e glorificado no céu (segunda leitura) foi
resultado da influência do messianismo escatológico nas mentes dos discípulos
de origem no judaísmo.
Esta visão, que relegou a segundo plano a revelação e a
comunicação de Deus na vida e no testemunho de amor do Jesus histórico,
influenciou durante séculos a teologia, a espiritualidade e a pastoral da
Igreja, remetendo a fé em Jesus a uma recompensa na vida gloriosa futura e
celestial. Hoje, resgatando-se as memórias de Jesus de Nazaré, na sua humanidade
plena, a fé na sua presença, vivo, nas comunidades nos move ao alegre empenho
em construir um mundo novo solidário e fraterno, em que todos se unam em torno
do projeto da vida plena para
todos, sem restrições.
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